Copa do Mundo não desvia atenção dos mercados
A Copa do Mundo de Futebol correndo em horário comercial enquanto os mercados financeiros funcionam normalmente não alivia a tensão do investidor com o início de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China nem com a maior volatilidade nos ativos de risco após ficar claro que a taxa de juros norte-americana vai subir quatro vezes neste ano.
Os jogos na Rússia até podem oferecer alguns de momentos de distração, com algumas surpresas no mercado surgindo bem na hora mais esperada da partida. Mas isso não deve suavizar a preocupação nos negócios. O cenário global continua sendo de muito estresse e a escalada dos conflitos comerciais, com Pequim retaliando Washington, pesam no exterior.
Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem perdas aceleradas nesta manhã, prejudicando a abertura do pregão na Europa, após uma sessão de queda na Ásia. Contudo, o feriado na China hoje atenua a pressão negativa, mas o aumento do confronto entre as duas maiores economias do mundo inibem o apetite por risco.
Com isso, o dólar ganha terreno das moedas rivais. O euro é pressionado pela política de imigração na Europa, que ameaça a coalizão do partido da chanceler alemã Angela Merkel, ao passo que a libra esterlina cai antes de mais um debate no Parlamento britânico sobre o Brexit. Nas commodities, o petróleo tem queda firme, antes da reunião do cartel da Opep.
Os países exportadores de petróleo discutem na sexta-feira sobre os limite de produção da commodity, em um dos eventos de destaque da semana. Antes, na quarta-feira, merece atenção o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. No dia seguinte, destaque para a decisão de política monetária do BC da Inglaterra (BoE).
Desde a reunião do Fed na semana passada, ficou evidente que o ritmo mais rápido de elevação dos juros norte-americanos intensificou o fluxo global de recursos para ativos mais seguros. Com isso, os países emergentes são os mais afetados, com a saída de capital oscilando ao sabor das especificidades internas.
No Brasil, são os temores de instabilidade fiscal e eleitoral que vêm pesando nos negócios. O fim do avanço na agenda de reformas no Congresso e a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser solto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em julgamento na quarta-feira, adicionam variáveis ao cenário de risco local.
Por ora, o Banco Central local cumpriu a missão de acalmar o mercado de câmbio, deslocando o foco dos investidores para a taxa básica de juros. Às vésperas da reunião de junho, sobram dúvidas sobre qual será a estratégia de política monetária, já que o presidente Ilan Goldfajn disse que não vai subir a Selic para acalmar o dólar.
Para essa semana, o BC prometeu ofertar US$ 10 bilhões em swap cambial, sendo que esse montante pode ser ajustado a depender das condições do mercado. Na semana passada, Ilan cumpriu a promessa de colocar US$ 24,5 bilhões desses contratos e segue sem restrições em exceder tal estoque do volume máximo de US$ 155 bilhões, atingido em meados de 2015.
Nesta semana, as atenções no Brasil estão concentradas na decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom), na quarta-feira. Apesar de o mercado financeiro apostar um aumento na taxa Selic neste mês, economistas são unânimes em avaliar que ainda é cedo para deslocar o juro básico para cima.
A expectativa é de que o BC seja pragmático, mantendo a Selic em 6,50% até que a escalada do dólar ameace o comportamento dos preços no varejo e as expectativas de inflação. Por ora, a percepção é de que o repasse cambial tem acontecido nos preços ao atacado, como mostram os IGPs, mas ainda sem chegar ao consumidor final.
Porém, a prévia do índice oficial de preços ao consumidor brasileiro (IPCA-15) já deve vir bem mais salgada neste mês, com uma taxa superior a 1% na comparação com maio. O resultado será conhecido na quinta-feira e o indicador deve mostrar o primeiro impacto da greve dos caminhoneiros na inflação. Ainda assim, tal choque dificilmente será permanente.
Já na atividade, os números de abril mostraram sinais de recuperação bem moderada. Mas essa dinâmica gradual deve sentido um impacto negativo nos meses seguintes, por causa da paralisação nas estradas, reforçando a tendência de queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2018.
O relatório Focus (8h25) nesta segunda-feira deve trazer uma nova rodada de deterioração nas estimativas do mercado financeiro para o PIB, o IPCA e a taxa de câmbio neste e no próximo ano. Antes, sai mais uma prévia de junho do IPC-S (8h) e, depois, é a vez dos números semanais da balança comercial (15h).
No exterior, a agenda econômica está bem mais fraca nesta semana e traz como destaque apenas dados de atividade nos EUA e na zona do euro em junho, a partir de quinta-feira. Hoje, saem apenas dados do setor imobiliário norte-americano em maio (11h).