Estrago: Crise da Americanas (AMER3) desestimulou linhas de crédito cruciais para empresas
Mesmo a mais de oito meses do acontecido, a crise das Americanas (AMER3) continua atormentando o mercado de crédito brasileiro. A análise foi feita pelo departamento de estatística do Banco Central brasileiro.
Segundo comentário de Fernando Rocha, chefe do departamento, ao Valor Econômico, o rombo contábil da Americanas desestimulou a oferta de linhas de crédito em modalidades como “risco sacado”, de desconto de duplicatas e de antecipação de recebíveis.
Vale relembrar que as operações de risco sacado são aquelas em que o contratante da linha de crédito — varejistas, por exemplo — repassa a responsabilidade do pagamento de fornecedores para instituições financeiras.
É uma operação de curto prazo, comum para gestão do capital de giro, uma vez que permite a extensão do prazo de pagamento aos fornecedores pela empresa.
Já os descontos de duplicata e antecipação de recebíveis são outras duas linhas que visam, ultimamente, aumentar o fluxo de caixa livre.
Outro aspecto ressaltada por Rocha foi o aumento da inadimplência (90 dias) estimulado pela derrocada da varejista, particularmente, após o mês de abril. Houve um aumento de 3,3 pontos percentuais (pp.) em relação a maio — de 0,6 para 2,1% — em descontos de duplicata.
A alta no descumprimento dos pagamentos continuou nos meses seguintes, embora em um ritmo menos acelerado.
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Luz no fim do túnel? Selic já alivia linhas de crédito, diz Banco Central
Se de um lado o episódio da Americanas dificultou o acesso a algumas das principais linhas de crédito no mercado, o BC destaca que o ciclo de cortes na Selic poderá trazer uma dose de alento para setores mais pressionados, como o varejista.
Sobre o cenário que começou a se desenhar a partir da decisão de agosto, quando o Copom realizou o primeiro corte da taxa Selic em mais em dois anos, o técnico destaca um esperado recuo do juro médio em todas as linhas de crédito.
Esse processo começou a ocorrer, inclusive, anteriormente ao corte de 0,25 ponto percentual no início de agosto, tendo o juro médio das linhas caído 0,3% em julho.
Ainda no mês passado, o spread médio bancário — que é a relação entre o custo de captação dos bancos e quanto eles cobram nos empréstimos — permaneceu estável. Na base anual, o spread anota um crescimento de 3,0%, ainda em reflexo ao momento anterior da política monetária.
Com a Selic ainda elevada, em 13,25% ao ano, o estoque total de financiamentos do país recuou 0,2%.