‘Trump trade’: o que muda e como investir caso Donald Trump seja eleito presidente dos Estados Unidos?
Nos últimos meses, o termo “Trump trade” tem feito parte do vocabulário dos investidores do mercado financeiro. Basicamente, ele se refere aos ativos que se beneficiam com o retorno do candidato republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
Vale destacar que a vitória do republicano foi, durante a maior parte dos últimos meses, o cenário-base de boa parte do mercado, que se adiantava para comprar os ativos que poderiam ir bem nesse contexto.
No entanto, depois da saída do atual presidente Joe Biden da corrida eleitoral e do primeiro – e provavelmente único – debate entre Kamala Harris e Donald Trump, o cenário tornou-se mais favorável para a candidata democrata.
As últimas pesquisas indicam uma vantagem pequena para Kamala ou empate. Apesar disso, a diferença entre os dois candidatos é mínima e a eleição, considerada a mais difícil de prever das últimas décadas, segue indefinida.
Por isso, o “Trump trade” segue como uma possibilidade real. Nesse sentido, depois de abordarmos quais ativos devem ir bem com uma possível vitória de Kamala, chegou a vez de entender em mais detalhes o “Trump trade”.
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Quais são os ativos que se beneficiam em caso de vitória de Donald Trump?
O analista macroeconômico Matheus Spiess, da Empiricus, vê o mercado acionário norte-americano andando bem independente de quem ganhe as eleições.
“Os EUA foram, são e vão continuar sendo um país pró-business e de centro-direita. Pode ter um ou outro contorno mais progressista, mas não vai mudar o jogo do dia pra noite. Os dois seriam bons para o mercado de ações.”
As diferenças ficam por conta dos setores e cases específicos que devem ganhar tração.
“No caso de uma manutenção de democratas na Casa Branca, o mercado seria também positivo, mas aos moldes do que vimos durante o governo Biden. Tenderia a ser concentrado em alguns setores mais específicos.”
Já no caso de Trump, Spiess acredita em um movimento que se assemelha ao rotation trade, observado principalmente em julho deste ano.
Na ocasião, os investidores retiraram recursos investidos nas empresas de tecnologia, que foram as grandes vencedoras dos últimos anos, para alocar em ações de setores mais tradicionais da economia – que, por sua vez, estavam descontadas em relação às techs.
“Não acredito que tecnologia vai mal [em um eventual governo Trump], mas acredito que ela tende a ‘underperformar’, disse, se referindo ao termo usado quando uma ação ou setor específico tende a ir pior que um determinado benchmark.
Spiess lembra que, ao contrário dos democratas, mais ligados à energia verde, Trump é mais associado às energias tradicionais. “Portanto, seria muito mais vocal ao óleo e gás.”
Na questão da manufatura, o analista enxerga os dois candidatos como parecidos na intenção de “trazer de volta” a indústria para os Estados Unidos, movimento chamado de reshoring.
“Para os dois manufatura é uma tese interessante, por mais que com o Trump a retórica seja mais forte”, destaca.
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Criptomoedas tendem a se beneficiar da eleição de Trump
Uma outra bandeira de Donald Trump ao longo da campanha tem sido as criptomoedas.
O analista lembra que Trump, historicamente “contra cripto”, mudou o discurso para se tornar um candidato “pró-cripto”.
“A Kamala Harris tentou abraçar as criptomoedas nas últimas semanas, mas de maneira menos vocal. Acredito que seria ruim para a indústria cripto caso continue na mesma tendência [democratas no poder], porque Biden e companhia têm sido vetores anticripto.”
Por outro lado, Matheus Spiess destaca que a indústria farmacêutica é um setor que pode ir mal em um eventual governo Trump.
“Pela herança do enfrentamento que teve na pandemia, nasceu-se uma retórica contra a indústria farmacêutica”, lembra.
O analista avalia ainda que as propostas de Trump são mais inflacionárias – portanto, calls relacionadas à inflação podem andar bem sob um governo republicano.
“Essa dinâmica de cortar impostos e substituir pelas tarifas de importação seria inflacionário”, explica.
A redução de impostos, inclusive, beneficia as empresas e, consequentemente, o mercado de ações.
Por outro lado, o analista destaca que os dois candidatos são uma “bomba fiscal”. “Nenhum dos dois é responsável fiscalmente. Esse problema grave dos Estados Unidos não será resolvido no próximo mandato.”
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E no Brasil, como fica?
Matheus não vê um impacto significativo no mercado local em caso de vitória de um ou de outro candidato.
Por conta de uma possível economia norte-americana mais inflacionada em um eventual governo Trump, Spiess destaca que o mercado pode precificar juros mais altos nos vértices mais longos, o que “diminuiria o diferencial de juros entre os dois países” e “poderia ter um impacto cambial”. “Mas não seria game changer”, destaca o analista.
Para os investidores locais, também não há muito a fazer em termos de alocação pensando especificamente em aproveitar a vitória de um ou de outro candidato, justamente pela imprevisibilidade do resultado.
No entanto, o analista lembra que é possível reduzir uma possível volatilidade eleitoral da carteira com proteções clássicas, como ouro e uma cesta de moedas fortes.
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- Marcos Troyjo (diplomata e ex-presidente do Banco dos BRICS);
- Roberto Dumas Damas (mestre em Economia e consultor de cenários econômicos);
- Andrew Reider (CIO da WHG e especialista em ações globais);
- João Piccioni (CIO da Empiricus Gestão);
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