Cooperativas de crédito abrem novas agências para atrair associados
No momento em que os grandes bancos fecham agências e reduzem o número de funcionários, as cooperativas de crédito fazem o movimento contrário.
Em busca de maior visibilidade e para dar mais segurança para os potenciais associados – qualquer pessoa pode participar dessas cooperativas -, elas abrem agências em pontos estratégicos dos grandes centros, oferecendo crédito e serviços, como conta corrente, mais baratos que os dos grandes bancos, para a população, especialmente no varejo, atuando sem fins lucrativos.
Hoje, um terço dos cooperados ganham até 10 salários mínimos. A meta do Banco Central é elevar esse percentual para 50% dos cooperados, ampliando a bancarização da baixa renda.
Hoje, segundo dados do Banco Central, há 5.400 postos de atendimento de cooperativas de crédito, que atendem 10 milhões de clientes.
Sua presença atinge 2.500 cidades, mas a maioria é no interior dos Estados. Por isso o interesse em abrir agências nas capitais, para atrair mais investidores.
Hoje, as cooperativas são importantes financiadores de crédito rural, crédito pessoal para pessoas físicas e empréstimos para micro e pequenas empresas, aumentando a competição nesses segmentos e obrigando os bancos a reduzir suas taxas.
Uma das mais agressivas na abertura de agências, neste ano, a Sicred, holding que reúne 115 cooperativas e é dona do Banco Cooperativo Sicredi, pretende abrir 130 agências, 65 das quais no Estado de São Paulo. Ela está presente em 22 Estados e tem 4 milhões de associados.
Já a maior do mercado, o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), tem 2.939 pontos de atendimento, sendo 438 cooperativas singulares. De janeiro a julho deste ano, o Sicoob abriu cerca de 150 pontos. A expectativa é de que sejam abertos mais 63 pontos até o fim do ano.
O número de cooperados é de 4,4 milhões em todo o país e o Sicoob está presente em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, com uma carteira de crédito de R$ 56 bilhões, o que a torna a quinta maior instituição financeira do país.
A média de crescimento do número de associados está em torno de 10%, chegando a 600 mil novos por ano. Já a carteira de crédito deve crescer 15% este ano.
Visibilidade para crescer
Como visibilidade é prioridade para crescer nas grandes cidades, na maior capital do país, as 14 agências da Sicredi estão em lugares estratégicos, como nos centros financeiros da Avenida Paulista e Avenida Brigadeiro Faria Lima, e em bairros de classe média como Lapa e Tatuapé. Parecidas com as de bancos por fora, internamente, as agências da cooperativa seguem um estilo diferente, sem caixas ou terminais eletrônicos e com mais atendentes e salas e espaços para reuniões.
Ambiente diferente
O ambiente diferente tem a ver com a proposta, mais focada na orientação e prestação de serviços ao associado do que na venda de produtos, explica Jaime Basso, presidente da Sicredi Vale do Piquiri, do Paraná.
“Queremos também oferecer ao associado um espaço nas agências para conversar sobre negócios ou para aprender” afirma. Além das agências, a Sicredi fechou um acordo para abrir 15 postos de atendimento em escritórios distritais da Associação Comercial de São Paulo. Três foram inaugurados esta semana.
Onde os bancos não chegam
As agências e o custo mais baixo fazem parte da estratégia para ampliar a fatia de mercado dessas instituições, tanto no crédito quanto nos serviços, cartões, seguros e consórcios, explica Basso.
A cooperativa do Piquiri é forte no Paraná e está ampliando sua atuação para São Paulo e Mato Grosso. “E muitas vezes as cooperativas vão em lugares em que os bancos não vão”, afirma Basso. Segundo ele, hoje 204 municípios não têm banco, apenas cooperativas de crédito.
É por isso que o Banco Central (BC) vem estimulando o crescimento dessas cooperativas, que podem ajudar a incluir parte da população no sistema financeiro e aumentar a concorrência com os bancos. Hoje, as cooperativas respondem por 8% do mercado de crédito do Brasil, um número baixo, que também se reflete no baixo número de participantes investidores. O Banco Central quer elevar esse percentual para 20% do crédito do Sistema Financeiro Nacional.
coMas, por não terem fins lucrativos e ao mesmo tempo tentarem dar o melhor retorno possível para os cooperados, essas organizações acabam oferecendo alternativas de crédito e opções de serviços mais baratos para os tomadores.
