Agronegócio

Confinamento de gado deve ter recorde no Brasil com disparada da arroba, diz DSM

08 out 2020, 18:10 - atualizado em 08 out 2020, 18:10
Agropecuária Boi Gado Carnes Agronegócio
Em abril, o executivo havia dito à Reuters que as perspectivas mais otimistas naquele momento viam o confinamento em 5,5 milhões de cabeças para 2020 (Imagem: Agência Brasil/Arquivo)

A chegada do coronavírus ao Brasil reduziu as expectativas de pecuaristas que pretendiam confinar gado neste ano, mas a seca e a disparada da arroba bovina que vieram a seguir surpreenderam o mercado e voltaram a fazer do confinamento uma estratégia vencedora, o que deve resultar em um possível recorde de 6,1 milhões de cabeças terminadas em sistema intensivo em 2020.

É o que mostram os dados preliminares do Censo de Confinamento DSM antecipados à Reuters, que apontam para alta de 17,3% na comparação anual, algo que não se imaginava no início da pandemia, disse um executivo da empresa.

“Em março, se você perguntasse ao pecuarista se ele ia confinar, ele dizia que não, de jeito nenhum. Os meses foram passando, o Brasil teve uma das piores secas da história, as pastagens estão em péssima qualidade e ainda veio a forte alta da arroba”, explicou o gerente de categoria Confinamento da DSM, Marcos Baruselli.

Em abril, o executivo havia dito à Reuters que as perspectivas mais otimistas naquele momento viam o confinamento em 5,5 milhões de cabeças para 2020.

O levantamento foi concluído há cerca de 15 dias pela DSM– dona da marca Tortuga e uma das principais companhias do setor de alimentação animal– e, além do recorde, trouxe um número “bem real”, com poucas chances de mudança até o fim do ano, disse Baruselli.

“Constatamos que a entrada de animais no primeiro giro de confinamento, de junho a agosto, foi muito fraca e que o segundo giro, de agosto a outubro, foi extremamente forte”, afirmou.

Uma rentabilidade nunca antes vista foi um dos gatilhos para este movimento. Com base em uma arroba de 254 reais, por exemplo, valor que pode ter sido acordado no período em que o pecuarista decidiu confinar o boi, um animal de 20 arrobas gera um retorno bruto de 5.080 reais, calculou Baruselli.

Para quem não fechou contratos prévios, o valor pode subir ainda mais, considerando que a arroba fechou em 258 reais nesta quarta-feira, de acordo com o Indicador do Boi Gordo Cepea/B3.

Em 7 de outubro do ano passado, dados do Cepea mostram que a arroba estava cotada a 160 reais, o que representou uma rentabilidade de 3.200 reais para o mesmo animal de 20 arrobas que saía do confinamento naquela época.

A forte alta nos preços do boi gordo neste ano é causada, principalmente, pela baixa oferta de animais prontos para abate. Soma-se a isso uma demanda aquecida para as exportações da carne, puxada por compras chinesas.

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Em 7 de outubro do ano passado, dados do Cepea mostram que a arroba estava cotada a 160 reais (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

“Neste contexto, mesmo com a Covid-19, com milho a 60 reais por saca, observamos uma taxa de retorno (pelo confinamento) que é a melhor dos últimos cinco anos”, disse o executivo da DSM, citando o cereal que é o principal insumo utilizado na ração animal.

Seca vs intensificação

Além da estiagem, a ocorrência de queimadas no Pantanal fez com que o confinamento fosse uma das únicas saídas para pecuaristas que tiveram fazendas afetadas, disse Baruselli.

“O confinamento é maior sempre que temos anos de seca, como esse”, afirmou ele. Segundo o executivo, queimadas decorrentes da “negligência da fiscalização do atual governo” coincidiram com um período de estiagem muito intenso.

O Mato Grosso do Sul –região mais prejudicada pelas queimadas– figurou entre os principais Estados que tiveram gado em terminação intensiva em 2020, atrás apenas de Mato Grosso, Goiás e São Paulo, conforme dados do censo da DSM.

A imposição de cenários climáticos adversos e o aumento no nível de capitalização do produtor rural ainda contribuem para que o país viva um momento de intensificação da pecuária.

“Aquela pecuária extensiva aos poucos está dando lugar a uma pecuária mais ‘tecnificada’, com uso de tecnologia, mais sustentável, não precisa de grandes extensões (de terra) para produzir um boi gordo”, afirmou Baruselli.

Essa ampliação no uso de tecnologia também se traduz em resultados para as companhias do setor. Segundo o executivo, um em cada três bois confinados no Brasil consome produtos da DSM. Com isso, a expectativa é que o volume de vendas da empresa para o segmento cresça 6% em 2020.

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