‘Racha’ no Banco Central? Por 5 votos contra 4, corte de 0,25% venceu a decisão do Copom; como investir agora?
Na última quarta-feira (8) aconteceu a terceira reunião do Copom, que reduziu a Selic para 10,50% ao ano. Embora o percentual tenha sido menor do que o que se estimava há 45 dias atrás, o corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros não foi uma surpresa.
Acontece que, depois da reunião do Comitê de Política Monetária em março, fatores macroeconômicos afetaram a percepção do mercado sobre o ritmo de queda dos juros.
Ao longo das semanas, as opiniões a respeito da magnitude do corte na Selic começaram a divergir. Já às vésperas do Copom, as apostas de cortes de 0,25% ganharam mais força.
Contudo, o encontrou não deixou de causar emoções no mercado. Desta vez, o motivo foi a divisão entre os membros do comitê. A decisão por um corte de 25 p.p. foi disputada, e venceu por apenas um voto de diferença.
O mercado reagiu mal à falta de consenso entre a diretoria do Banco Central. Diante disso, no pregão seguinte, o Ibovespa fechou em queda de 1% e os juros futuros dispararam.
Na edição especial do Giro do Mercado da última quinta-feira (9), a sócia e fundadora da Safira Investimentos, Maria Clara Patti, e o especialista em renda variável, Juliano Bernardon, comentaram os resultados do Copom. Em resumo, eles chamaram atenção para 3 pontos:
1. A desaceleração no corte da Selic
Na ata do Copom de março, o Banco Central havia sinalizado a possibilidade de mais um corte de 0,50%. Entretanto, Maria Clara destacou que mudanças tanto no ambiente econômico interno, quanto externo motivaram a desaceleração do ciclo.
Segundo a especialista, a piora na política fiscal foi um dos motivos internos para que o Banco Central tomasse uma decisão mais conservadora. Acontece que o governo vem reduzindo a meta fiscal para 2025 a 2028. O que, por consequência, aumenta a expectativa de inflação nos próximos anos.
Já no cenário internacional, o adiamento do início do ciclo de corte de juros nos EUA, prejudica a economia brasileira. “Não é interessante que a gente tenha um diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos muito baixo, por causa da fuga de capital”, pontuou Patti.
Ou seja, segundo a especialista, se o Banco Central tivesse optado por um corte maior, de 0,50%, o Brasil se tornaria ainda menos atrativo para investidores globais. Essa dinâmica poderia prejudicar ainda mais o câmbio, a inflação e, por fim, os ativos de risco.
2. O ‘recado’ do Banco Central
Além da desaceleração no corte da taxa de juros, outro ponto que chamou a atenção dos especialistas foi o tom do comunicado. Segundo Juliano Bernardon, o recado do Banco Central foi bastante duro.
O especialista ressaltou o seguinte trecho do comunicado: “o comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência à meta”.
Na visão de Bernardon, o recado foi claro: a autoridade monetária está deixando em aberto quais serão seus próximos passos e reforçou a necessidade de dados para as próximas decisões.
3. As divergências entre a diretoria
Por fim, os especialistas ainda comentaram sobre a disputa da votação. A decisão de cortar a Selic em 0,25% venceu por 5 votos a 4, sendo que um deles foi o voto de minerva do presidente Campos Neto.
Embora possa parecer comum a divergência entre os integrantes de um comitê, no caso do Copom, essas situações ocorreram pouquíssimas vezes. Assim, o fato em si chama atenção e o contexto também.
Maria Clara Patti destacou que os votos a favor de um corte de 50 p.p. vieram justamente de membros indicados pelo governo. E que essa postura gerou no mercado uma série de dúvidas com relação ao futuro do Banco Central.
O principal temor é de que a autoridade monetária passe a adotar uma postura mais dovish (branda) e alinhada aos interesses do governo, especialmente após a saída de Campos Neto no fim deste ano.
Nesse cenário, a pergunta que muitos investidores estão fazendo é:
Como investir com a Selic a 10,50%?
Na visão dos especialistas, a decisão do Copom abre espaço para o investidor buscar retornos por dois caminhos. Maria Clara destaca que diante do corte de 25p.p. ainda há boas oportunidades na renda fixa.
Ela relembra que, no início do ciclo de corte de juros, em agosto de 2023, os títulos públicos atrelados à inflação estavam oferecendo retornos médios de IPCA +5% ao ano.
Contudo agora, diante da incerteza do cenário macroeconômico, esses mesmos títulos estão pagando prêmios de até IPCA + 6,5%.
Na visão de Patti, esta é uma oportunidade para o investidor não só manter o valor do dinheiro ao longo do tempo, como ter a chance de conseguir retornos reais de 6,5% ao ano.
Já na renda variável, Juliano destaca que, apesar da incerteza com relação aos próximos passos do Banco Central e também do Fed nos Estados Unidos, neste momento também é interessante ter parte da carteira alocada em ativos de risco.
Ele ressalta que, historicamente, o ciclo de corte de juros tende a favorecer esses ativos. Além disso, não é possível prever quando uma “onda” de fluxo estrangeiro pode voltar ao mercado doméstico, fazendo com que as ações voltem a decolar.
Nesse cenário, o especialista aponta que o investidor deve manter uma carteira diversificada. Pensando em aumentar a segurança do portfólio, Juliano recomendou investir em ações de setores mais resilientes na economia doméstica, como as elétricas.
Contudo, ele também salientou que, neste momento, também é possível capturar ganhos com empresas mais sensíveis ao ciclo de juros. Isto é, ações que sofreram com a escalada da Selic e que tendem a se beneficiar da sua queda, como as varejistas.
Mas como saber quais ativos podem de fato trazer bons retornos neste momento?
Essa talvez seja a parte mais difícil de montar uma carteira em um cenário tão delicado como o de agora.
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