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Conflito na Ucrânia não traz problema para abastecimento de trigo, diz Abitrigo

25 fev 2022, 10:43 - atualizado em 25 fev 2022, 10:43
Trigo
O Brasil, por sua vez, importa cerca de 60% do volume processado pela indústria moageira anualmente (Imagem: Pixabay)

A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) avalia que não haverá problema de abastecimento de trigo à indústria moageira do Brasil em decorrência da crise entre Rússia e Ucrânia. “Não haverá consequência do ponto de vista do fornecimento de trigo ao Brasil. Temos fornecedores na Argentina, Paraguai, Uruguai, Estados Unidos e a produção nacional vem aumentando. Até o momento, não há ameaça de falta do produto no mercado brasileiro”, disse o presidente executivo da entidade, Rubens Barbosa.

Os países do Leste Europeu estão entre os maiores players mundiais de trigo. A Rússia é líder mundial na exportação de trigo, enquanto a Ucrânia é a quarta maior exportadora global do cereal.

O Brasil, por sua vez, importa cerca de 60% do volume processado pela indústria moageira anualmente.

Contudo, o volume adquirido da Rússia é “pequeno” e 85% do cereal internalizado é argentino. O País não adquire trigo da Ucrânia. “Nos últimos dois anos, a Rússia exportou muito pouco ao Brasil. É uma quantidade marginal”, disse Barbosa. No ano passado, de 6,224 milhões de toneladas importadas, apenas 28,009 mil toneladas vieram da Rússia.

A maior parte, 5,433 milhões de toneladas, foram de cereal argentino, de acordo com dados do Agrostat – sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro.

Em contrapartida, há um impacto imediato sobre a indústria moageira com o encarecimento do trigo no mercado externo, o que se reflete nos preços do cereal argentino e na paridade de importação, elevando também a cotação do trigo nacional. Nesta semana, os futuros do trigo negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) acumulam alta de 16,3% em virtude do receio de que estes países possam deixar de exportar seu trigo em meio a um eventual conflito.

“A consequência concreta para os moinhos brasileiros é que terão preços maiores para adquirir o cereal daqui para frente até a entrada da safra do Hemisfério Norte”, comentou Barbosa. Outro efeito poderá ser observado no custo de produção da commodity, dado o cenário de aumento dos fertilizantes e risco de desabastecimento em virtude do conflito no Leste Europeu.

Outro risco decorrente do conflito é o de outros países consumidores do cereal recorrerem ao fornecimento da Argentina em cenário de interrupção das exportações russas e ucranianas. “Isso pode virar um problema porque a Argentina já vendeu mais de 13 milhões de toneladas das 20 milhões de toneladas que colheu. O volume que está faltando para exportar já deve estar vendido para tradings, que comercializarão para quem pagar mais pelo cereal”, observou o presidente executivo da Abitrigo.

Este risco, contudo, pondera Barbosa, ainda não é dado como efetivo no quadro atual. “Se houver demanda maior pelo trigo argentino pode ser um risco. No momento, o mercado demanda muita cautela. Precisamos esperar para ver a evolução da situação e como ficará o mercado global de trigo e a oferta argentina”, apontou, mencionando que o Brasil pode recorrer a outros fornecedores, como Estados Unidos, Paraguai e Uruguai. Segundo Barbosa, até o momento nenhum moinho associado à entidade relatou problemas com fornecimento de cereal, mesmo argentino, em decorrência da crise entre Rússia e Ucrânia.