Como um grupo de pessoas causou bilhões de prejuízo a um grande fundo de investimentos

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Essa é uma dessas histórias que, com certeza, se tornará um documentário da Netflix dentro dos próximos dois ou três anos.

Um roteiro de Hollywood que parece ter se voltado contra Wall Street em uma trama que já causou mais de 5 bilhões de dólares de prejuízo. 

Mas a ação parece não ter fim, e investidores brasileiros se inspiram no caso para tentarem recriar o short squeeze em um papel brasileiro.

Pegue sua pipoca e preste atenção no que está acontecendo no mercado financeiro mundial. 

O começo de tudo

Tudo começou com uma publicação na plataforma Reddit, onde um usuário propunha que todos se juntassem para comprar ações da GameStop com o objetivo de causar um short squeeze na posição do fundo bilionário Melvin Capital. 

Mas vamos por partes.

A GameStop é uma varejista do setor de jogos de videogames que vinha sofrendo muito devido à pandemia e ao fechamento de diversas de suas lojas, já que a maioria delas está localizada em shoppings e centros comerciais. 

Aliado a isso, a empresa sediada no Texas sofria com a explosão dos streamings, já que agora os usuários não precisam mais ir até lojas físicas para comprar videogames, o que fez com que seu ramo de negócio começasse a entrar em um espiral de notícias ruins.

O mercado, por sua vez, interpretou todos os sinais, fazendo com que as ações de GameStop despencassem dos 55 dólares que valiam em 2013 para 2,57 dólares em abril de 2020. Apesar de um grande investidor chamado Ryan Chewy tentar salvar a empresa de seu fim inevitável ao adquirir parte representativa de suas ações com a promessa de atualizá-la, os resultados continuaram a decepcionar.

Lojas da GameStop estavam fechando devido à pandemia e ao aumento das plataformas de streaming.

Short-Squeeze?

Depois de uma leve recuperação nos preços das ações, os fundos de alto risco, como o Melvin Capital, decidiram montar posição short na companhia.

O objetivo era claro: buscar lucros provenientes de uma possível baixa no valor de suas ações, o que parecia inevitável a longo prazo.

O fundo entrou com tudo, apostando alto na queda das ações da GameStop, com contratos futuros que já ultrapassavam inclusive o número de ações totais da empresa sendo negociadas na Bolsa. 

Para quem não entende esse tipo de operação, o resumo é simples: você pega as ações de determinada empresa “emprestadas” e as vende pelo preço de mercado naquele momento. Depois, quando as ações despencam, você as compra de volta, devolve e fica com a diferença entre o preço de venda e de compra. 

Logicamente, é uma estratégia arriscada, pois, caso elas subam, você terá que obrigatoriamente comprá-las por um preço maior, fazendo com que o prejuízo em potencial seja ilimitado. 

A revolta do investidor pessoa física

Com o cenário desenhado para a catástrofe das ações da GameStop, os fundos bilionários não contavam com a revolta dos investidores comuns, que se reuniram no Reddit para tentar dar “o troco” liquidando a posição de short dos fundos na ação por meio de uma compra em massa coordenada para inflar os preços do ativo. 

O público comprou a ideia e começou a adquirir os papéis da empresa em grande quantidade, o que levou a ação a uma alta meteórica de mais de 1.700% desde o início do ano, tendo seus preços dobrados consecutivamente nesta terça e quarta-feira (26/01 e 27/01), ultrapassando os 300 dólares no preço de tela.

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O valor de mercado da empresa saltou de 1,3 bilhão de dólares para mais de 22 bilhões de dólares nesse mesmo período, fazendo com que a ação ganhasse as manchetes dos principais veículos de notícias mundiais rapidamente.

Tudo isso fez com que os grandes fundos assistissem impotentes enquanto viam bilhões de dólares irem embora pelo ralo, o que não agradou em nada os principais players do mercado.

A Robinhood, corretora pela qual os usuários estavam comprando as ações de GameStop, decidiu então suspender a compra das ações, em uma tentativa de parar a ação dos investidores.

Em nota, a corretora afirma que tomou essa atitude devido ao momento de “forte volatilidade”, com a intenção de “ajudar os investidores a tomarem decisões informados”. 

Isso fez com que os papéis de Gamestop despencassem novamente, mas não durou muito tempo, e logo a corretora voltou a ceder, dizendo que voltaria a permitir a negociação limitada dos papéis, fazendo com que o preço voltasse a subir rapidamente.

E o brasileiro decidiu entrar para a festa

Não demorou muito para que os brasileiros decidissem “entrar para a festa”, orquestrando uma ação parecida com as ações do IRB Brasil.

Um grupo criado no Telegram, com o nome de “Short Squeeze IRB”, reuniu em pouco mais de dois dias mais de 38 mil pessoas.

O reflexo foi rápido, e a cotação da ação disparou 17,82% na Bolsa de Valores durante o pregão desta quinta-feira (28/01). 

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A iniciativa não foi bem vista por órgãos reguladores e especialistas no assunto. Em participação especial na newsletter Day One da Empiricus, Daniel Kalansky, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Empresarial, e Isac Costa, especialista em Regulação Financeira, deixaram uma advertência aos leitores e investidores em geral:

“Em suma, o Caso GameStop não é uma simples ‘brincadeira’. E, se o Caso IRB seguir os mesmos passos, também não será. Vale lembrar que, além de ilícito no mercado de capitais, a manipulação de mercado também configura crime. Deve-se, portanto, olhar sempre se há um comportamento real orquestrado com o propósito de aumentar ou diminuir o preço de uma ação com o objetivo de induzir outros a comprar ou vender aquele título.”

Nem tudo que reluz é ouro

Alguns investidores estão animados com a ideia de conseguirem lucros rápidos a qualquer custo, mas um passo em falso em um caso como esse pode significar uma perda irreparável de patrimônio para os desavisados.

Felipe Miranda alerta quem pensa em entrar na brincadeira:

“Tudo que sobe cai, e o mercado é impiedoso. Tentar arrancar algum lucro de uma ação como essa pode ser o equivalente a suicídio financeiro para alguns”, diz Felipe. 

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O trabalho de uma vida citado pelo analista é a carteira Palavra do Estrategista, carro-chefe da Empiricus, que conta com milhares de assinantes acompanhando periodicamente suas publicações e indicações de investimentos na Bolsa de Valores.

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