Economia

Coordenação de fiscal e monetário é melhor forma de criar ambiente para queda de juro, diz Campos Neto

15 dez 2022, 12:52 - atualizado em 15 dez 2022, 14:03
Campos Neto relatou ter tido conversa positiva com o futuro ministro da Fazenda Fernando Haddad (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O Banco Central tem alertado que é importante ter coordenação entre políticas fiscal e monetária e que essa é a melhor forma de se criar um ambiente futuro para queda de juros, disse nesta quinta-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

Em apresentação do relatório de inflação, Campos Neto relatou ter tido conversa positiva com o futuro ministro da Fazenda Fernando Haddad, afirmando que o ex-prefeito teria concordado com “quase todos os pontos” do diálogo.

Ele acrescentou ter dito a Haddad que, dependendo da forma de comunicação, o governo pode gastar mais gerando um efeito menor sobre a curva de juros.

“Quando você tem mais transparência, você consegue fazer o mesmo gasto com menos dano a sua credibilidade”, disse.

Segundo Campos Neto, diante das incertezas em torno de como ficará o texto final da PEC da Transição, a autarquia tem usado como premissa de análise a expectativa do mercado para o gasto adicional do governo com a PEC, que estaria em 130 bilhões de reais.

Após o BC enfatizar a questão fiscal como um fator de incerteza elevada em seus comunicados, Campos Neto disse que a aprovação da PEC será levada em conta para que o BC reavalie seu balanço de riscos.

Ele afirmou ser importante observar o efeito da medida na trajetória da dívida pública, ponderando que é preciso aguardar a aprovação do texto para analisar seus impactos.

O presidente do BC indicou não achar adequado o argumento usado pelo governo eleito de que o gasto público em 2023 tem que ter o mesmo nível deste ano na proporção do PIB. “Essa métrica sempre tem um problema da ciclicalidade, em alguns momentos o PIB cai e o governo precisa gastar mais. Se você amarra o gasto constante em relação ao PIB, o que acontece quando o PIB cai e você tem aquela situação em que precisa fazer uma política contracíclica?”, afirmou.

Na entrevista, o presidente do BC não foi específico sobre o plano do BC para um eventual início nas reduções de juros, mas ressaltou que o mercado reagiu ao debate fiscal não apenas adiando essa expectativa de corte como também inseriu altas na taxa ao longo da curva de juros.

“A gente segue vigilante”, afirmou.

Em relação à atividade econômica, o BC disse esperar uma redução do crescimento à frente, prevendo também uma ampliação da ociosidade econômica no país diante dos efeitos do aperto monetário.

Campos Neto ressaltou que o BC faz alertas sobre impactos de medidas parafiscais, ressaltando que a diminuição do crédito subsidiado nos últimos anos teve grande relevância na diminuição da taxa neutra de juros do país e tem efeito sobre a potência da política monetária.

Segundo ele, uma mudança nessa política pode reverter esses fatores. “Quando efeitos começam a se incorporar nas expectativas, o Banco Central tem que agir”, disse.

A afirmação foi feita em meio a especulações sobre o possível uso de bancos públicos pelo governo eleito para estimular a economia por meio de crédito subsidiado. A equipe de transição também mencionou possível revisão da Taxa de Longo Prazo (TLP), usada nos financiamentos do BNDES.

Campos Neto afirmou que o BC participou ativamente da formulação da TLP, que entrou em vigor antes do seu mandato, e ressaltou que o modelo com menor subsídio da União representou um ganho institucional e reduziu a taxa neutra de juros do país.

Sobre sua permanência no cargo, o presidente do BC disse que pretende ficar até o fim do mandado em 2024, prazo que considera suficiente para cumprir seus objetivos. Ele se posicionou contra a recondução para novo ciclo na presidência e disse que não tratou sobre esse tema com Haddad.

Campos Neto destacou ainda ter falado a Haddad que o ideal é conduzir o processo de indicação de novos diretores do BC “de forma suave e consensual”.

(Atualizada às 14:02)