Política

Coordenador do plano de emergência diz que não foi informado de problemas em barragem

05 jul 2019, 12:41 - atualizado em 05 jul 2019, 12:42
Rogério Correia
Rogério Correia  destaca que a vale entregou o laudo laudo de estabilidade da barragem, quatro meses antes do rompimento de brumadinho (Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados)

O coordenador do plano de ação de emergência de 13 barragens da Vale na bacia do rio Paraopeba, Marco Conegundes, disse que não foi informado de problemas na barragem da Vale que se rompeu em janeiro. Era dele a missão de acionar as sirenes para alertar a população e os funcionários da mineradora em caso de risco de rompimento de barragem.

Conegundes, que foi ouvido na CPI de Brumadinho nesta quinta-feira (4), negou que as sirenes tenham sido destruídas com a lama de rejeitos da mineração, contou que o sistema de alerta não é automático e explicou porque não acionou previamente o plano de emergência.

“Para o sistema de alerta ser ‘startado’, tem que ser identificada uma anomalia pela equipe operacional da geotecnia. Identificando uma anomalia, o coordenador, em conjunto com essa equipe técnica, faz a classificação e, caso ela atinja 10 pontos da matriz de classificação, é ‘startada’ a condição de emergência de nível 1. E isso não ocorreu. Eu não recebi nenhum comunicado de nenhuma emergência, de nenhuma anomalia naquela estrutura”, informou.

Conegundes contou que, no ano passado, foram realizadas duas simulações de emergência em Brumadinho. Ele rebateu outros funcionários da Vale que, em depoimentos à CPI, disseram que só se salvaram por terem optado por uma rota oposta à treinada nos simulados.

“Das 200 pessoas que foram resgatadas à tarde, pouco mais de duas horas do rompimento da estrutura, a maioria utilizou a rota de fuga conforme foi feito no simulado. Teve um segundo grupo que optou por seguir um caminho não previsto na rota de fuga e foi necessário utilizar equipamentos para a gente abrir para o Corpo de Bombeiros chegar e resgatá-los com a ajuda de veículos. Eles ficaram ilhados em um ponto”, disse.

Marco Conegundes é funcionário da Vale há 30 anos, mas está afastado das funções desde fevereiro por recomendação do Ministério Público.

A CPI de Brumadinho também deveria ter ouvido Denis Rafael Valentin, engenheiro da empresa alemã Tüv Süd. Porém, ele faltou à reunião amparado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

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Falta de colaboração

O relator da CPI, deputado Rogério Correia (PT-MG), voltou a se queixar da falta de colaboração da empresa que deu o laudo de estabilidade da barragem, quatro meses antes do rompimento que matou 270 pessoas em janeiro.

“Os que falaram nada esclareceram e os que tinham muito a esclarecer não vieram aqui ou ficaram calados. Estivemos na embaixada alemã e solicitamos o apoio no sentido de que a Tüv Süd mudasse a postura, mas infelizmente até agora nada. A Tüv Süd ja foi indiciada pela CPI do Senado e, pelo visto, será aqui também diante dessa ausência de colaboração”, disse Correia.

Outros dois engenheiros de empresas que fizeram inspeções mais antigas na barragem de Brumadinho negaram problemas na estrutura. Ana Moreira Yoda, que inspecionou a barragem pela empresa Tractebel em 2017 e no início do ano passado, disse que ainda é uma “angústia” não saber os reais motivos do rompimento.

Joaquim Pimenta Ávila fez inspeções entre 2002 e 2015 e garantiu que, naquele período, todos os indicadores de estabilidade estavam normais. No entanto, o engenheiro reclamou de ter sido afastado das inspeções em Brumadinho logo após a tragédia de Mariana, em 2015. Pimenta Ávila, que foi o projetista da barragem do Fundão, supõe que o afastamento tenha sido uma reação da Vale a seus relatórios que denunciaram alterações no projeto original, determinantes no rompimento da barragem de Mariana.