COP 30 e o protagonismo do Brasil na agenda de sustentabilidade

A realização da COP 30, em novembro em Belém, do Pará, coloca o Brasil no centro das discussões globais sobre mudanças climáticas e sustentabilidade. O país terá a oportunidade e a responsabilidade de reafirmar sua liderança na agenda ambiental, dando continuidade ao papel de destaque que desempenhou na Eco-92 e na Rio+20.
Temas como a renovação da matriz energética e a descarbonização da economia deverão ganhar holofotes nas negociações multilaterais, e a postura propositiva do Brasil poderá servir de referência para outras nações.
O Acordo de Paris, firmado em 2015, estabelece que os países signatários devem conter o aumento da temperatura média global em até 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, evitando consequências climáticas catastróficas. Se essa meta não for cumprida e a temperatura subir 3,5°C, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) prevê a extinção de até 70% das espécies atualmente existentes.
Para evitar esse cenário, será necessária uma redução global de 43% das emissões de gases de efeito estufa até 2030, tomando como base os níveis de 2005.
Em 2023, o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas de CO₂, um dos principais gases do efeito estufa. Apesar da queda de 12% em relação a 2022 – a maior redução percentual em 15 anos, segundo o Observatório do Clima –, o país ainda ocupa a quinta posição no ranking global de emissores, atrás apenas de China, Estados Unidos, Índia e Rússia.
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Com condições naturais favoráveis, o Brasil tem um grande potencial para liderar a transição energética sustentável e inclusiva. As emissões per capita no país são projetadas em 2,4 toneladas de CO₂ equivalente (tCO₂eq) por habitante, significativamente abaixo dos 5,4 tCO₂ da Europa e dos 13,8 tCO₂ dos Estados Unidos.
A Agenda Brasil +Sustentável, lançada em 2022 e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, já listou mais de 800 iniciativas para ampliar o uso de energias renováveis, reduzir resíduos, fortalecer a resiliência climática e preservar florestas e biodiversidade.
Como exemplo de ações setoriais na agenda de sustentabilidade, o governo instituiu o Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (ABC) em 2010. Atualizado em 2021 como Plano ABC+, visa reduzir a emissão de carbono equivalente a 1,1 bilhão de toneladas no setor até 2030. A iniciativa promove uma agropecuária sustentável e resiliente, garantindo a oferta de alimentos, grãos, fibras e bioenergia com conservação dos recursos naturais, mesmo diante das incertezas climáticas.
No entanto, os desafios climáticos continuam a crescer. Em 2024, a temperatura média anual no Brasil atingiu 25,02°C, o maior valor já registrado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) desde o início das medições em 1961. Esse número representa um aumento de 0,79°C em relação à média histórica (1991-2020), superando o recorde anterior de 2023, de 24,92°C. Este dado é mais uma prova de que serão necessários esforços substanciais para prevenir catástrofes climáticas até o final do século.
Diante deste contexto preocupante, o Observatório do Clima elaborou cinco pilares principais para o Brasil atingir sua meta de emissões: a redução do desmatamento a quase zero, em todo o país (limitado a um máximo de 100 mil ha/ano, a partir de 2030), a recuperação do passivo do Código Florestal de 21 milhões de ha de cobertura vegetal, o sequestro maciço de carbono no solo com a expansão de práticas agropecuárias de baixa emissão, a transição energética reduzindo combustíveis fósseis e a melhoria da gestão de resíduos.
No setor de energia, as medidas propostas incluem a construção de 4.000 km de corredores de transporte público (BRT), a substituição completa da gasolina por biocombustíveis e eletricidade em veículos de passeio e a ampliação da capacidade de geração de energia renovável, com 70 GW de eólica e 95 GW de solar. Já na gestão de resíduos, a universalização do saneamento básico e o fim dos lixões são vistos como ações prioritárias.
Nos próximos meses, novas análises e propostas deverão ser debatidas, evidenciando o engajamento de diversos setores na transição para uma economia de baixo carbono. Com clareza de propósito e responsabilidade crescente, o Brasil tem a oportunidade de reafirmar seu protagonismo global na luta contra as mudanças climáticas e inspirar outras nações rumo a um futuro mais sustentável.
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