Coluna Robert Lawrence Kuhn

Conheça a iniciativa de civilização global da China

21 fev 2024, 9:00 - atualizado em 20 fev 2024, 15:45
china desenvolvimento deflação
A China sedia regularmente eventos culturais e atividades internacionais para promover as artes de diferentes povos.  (Foto: glaborde7/ Pixabay)

Ao longo do mês, tenho tratado neste espaço sobre as iniciativas da China para o desenvolvimento global e para a segurança global. Ambas fazem parte da visão global do governo chinês que orienta a política externa de Pequim.

Agora, irei falar sobre um tema “caro” para a China: a civilização. O apelo chinês para a Iniciativa de Civilização Global (GCI, na sigla em inglês) diz respeito à diversidade de países, raças e grupos étnicos no mundo. Apesar disso, o ser humano tem valores comuns em relação à humanidade.

É esse intercâmbio global que permite uma cooperação interpessoal. O GCI, portanto, faz parte da abordagem de política externa chinesa, que fala da construção de uma comunidade global com um futuro compartilhado.

Entre os exemplos práticos dessa iniciativa, estão, as conferências sobre o Diálogo das Civilizações Asiáticas; entre as Civilizações chinesa e africana. A China sedia regularmente eventos culturais e atividades internacionais para promover as artes de diferentes povos. Só em 2017, a China realizou cerca de 2 mil eventos em mais de 130 países.

Há, também, os acordos de cidades-irmãs com vários países, inclusive o Brasil. Enquanto Pequim e Rio de Janeiro são cidades-irmãs, São Paulo é irmã de Xangai, pois ambas são as cidades mais populosas de seus respectivos países. Além disso, Guangzhou, capital da província de Guangdong, no Sul da China, é a cidade-irmã do Recife.

Já a capital brasileira, Brasília, não tem só uma, mas duas cidades-irmãs chinesas: Xi’an, desde 1997, e Macau, desde 2020. Ao longo dos anos, essas cidades alcançaram resultados positivos na cooperação de negócios, turismo, saúde, educação e desenvolvimento.

Quatro pilares da iniciativa de civilização global da China

Quando o presidente chinês Xi Jinping propôs a Iniciativa de Civilização Global, ele defendeu quatro temas. O primeiro trata do respeito à diversidade de civilizações, defendendo a aprendizagem mútua e o diálogo entre os países.

O segundo fala sobre os valores comuns da humanidade: paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade. Ou seja, os países devem abster-se de impor seus próprios valores ou modelos nos outros.

O terceiro trata da importância da herança civilizacional e da evolução das civilizações através da inovação e da tecnologia. Assim, os países devem aproveitar suas histórias e culturas tradicionais para avançar rumo ao futuro. Por fim, é preciso haver intercâmbio internacional, com os países explorando o diálogo e a cooperação.

Daí porque a China reitera que evitará o “caminho tortuoso percorrido por alguns países para buscar a hegemonia à medida que eles se fortalecem”, mas sim irá “buscar resolver as diferenças através do diálogo e da resolução de disputas através da cooperação.”

Analistas se dividem sobre planos do GCI

Claro, eu não posso afirmar que todos os países vizinhos da China e do Sudeste Asiático ficaram totalmente aliviados com as declarações de Xi nem com os pontos do GCI.

De qualquer forma, essa iniciativa é, de agora em diante, a principal forma da China se envolver com diversos países, raças e grupos étnicos. Ou seja, em uma perspectiva de cultura e civilização chinesa.

Alguns especialistas estrangeiros veem o GCI sob um ponto de vista diferente. Pesquisadores do Atlantic Council, com sede nos Estados Unidos, por exemplo, veem o GCI como um sistema de valores focado no Estado, projetado para eliminar valores em direitos humanos e a democracia como modelo de governança global. Como resultado, o GCI poderia ser mais amigável aos regimes autoritários para reprimir o seu próprio povo.

No entanto, a China destaca com orgulho o grande número de países que elogiam as suas três iniciativas globais – de desenvolvimento, segurança e civilização. Portanto, as três iniciativas globais constituem o núcleo da política externa chinesa, que, de fato, desafia os valores dos EUA e, assim, a primazia de Washington.

A minha mensagem principal é que se deve levar a sério a iniciativa global da China, pois as ações do governo chinês seguirão as palavras do presidente Xi – tenho certeza disso.

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