Jair Bolsonaro

Conspiração, renúncia e recuo, entenda os acontecimentos que seguiram a acusação de um senador contra Bolsonaro

02 fev 2023, 19:29 - atualizado em 02 fev 2023, 19:29
Marcos do Val
Marcos do Val deu entrevista coletiva afirmando que não mais renunciaria e que Bolsonaro não o pressionou (Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado)

A quinta-feira (2) começou movimentada em Brasília por conta de acusações de tentativas de golpe que seriam feitas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O dia teve acusações de conspiração, chantagens, grampos, prints de conversas, entrevistas e o famoso “não foi bem isso que eu quis dizer”. No final, muita gente terá que dar explicações à polícia federal nos próximos dias.

Na realidade, os problemas começaram ainda antes. Na quarta-feira (1), o senador Rodrigo Pacheco (PSD) foi reeleito para mais uma mandato de dois anos à frente da presidência do Congresso Nacional. A votação foi maior do que a esperada por apoiadores do adversário de Pacheco, o senador recém eleito e empossado Rogério Marinho (PL) ex-ministro de Bolsonaro, o que gerou revolta.

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Eleição de Pacheco e polêmica de votos

Na quarta-feira (1) logo após a posse dos senadores eleitos e reeleitos, foi realizada a votação para a eleição do presidente do Senado Federal e toda a mesa diretora. Apenas dois nomes foram para as urnas: o de Pacheco, apoiado pela maioria dos partidos, inclusive pelo presidente Lula e o PT, e Marinho, que tinha a seu favor o apoio do ex-presidente Bolsonaro e pressão nas redes sociais.

No fim, apesar da esperança da oposição, Pacheco confirmou a vitória com uma boa margem de votos, o que deixou os apoiadores de Bolsonaro irritados e em busca dos nomes daqueles que não teriam cumprido a promessa de votar em Marinho.

Senador pelo estado do Espírito Santo, Marcos do Val (Pode) foi um dos que passou a ser atacado nas redes sociais, fato que irritou o parlamentar e o fez, em uma live em suas redes sociais, anunciar que renunciaria seu mandato e que teria sido pressionado por Bolsonaro a armar contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para que as eleições fossem anuladas e Bolsonaro permanecesse na presidência.

A renúncia

Na madruga, o senador do Val fez uma live em suas redes socias. Durante a conversa com seus seguidores anunciou que uma matéria seria publicada pela Revista Veja e que nela ele teria mostrado como foi pressionado pelo então presidente a armar contra Alexandre de Moraes a fim de conseguir a anulação das eleições.

O plano envolveria gravar o ministro do STF para coloca-lo em uma posição difícil, mostrando que ele havia manipulado de alguma maneira o resultado das eleições. O fato acarretaria na anulação das eleições e Bolsonaro continuaria presidente.

Plano de Daniel Silveira

Pela manhã, Marcos do Val recuou, e disse que não renunciaria seu cargo de senador. E, em entrevista coletiva, afirmou que a proposta para que ele gravasse uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sem conhecimento do magistrado, partiu do ex-deputado federal Daniel Silveira, não do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Do Val também negou ter sido coagido por Bolsonaro para fazer a gravação e ressaltou que foi Silveira que insistiu para que ele gravasse Moraes.

Flavio Bolsonaro confirma reunião, mas não plano

Depois de sua entrevista coletiva, Marcos do Val participou de uma entrevista na Globo News. Nela, confirmou que não renunciaria e que recebeu um pedido de Flavio Bolsonaro, senador e filho do ex-presidente, para que não deixasse o cargo.

Flavio, mais tarde em suas redes, confirmou que a reunião citada por do Val realmente aconteceu e que ele esteve presente, mas que nada tinha sido feito ou discutido que pudesse ser alvo de investigação.

Investigação da Polícia Federal

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acatou pedido da Polícia Federal e deu prazo de cinco dias para que a corporação tome o depoimento do senador Marcos do Val (Podemos-ES) em inquérito que investiga o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre atos que envolvem a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.

“Conforme amplamente noticiado, o senador Marcos do Val divulgou em suas redes sociais ter recebido proposta com objetivo de ruptura do Estado Democrático de Direito, circunstância que deve ser esclarecida no contexto mais amplo desta investigação, notadamente no que diz respeito a eventual intenção golpista, o que pode caracterizar os crimes previstos nos arts. 359-M (golpe de Estado) e 359-L (abolição violenta do Estado Democrático de Direito) do Código Penal”, disse Moraes,

“Diante das informações prestadas e da necessidade de maiores esclarecimentos, defiro o requerimento e determino à Polícia Federal que proceda à oitiva do senador Marcos do Val, no prazo máximo de 5 (cinco) dias”, emendou, no despacho.