Constellation vê chance de reação robusta na bolsa em 2021, mas alerta sobre fiscal e inflação
Os efeitos negativos da pandemia de Covid-19 nas empresas brasileiras estão diminuindo e uma vacina no começo do próximo ano pode apoiar uma forte recuperação na bolsa paulista, embora o cenário fiscal ainda fomente incertezas, avalia Florian Bartunek, sócio-fundador da Constellation Asset.
A Constellation tem atualmente 15 bilhões de reais sob gestão e nomes como o bilionário Jorge Paulo Lemann na sua estrutura societária.
“A bolsa pode ter uma recuperação robusta”, afirmou o executivo em entrevista à Reuters. Ele ressaltou que a economia está voltando a funcionar, mesmo que devagar, e que um eventual início de vacinação contra o coronavírus no início de 2021 vai ajudar a melhorar a percepção nos mercados sobre a recuperação das companhias.
A Universidade de Oxford afirmou nesta semana que espera apresentar resultados do teste de estágio avançado de sua candidata a vacina contra Covid-19 neste ano, o que aumenta a esperança de o Reino Unido começar a distribuir uma vacina bem-sucedida no final de dezembro ou no início de 2021.
“No final das contas, o que importa é o desempenho das companhias.. Obviamente, uma economia exuberante ajuda muito, mas se também for ‘ok’ as boas empresas vão fazer o seu papel e apresentar uma boa performance”, diz, citando que há ações já sendo negociadas a preços anteriores à pandemia.
Após renovar máximas no começo do ano, aproximando-se dos 120 mil pontos, o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, despencou para quase 60 mil pontos com as preocupações associadas ao Covid-19.
No ano, apesar da recuperação, ainda perde 13,35%. Em dólar, recua 37%. Nos Estados Unidos, por sua vez, o S&P 500 (SPX), que também sofreu com os temores ligados à pandemia, já contabiliza uma alta de 8,7% em 2020.
De acordo com Bartunek, os investidores ainda têm dúvidas sobre o quadro fiscal no Brasil, algo que inclui aumento do déficit nas contas públicas em razão das medidas para atenuar os efeitos do coronavírus e a manutenção do teto de gastos, além da capacidade do governo em fazer reformas necessárias para o país.
“Tem esses pontos de interrogação”, afirma. Ele acrescenta que o Congresso Nacional mostra intenção de acelerar a agenda de reformas, embora pondere que seja algo difícil de se executar. “Mas, claramente, há uma demanda.”
O sócio-fundador da Constellation também chama a atenção para o comportamento dos preços no Brasil. Embora não exista uma “preocupação enorme com a inflação agora”, Bartunek ressalta que é uma variável que é necessário monitorar permanentemente, principalmente com o quadro fiscal deteriorado.
Nesta sexta-feira, o IBGE informou que o IPCA acelerou a alta a 0,86% em outubro, de 0,64% em setembro, resultado mais elevado para o mês em 18 anos e taxa mais alta do ano.
Em 12 meses, subiu 3,92%, quase no centro da meta de 2020, que é de 4% com margem de 1,5 ponto para mais ou menos.
“Se o mercado começar a ter a percepção que a inflação é um problema, isso afeta o juro longo… e quanto mais alto o juro longo menos interessante fica a bolsa”, reforça, lembrando que o movimento também afeta crédito de bancos, eleva as incertezas e os investidores acabam ficando mais cautelosos.
Na véspera, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez forte defesa da necessidade do país se comprometer com a sustentabilidade das contas públicas no pós-pandemia, frisando que sem isso há sério risco de desorganização dos preços de mercado.
Bartunek afirmou que tem ocorrido um crescente interesse de clientes, empresas e investidores em políticas de investimentos que consideram também fatores ambientais, sociais e de governança corporativa, resumidos na sigla em inglês ESG. Segundo ele, a partir do próximo ano novos nomes devem atuar com mais afinco nessa direção no Brasil.
“Investidores mais robustos estão estudando esse processo e no meio do ano que vem vamos ver mais nomes sendo mais vocais nessa estratégia”, disse.