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Construção civil cresce no ‘mundo real’, mas despenca na Bolsa

10 jan 2022, 17:02 - atualizado em 12 jan 2022, 10:58
Construção Civil
Para se ter uma ideia, o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) subiu 14,3% em 2021, o maior patamar desde 2003 (Imagem: Pixabay/PublicDomainPictures)

A construção civil está próxima de confirmar um dos anos mais aquecidos da história recente.

Puxada principalmente pelo mercado imobiliário, a alta no faturamento do setor em 2021 deve ser 7,6%, de acordo com estimativas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o melhor resultado em dez anos.

Entre janeiro e setembro, houve um crescimento de 37,6% dos lançamentos e 22,5% nas vendas, segundo o próprio CBIC.

Porém, ao mesmo tempo em que os números mostram um retrato do presente, trata-se de um cenário que vai se tornando passado de maneira bem acelerada.

Os motivos são vários: aumento da taxa de juros, assim como a alta nos preços de materiais para construção, bolso mais curto do brasileiro e temores a respeito da economia, que está em recessão técnica após ter caído 0,1% no terceiro trimestre.

Para se ter uma ideia, o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) subiu 14,3% em 2021, o maior patamar desde 2003.

Logo, mesmo com os bons resultados acumulados em 2020, as empresas também enfrentam desconfiança dos investidores.

Não por acaso, a queda acumulada das 26 incorporadoras na Bolsa em 2021 foi de 31,1%, segundo dados levantados pela consultoria Economatica a pedido do Estadão, enquanto o Ibovespa (IBOV) recuou 11,93%.

A Plano&Plano (PLPL3), que estreou no mercado de capitais em outubro de 2020, caiu mais do que a média, com uma desvalorização de 56%.

E isso acontece em um ano em que a companhia atingiu R$ 1 bilhão em vendas líquidas, o maior volume de vendas anuais de toda a história da empresa.

Porém, ao olhar a fotografia dos resultados mais recentes, a empresa viu os seus lançamentos caírem 17,5% no terceiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado. Com isso, o total do valor arrecadado nessa área nos nove primeiros meses do ano caiu 1%.

A empresa se apoiou no fato que o déficit habitacional aumentou no período da pandemia. De 2019 para cá, o déficit subiu 4% para 6,1 milhões de habitações (Imagem: Pixabay/agshotcreteservices)

Mesmo assim, Rodrigo Luna, presidente do conselho de administração da empresa, enxerga pontos positivos, como a redução do preço de alguns materiais, como o aço, que podem melhorar os resultados para 2022. “É claro que gostaríamos de trazer um resultado melhor para os nossos acionistas, mas a nossa visão é de longo prazo”, diz Luna.

Nesse momento complicado, a Plano&Plano também começou a priorizar imóveis voltados para a baixa renda, em especial ao programa Casa Verde e Amarela, antigo Minha Casa, Minha Vida.

A empresa se apoiou no fato que o déficit habitacional aumentou no período da pandemia. De 2019 para cá, o déficit subiu 4% para 6,1 milhões de habitações.

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Custos

Essa também é a visão de Eduardo Fischer, um dos presidentes da MRV (MRVE3), a maior do País.

Ele continua otimista, mas admite que a pressão dos custos, que afetaram a margem da empresa, dificultou as coisas nesse ano. “Pensávamos que esse desequilíbrio no preço iria se dissipar no primeiro semestre e não aconteceu.

Em 28 anos de indústria, nunca vi uma explosão de custos tão forte em um curto espaço de tempo”, diz Fischer, que viu as ações da MRV caírem quase 35% em 2021.

O executivo aponta que não tem muito o que mudar em 2022, mas continua com a premissa de que existe uma oferta maior do que a demanda. “E estamos olhando para isso para 2023, 2024 e 2025”, diz.

Economia fraca

Em 2022, as estimativas do mercado para o segmento imobiliário estão em baixa. Na previsão de José Carlos Martins, presidente da CBIC, a indústria da construção civil não vai passar de um crescimento de 2%.

Na visão de Waldir Morgado, sócio da Nexgen Capital, a inflação nos custos deve permanecer, assim como a corrosão na renda dos mais pobres, o que deve afetar as empresas da área, como a Plano&Plano e a MRV.

“No nosso entendimento, as empresas que estão focando mais no segmento de alta renda devem sofrer menos”, diz Morgado.

O problema é que essas mesmas empresas também estão longe de estar bem na Bolsa. EZTEC (EZTC3) e Cyrela (CYRE3), por exemplo, caíram mais de 45% no ano.

A JHSF (JHSF3), como tem braços em outros segmentos, como shoppings e até aeroporto, sofreu um pouco menos com 24% de queda. Logo, nem mesmo aquelas companhias que podem se dar melhor na crise estão animando os investidores.