Copa do Mundo: Catar realiza o evento mais caro da história em meio a muitas controvérsias
Copa do Mundo não é só sobre vencer. O evento é o mais assistido do mundo – esportivo ou não.
Ainda assim, algumas narrativas que permeiam o torneio também merecem a atenção do mercado financeiro. Em relatório especial, a BCA Research levantou alguns temas que devem ficar no radar dos investidores. “Alguns são relevantes para investimentos; outros são geopoliticamente importantes”, comenta o estrategista-chefe Marko Papic.
A primeira narrativa parte do critério dos “donos da casa”. Porém, a avaliação geral foi ordenada a partir das equipes com classificação mais baixa para as mais bem classificadas, sem favoritos.
A Copa mais cara da história
Afinal, o Catar não poupou recursos na preparação para a edição deste ano da Copa do Mundo.
O país gastou um recorde de US$ 200 bilhões e escalou mais de 30 mil imigrantes para construir seis novos estádios – todos equipados com ar condicionado. O funcionamento do equipamento é fundamental para que os jogadores durem um jogo inteiro no calor do deserto.
Aliás, as altas temperaturas estão entre os principais motivos do torneio ocorrer em outro período que não em julho, quando a estação local é o verão. Além disso, os custos também estão associados a obras para infraestrutura de hotéis, estradas e espaços de lazer para o público em geral.
Porém, os visitantes ocidentais tendem a se sentir dissuadidos pela cultura local para comparecer aos jogos. O álcool, por exemplo, só estará disponível para venda e consumo em áreas designadas após os jogos.
“Com isso, apesar de ser a Copa do Mundo mais cara já registrada, também será a com menor público desde 1990”, resume o estrategista.
Para se ter uma ideia, a Copa do Mundo no Brasil era, até então, a mais cara. O torneio no país em 2014 custou cerca de US$ 15 bilhões, devido à falta de infraestrutura.
Ainda assim, a cifra investida no Catar, que agora lidera o posto, é quase 15 vezes o montante investido por aqui. Em 2002, quando Japão e Coreia do Sul sediaram a Copa do Mundo juntos, os gastos foram de US$ 7 bilhões.
Objetivos do Catar com a Copa
Para o BCA, o Catar tem três objetivos ao realizar o principal evento de futebol do mundo: buscar colocar o país no mapa mundial; elevar o Investimento Estrangeiro Direto (IED) para impulsionar o crescimento econômico e promover a indústria de turismo.
“Infelizmente para a nação do Golfo, nenhum desses objetivos provavelmente será alcançado”, pondera Papic. Para ele, a atenção global só trouxe à tona questões negativas ao país, como más condições de trabalho para migrantes e preocupações ambientais sobre a nova infraestrutura do Catar.
“O histórico de crescimento econômico e IED após uma Copa do Mundo também é ruim”, ressalta o estrategista. Ele cita vários estudos que mostram que os custos de infraestrutura para sediar o evento superam, em muito, os benefícios.
Gás é melhor que Copa do Mundo
Além disso, ter sucesso em uma candidatura à Copa do Mundo tende a ser apenas um reflexo de que o país alcançou certo nível de influência geopolítica e econômica. Contudo, a oferta vencedora do Catar para sediar a Copa do Mundo foi marcada por controvérsias.
Em 2020, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos alegou que os principais funcionários da Fifa foram subornados para votar na Rússia, último anfitrião, e no Catar. Outra investigação de suborno e lavagem de dinheiro, alguns anos depois, levou à renúncia do ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter.
“No Catar nenhum objetivo deve se materializar por causa de todas essas controvérsias”, conclui Papic.
Embora a nação do Golfo não tenha recebido nada além de críticas por causa da condução da Copa do Mundo, vários líderes ocidentais viajaram para o Catar em busca de acordos de petróleo e gás para amenizar a crise de energia em meio à guerra na Ucrânia.
“No fim, o Catar seria mais bem servido usando seus recursos energéticos do que a Copa do Mundo para exercer influência. Em última análise, o gás natural é melhor alavancagem do que uma Copa do Mundo”, conclui o estrategista.
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