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Tudo está na guerra fria entre EUA e China’: gestor explica como rivalidade geopolítica pode ser decisiva para os mercados – e como fica o Brasil

19 abr 2024, 16:01 - atualizado em 19 abr 2024, 16:01
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João Landau, da Vista Capital, e Carlos Woelz, da Kapitalo, participaram do evento Macro Summit Brasil 2024 – confira os destaques. (Imagem: Canva / Montagem: Giovanna Figueredo)

Em um cenário econômico global cada vez mais complexo, analisar as tendências macroeconômicas e geopolíticas se torna essencial para investidores e analistas. 

É neste contexto que João Landau, fundador da Vista Capital, e Carlos Woelz, diretor da Kapitalo, se reuniram para apresentar o painel “Risk Takers: onde os grandes gestores estão investindo, o segundo do Macro Summit Brasil 2024

Em uma discussão profunda, eles exploraram as nuances do cenário, destacando as implicações da crescente rivalidade entre os Estados Unidos e a China, e as oportunidades e desafios que surgem desse contexto. Confira os destaques.

Um longo ciclo crescente

Desde a última crise financeira, os mercados têm experimentado um ciclo econômico prolongado, conforme aponta Woelz: “eu acho que, na verdade, a gente está num ciclo que vem aí desde 2008, 2009, sem ter uma recessão provocada por política monetária ou por, digamos assim, dificuldades no mundo corporativo”.

Ele lembra também que a pandemia de Covid-19 trouxe uma interrupção significativa, resultando em margens apertadas devido ao trabalho e inflação, o que gerou uma incerteza e levou muitos a temerem uma recessão.

Apesar desse desafio, existem evidências de uma desaceleração econômica global que traz oportunidades de investimentos e aponta, sobre a taxa de juros, que estamos em “um cenário no qual, se tiver qualquer desaceleração, não só existe o espaço para o Banco Central cortar, como a disposição declarada”.

‘Guerra Fria 2.0’ e suas implicações econômicas

Landau destaca a importância de considerar as mudanças geopolíticas em curso, particularmente a escalada da rivalidade entre os Estados Unidos e a China:

“A gente acha que, desde a pandemia, o mundo mudou. Eu acho que boa parte do nosso portfólio, boa parte do que a gente enxerga de mercado hoje, está baseado no que a gente chama de Guerra Fria 2.0.“

Landau observa a “guerra de demanda” que vem acontecendo entre os dois países, vista por ele como o primeiro passo para o aumento da oferta, pois incentiva a construção de novas fábricas e a produção de uma variedade de bens, como carros elétricos.

Esta “batalha de gigantes” tem implicações diretas para investidores e empresas ao redor do mundo, como Landau comenta “tudo que eu consigo olhar de geopolítico, história e macro na minha cabeça, passa por essa disputa das maiores potências do mundo” e ainda diz “no final do dia está tudo nessa guerra fria entre Estados Unidos e China”.

Política monetária e tendências globais de desaceleração

Na análise das implicações das políticas monetárias globais, destacando-as como o evento mais significativo do ano, tudo paira em torno das decisões do Federal Reserve dos Estados Unidos (FED) e seu potencial impacto nos demais bancos centrais ao redor do mundo.

Woelz aborda a desaceleração econômica global: “o diagnóstico é que a gente tá tendo uma certa desaceleração global, essa desaceleração é muito mais forte na Europa”.

Com essa perspectiva, ele acredita no provável corte das taxas de juros: 

“Eu acho que a direção vai ser de desaceleração. Para mim, o importante é o FED cortar.”

Landau concorda, acrescentando reflexões sobre a postura do FED diante da inflação e do desemprego. Ele enfatiza a necessidade de uma abordagem cautelosa, considerando as incertezas presentes e a possibilidade de mudanças nas premissas econômicas.

Quem mais perde no cenário é a Europa; Brasil pode ser um potencial vendedor

Landau observa que “nesse cenário macro, a Europa é muito perdedora”. Ele destaca a posição desvantajosa do continente em meio às mudanças geopolíticas e econômicas globais. 

O gestor comenta sobre os desafios significativos que a região enfrenta, especialmente no campo tecnológico, em que está ficando para trás em relação aos EUA e à China. Com exceção de algumas poucas empresas, a Europa não tem conseguido gerar inovações tecnológicas de destaque, o que a coloca em desvantagem em um mundo cada vez mais orientado pela tecnologia.

