Conteúdo diverso e gratuito: Como a Samsung quer ganhar dinheiro fugindo da disputa do streaming pago
Em reportagem publicada recentemente pelo Tela Viva, a Samsung Ads anunciou ter mais de 15 milhões de Smart TVs conectadas.
Tais TVs têm função que vão muito mais além da veiculação de conteúdo: elas contam com uma gama de aplicativos e com um serviço relativamente antigo (criado em 2017) mas cuja importância vem crescendo – o Samsung TV Plus, um serviço totalmente gratuito cuja transmissão de conteúdo ocorre pela conectividade wireless (a mesma que se usa para acessar a Netflix ou Globoplay, por exemplo).
Por serem gratuitos, eles se enquadram no formato FAST – Free Ad Supported Streaming Television. É a maior novidade no mercado desde a democratização dos streamings, iniciada em 2015.
Modelo de Programação da Samsung TV Plus
Diferentemente do que estávamos acostumados, o Samsung TV Plus não prioriza canais, que por sua vez possuem suas programações, mas sim o conteúdo de forma homogênea. Há, por exemplo, canais distintos que transmitem apenas “MasterChef”, “Os Dez Mandamentos”, “Naruto” ou “A Turma da Mônica” 24 horas por dia.
Pelo fato de os canais serem transmitidos pela internet, o céu é o limite para a Samsung TV Plus ou seus parceiros produtores de conteúdo. Não há a burocracia de obtenção de concessões, licenças e frequências (que são os obstáculos para levar uma TV aberta para o ar) e nem limitações técnicas do satélite e negociações com operadoras de TV por assinatura.
A modalidade chamou a atenção de grandes players, como Globo, CNN Brasil e Jovem Pan News, que levaram suas programações para lá: a Globo tem, desde dezembro de 2022, o GE Fast (com reprise de programas e torneios esportivos) e o Receitas Fast (que aglutina receitas produzidas em diversos programas), enquanto CNN Brasil e Jovem Pan News, que espelham suas grades na TV paga para lá.
Como o mercado ganha com isso?
Um dos maiores obstáculos para veículos de TV, por exemplo, é a acuracidade de dados e a segmentação de campanhas, duas premissas que serviços de streaming, redes sociais, motores de busca ou qualquer outra plataforma digital entregam com perfeição.
O modelo atual é bastante falho perto do que existe no mundo digital. Segundo o IBGE, existem cerca de 67 milhões de domicílios no Brasil – enquanto a Kantar Ibope, responsável pelo fornecimento de dados de audiência, monitora aproximadamente 7 mil. Ainda que o instituto se baseie por amostras, é impossível garantir que João, acompanhado pela Kantar, e José, de perfil próximo, mas não acompanhado, estejam assistindo ao mesmo conteúdo.
No modelo existente na TV convencional também não é possível que um supermercado de Cotia, na Grande São Paulo, transmita um comercial de ofertas apenas na cidade: caso haja interesse em anunciar na TV, na aquisição (e no preço) ele leva junto outros milhões de telespectadores de diversos bairros e cidades que jamais pisarão em seu estabelecimento.
Como o modelo da Samsung Ads, também é possível ir além na segmentação já conhecida pelo mercado, como a parametrização por localização. É possível criar campanhas segmentadas para telespectadores que tenham telas superior a 75 polegadas e/ou que jogam vídeo game e/ou que assistem a realities.
Essa acuracidade é permitida graças à tecnologia ACR (Automatic Content Recognition), que coleta dados do que está sendo exibido na tela em conformidade com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).
A partir dessas premissas, a Samsung Ads permite que o cliente delimite exatamente o que quer veicular, para quem e quando – pagando só e somente só por este recorte. Também é possível delimitar o volume de impressões. Não há desperdício de verba publicitária.
Além da veiculação da mídia no Samsung TV Plus, também é possível levar a marca do cliente para a loja de aplicativos, na qual um anúncio (como um banner) pode derivar para um vídeo, uma página promocional ou um QR-Code.
Aldeias de conteúdo: a TV mais próxima do fenômeno TikTok
Com a criação de uma série de canais separados por temas específicos, a TV caminha para um modelo equivalente ao que consolidou o fenômeno do TikTok.
Graças aos algoritmos, o TikTok entrega conteúdos de acordo com a preferência de quem os acessa, desprezando todo o restante.
É possível passar duas horas na rede social acompanhando vídeos de comédia, pets e viagens de influencers (ou não) de todas as partes do mundo e ao mesmo tempo ignorar outros milhares de produtores de conteúdo de temas como culinária, esportes e carros.
Ao se possibilitar a criação de canais temáticos, a Samsung permite que o telespectador tenha a certeza de que tudo o que quiser estará sempre a um clique do controle remoto em uma experiência próxima a do streaming (com o diferencial vantajoso de ser gratuito).
Nem mesmo a TV paga era capaz disso, levando em conta que um canal como a Warner poderia exibir em uma tarde atrações da comédia ao drama.
Ainda que de forma bastante simples, a possibilidade trabalhada pela Samsung TV Plus gera um frescor à TV, sobretudo em um momento em que ela vem perdendo tanto espaço para outras telas, como o smartphone.