Origem no agronegócio
As cooperativas de crédito surgiram das cooperativas de agronegócio, voltadas para organizar a atividade dos associados. A partir de 2010, foram criadas as organizações destinadas a captar recursos do público e fornecer crédito, inicialmente apenas para os associados, e depois para o público em geral.
Por sua origem da atividade rural, sua presença é mais forte na região Sul do país. Lá, elas respondem por 18% do crédito e forçam a concorrência com os bancos.
“No Paraná, em algumas cidades, as cooperativas respondem por até 35% do crédito, e os bancos têm taxas menores que em outras regiões por conta dessa concorrência”, afirma Basso. Elas são fortes também no Centro Oeste, também acompanhando o agronegócio.
País tem 900 cooperativas
Mas agora querem se expandir para os centros financeiros, como São Paulo e Minas. Isso porque é nesses centros que está o maior potencial de crescimento, com novos associados de varejo.
O país tem hoje 900 cooperativas, estima Basso. Dessas, 300 são de livre admissão, ou seja, permitem a entrada de qualquer pessoa ou empresa, e são as que têm grande potencial de crescimento.
Custos até 40% menores
O perfil das cooperativas é mais o crédito de varejo, especialmente o crédito pessoal, explica o executivo. Nessas operações, as cooperativas, que são instituições sem fins lucrativos, conseguem oferecer taxas de 30% a 40% menores que as dos bancos.
Participação nos lucros
Para utilizar os serviços das cooperativas é preciso ser associado. A partir da aplicação, que pode ser de R$ 5,00, mínimo exigido para abrir uma conta, o associado passa a participar da cooperativa e terá direito a uma fatia dos lucros da cooperativa.
Esses associados participam das decisões e das assembleias. “Se faço uma aplicação que rende 100% do CDI no banco, recebo esse rendimento e acabou”, diz. “Já se a aplicação é em uma cooperativa, recebo esse ganho e mais o ganho equivalente da empresa”, diz. “Se esse ganho foi equivalente a 5% do CDI, o ganho final do investidor foi de 105% do CDI”, afirma.
Fundo garantidor
As aplicações em cooperativas contam também com a proteção do Fundo Garantidor Cooperativo, que cobre perdas de até R$ 250 mil por CPF, semelhante ao Fundo Garantidor de Crédito do sistema bancário.
Devedor também recebe participação
Os ganhos da cooperativa vêm, além dos empréstimos, dos serviços prestados, como a tarifa de manutenção da conta digital, de R$ 9,90 ao mês. E quem paga juros de empréstimo também recebe.
No ano passado, a Sicredi teve um resultado líquido de R$ 2,7 bilhões e distribuiu R$ 664 milhões aos associados, 26% mais que os R$ 526 milhões de 2017. “Em 2018, quem pegou empréstimos recebeu de volta 1,6% a 1,7% do valor pago”, explica Basso. “Se a pessoa pagou R$ 100 mil, recebeu de voltar R$ 1,6 mil.”
Crescimento de 35% sobre o ano passado
A Sicredi tem planos ambiciosos de crescimento. Em 2018, a carteira de crédito aumentou em 35% sobre o ano anterior e a proposta é repetir o crescimento este ano.
O número de associados cresceu 12% no ano passado. Da carteira de crédito, hoje 45% são voltados para o setor rural e o restante é comercial, para empresas e pessoas.
Ele diz também que a cooperativa pretende ampliar oferta de serviços oferecendo também previdência privada para os associados.
Risco também de participação nas perdas
Basso admite, porém, que o sistema de cooperativas de crédito também tem riscos. Como associado, quem participa também tem de arcar com eventuais prejuízos que a cooperativa possa vir a ter. Por isso é importante a participação do associado, acompanhando as assembleias e as prestações de contas e elegendo delegados que vão fiscalizar os negócios.
Para evitar riscos, a Sicredi tem um Fundo de Reserva, para onde vão 65% dos ganhos. “Se der resultado negativo, a cooperativa pode recorrer a esse fundo”, explica.
Há ainda um Fundo Garantidor de Solidez, para evitar que uma cooperativa traga problema para outra. No caso da Sicredi, a fiscalização é reforçada pela parceria com o banco holandês cooperativo Rabobank e pelo Internacional Finance Corporation, braço de investimentos do Banco Mundial.