Por outro lado, destaca o Brasil como um potencial vencedor nesse cenário por se beneficiar do crescente apetite chinês por matérias-primas: “o Brasil também é vencedor dessa história, porque o que a gente exporta é o que a China compra, que é commodity”.

Urânio: a ‘carta na manga’ da China na corrida energética

Outro ponto observado por Landau é sobre as oportunidades com urânio, ele afirma que “a demanda nuclear é absolutamente crescente nos próximos anos” e comenta a aposta da China no minério para impulsionar sua economia e garantir independência energética. 

Com planos ambiciosos para construir dezenas de usinas nucleares nos próximos anos, o país está se posicionando como um líder na corrida pela energia nuclear

Landau finaliza o assunto afirmando que o urânio está emergindo como um ativo estratégico em um mundo cada vez mais voltado para fontes de energia mais sustentáveis, conforme aponta:

“O mundo entendeu ambientalmente e, especialmente, geopoliticamente que o caminho é nuclear.“

E ainda lembra das oportunidades para o Brasil, que é a oitava maior reserva do mundo em urânio.

A ‘caixa preta’ chinesa

Os gestores oferecem suas visões sobre a situação econômica da China e sua relação com os mercados globais. 

Woelz destaca o diferencial de juros entre os blocos econômicos, que é “grotesco”. Ele argumenta que, em meio a choques, colapsos ou guerras, as economias emergentes financiadas pela Ásia parecem mais atraentes do que aquelas apoiadas pelas economias desenvolvidas.

Ele reconhece que diferentes pessoas são influenciadas por suas experiências passadas de ganhos e perdas financeiras, mas ele, que opera internacionalmente desde 2002, prefere dar mais peso aos dados do que às histórias.

Por sua vez, Landau aborda a complexidade da China como uma “black box”, destacando os desafios de interpretar os sinais econômicos do país. 

Ele reconhece os esforços do governo chinês para estabilizar a economia, especialmente diante de desafios como a pandemia de COVID-19, e enfatiza o seu potencial de crescimento, apesar das incertezas, especialmente em termos de inovação tecnológica e produção industrial e destaca a produção de carros elétricos

O país se estabeleceu como líder nesta produção, impulsionada por uma combinação de fatores que permitem às empresas automobilísticas chinesas operarem com custos significativamente mais baixos

Landau falou sobre o impacto que esta inundação de carro chinês pode ter em nosso mercado, em especial nas locadoras de carros, como a Localiza (RENT3). Ele diz que o futuro dirá se esses R$ 50 bi que a Localiza tem de estoque é carro ‘do futuro’ ou apenas ‘blackberry’, ou seja uma frota que pode se tornar obsoleta em breve.

Análise do cenário brasileiro

Na perspectiva sobre a atuação do Banco Central e as dinâmicas do mercado financeiro, Woelz observa uma redução na tentativa de operar com base no cenário central, destacando a alocação de capital das gestoras e a especialização de cada uma. 

Sobre a troca do presidente do BC, que acontece a partir de 2025, ele comenta: “o mercado está com uma visão de que o Banco Central será outro com a mudança de presidente. Essa ideia de que o BC irá parar antes de continuar é uma possibilidade, mas não é muito lógica sob o ponto de vista do BC independente. Em certo sentido, seria um fracasso”.

Ao falar sobre sua visão sobre o cenário brasileiro, Landau mostra otimismo e diz que “o Brasil está interessante” e que “tem diversos motivos que o Brasil está com uma atividade muito mais forte. Eu acho que a gente vai continuar assim, a gente vai acelerar”.

Ele destaca que o país está em um momento especial, impulsionado pelo aumento na quantidade de commodities exportadas e importadas. Além disso, comenta sobre a mudança de perspectiva em relação ao câmbio, observando que a estabilização do Real traz benefícios, como a redução da volatilidade e a estabilização da moeda. 

Em última análise, os ‘risk takers’ concordam que estamos em um momento de mudanças significativas, em que as considerações geopolíticas e macroeconômicas desempenham um papel fundamental na determinação das estratégias de investimento. 

Navegar por esse ambiente complexo requer uma compreensão aprofundada das dinâmicas em jogo e uma abordagem cuidadosa na construção de portfólios e na tomada de decisões de investimento.

Para assistir ao painel na íntegra e conferir todo o debate de Landau e Woelz, acesse o link abaixo:

QUERO ASSISTIR AO PAINEL ‘RISK TAKERS’ DO MACRO SUMMIT BRASIL