Conflitos, envelhecimento e transição energética podem trazer inflação ‘permanente’, diz BlackRock
Entre hoje e sexta-feira, são aguardadas as decisões monetárias de três dos principais Bancos Centrais do mundo.
A expectativa é que o Federal Reserve, Banco Central Europeu (BCE) e Banco da Inglaterra (BoE) optem por um aumento de 0,50 ponto-percentual nas respectivas taxas básicas de juros, sinalizando um arrefecimento no ritmo do aperto monetário.
O pivô para uma política menos agressiva se deve à leitura de que o pico da inflação principal para as economias desenvolvidas ficou para trás. Ainda assim, analistas preveem que o núcleo da inflação permanecerá consideravelmente acima das metas oficiais, ao menos, até metade do ano que vem.
Mas, de acordo com a BlackRock, a gestora com US$ 2,6 trilhões sob custódia, as projeções de parte dos agentes do mercado sobre o rumo inflacionário podem estar sendo exacerbadamente otimistas ao relegarem o impacto de três macrotendências que regerão a economia global nas próximas décadas.
Da Ucrânia a Taiwan, uma nova ordem geopolítica
A guerra da Ucrânia precipitou a entrada em uma nova ordem internacional, mais semelhante aos anos da Guerra Fria, em que blocos fragmentados de países passam a preponderar sobre um senso de cooperação globalizado.
Para a gestora de ativos, o novo desenho geopolítico deve avançar em detrimento da eficiência econômica, com a repriorização do fornecimento local de bens e serviços podendo se provar mais custoso para as companhias do que as atuais cadeias de valor transnacionais.
Nesse sentido, o caso da Ucrânia é pedagógico. As sanções econômicas colocadas pelo Ocidente sobre a matéria-prima e os combustíveis russos desencadearam a busca por uma economia nacional mais forte, com base na autossuficiência energética. Até este momento, essa tendência tem gerado escassez de oferta e um aumento vertiginoso dos preços de combustíveis.
Um ponto de maior atenção para a gestora é a tendência, traçada no último Congresso do Partido Comunista, de que a China também passe a focar mais nos seus objetivos de autossuficiência energética, tecnológica e alimentar do que no crescimento econômico com forte componente exportador.
Adicionalmente, o risco de que a China incorra militarmente contra Taiwan, como parte desse novo desenho geopolítico, e o aumento da competição estratégica entre o país e os EUA podem ter impactos perenes na oferta –e, portanto, na inflação — de produtos de alta tecnologia agregada.
O fomento das tensões em 2022 colocaram o índice BGRI da BlackRock, que mede o risco geopolítico sobre o mercado de capitais, na maior escalada em quatro anos.
Envelhecimento nas principais economias
A migração para um perfil demográfico mais envelhecido não é mais uma característica exclusiva economias como EUA, Europa ou Japão.
Países emergentes como Brasil e China passam a lidar com a queda da natalidade e da fecundidade, ao passo que avanços sociais reduzem também a mortalidade.
Essa confluência de fatores tem diminuído o tamanho da população economicamente ativa nas diversas economias, com efeitos diretos na produtividade dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Além da questão estrutural da produtividade, que toca na pressão inflacionária, a BlackRock também vê a tendência de envelhecimento como um fator de aumento do gasto público dos governos em seguridade social e outras políticas de bem-estar.
A queda da participação de trabalho é pronunciada com a chegada da pandemia de covid-19, que pode ter retirado permanentemente um número recorde de pessoas da força de trabalho.
A transição energética
Ao mesmo tempo que significa uma nova e ampla frente de investimentos, a transição para formas de energia mais limpas representa forças inflacionárias no médio-prazo.
Isso, porque as tecnologias para a utilização barata dessas fontes ainda não estão evidentes. Na perspectiva da BlackRock, “a transição deverá trazer restrições na produção, já que envolveria uma imensa realocação de recursos”.
Qualquer cenário em que a transição energética prevaleça, todavia, dependerá do uso de fontes não renováveis, como petróleo e gás natural.
No racional da gestora, se a energia não renovável de alto carbono cair mais rápido do que a adição de alternativas mais limpas à matriz global, maiores são as chances de uma escassez, com resultados disruptivos e inflacionários para a economia de todo o planeta.