Copa do Mundo: Onde estão os jogadores da China?
Política e esportes são temas inseparáveis. A China, no entanto, ainda é um retardatário quando o assunto é futebol. O gigante asiático é um dos grandes ausentes da edição deste ano da Copa do Mundo, que acontece no Catar a partir do próximo dia 20.
Em relatório especial, o BCA Research lembra que ainda nos anos 1950, o líder revolucionário Mao Tsé Tung tinha como objetivo desenvolver atletas chineses que pudessem competir contra o Ocidente em eventos internacionais. “A estratégia era para mostrar a crescente força nacional do país”, comenta o estrategista-chefe Marko Papic.
Sete décadas depois, assim como nas arenas geopolíticas e econômicas, a China compete frente a frente com os Estados Unidos no ranking geral de medalhas nos Jogos Olímpicos. Porém nos gramados e com a bola em campo, o país asiático ainda deixa a desejar.
“A falta de conquistas da seleção chinesa é surpreendente, considerando a estatura da nação em outros esportes”, comenta o estrategista. Nem mesmo a classificação da China para uma Copa do Mundo parece provável no futuro próximo. Quanto mais, então, vencer o torneio.
Copa do Mundo e o sonho chinês
Trata-se de um sonho do atual líder chinês. O presidente Xi Jinping é um conhecido fã de futebol e, em 2011, disse a repórteres que tinha três sonhos para o esporte na China: sediar a Copa do Mundo, conseguir a classificação e vencer o torneio – tudo em 2022!
“Embora o primeiro objetivo possa se materializar nas próximas décadas, o futuro do futebol chinês é sombrio”, avalia Papic. No entanto, o estrategista observa que não foi por falta de tentativa.
Em 2016, a China lançou um plano de médio prazo para se tornar uma superpotência do futebol até 2035. “Incentivado pelo Partido Comunista, o setor privado chinês gastou enormes recursos tentando tornar o futebol chinês tão competitivo quanto às principais ligas europeias”, lembra a consultoria canadense.
À época, as equipes da Superliga Chinesa (CSL) começaram a atrair treinadores estrangeiros e jogadores de calibre internacional, oferecendo altos salários. No entanto, as coisas mudaram nos últimos anos. Muitos dos melhores jogadores estrangeiros foram embora e alguns tradicionais clubes de futebol do país ficaram com problemas financeiros
O estrategista do BCA Research explica que essa mudança reflete o objetivo do presidente Xi de reafirmar o controle estatal sobre a economia, reduzir a desigualdade de renda e sanar a alavancagem financeira que tornou o setor empresarial chinês o mais endividado do planeta. “O futebol não ficou imune à ‘Prosperidade Comum’ do presidente Xi”, diz.
Ele se refere ao conceito trazido ao centro do palco pelo líder chinês no ano passado, quando a China procurou renovar o modelo de crescimento econômico fomentando a demanda doméstica e a alta tecnologia. Grosso modo, o termo refere-se a um programa abrangente do governo, que visa promover a igualdade socioeconômica.
“Para o presidente Xi, a queda da liga chinesa é um sinal de advertência sobre como tentar curar os excessos da economia chinesa pode comprometer as ambições globais do próprio país”, conclui Papic. Portanto, o esquema investimento excessivo e prosperidade comum na China pode ser decepcionante não apenas no futebol.
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