Confiança na economia tem melhorado, mas fiscal ainda preocupa, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira que dados mais recentes têm mostrado aumento da confiança nos setores da economia e que as projeções do PIB para 2021 têm respondido em alta.
Campos Neto, porém, voltou a fazer alertas sobre a situação fiscal do Brasil.
O chefe do BC participou de evento virtual promovido pelo Bank of America.
Segundo Campos Neto, o país emerge da crise da Covid-19 como um dos piores entre emergentes no que tange a elevação da proporção dívida/PIB, o que levou a curva de juros doméstica a ser uma das mais penalizadas nesse universo.
O presidente do BC afirmou que um aumento injustificado das despesas públicas para fortalecer a economia teria efeito líquido oposto, uma vez que a leitura seria de quebra de compromisso de regras de sustentabilidade fiscal.
Para Campos Neto, pode-se gastar mais para combater, por exemplo, a pandemia, mas é preciso que esses custos extras sejam bem explicados.
Ainda assim, ele rechaçou avaliações de que o Brasil esteja em dominância fiscal –quando o BC fica limitado a subir os juros porque o aumento dos custos de empréstimos deteriora ainda mais o cenário para as contas públicas.
Campos Neto justificou que os custos de emissão de dívida têm permanecido baixos a despeito das preocupações fiscais.
O chefe do BC acredita também que a pressão cambial mais forte decorrente do desmonte do “overhedge” (proteção cambial adicional dos bancos) e de pré-pagamentos de dívidas em moeda estrangeira por empresas brasileiras ficou para trás.
“Quando você tira isso, vê a maior parte disso para trás, você tem a dinâmica melhor no câmbio. E também estamos tendo mais fluxo”, afirmou, lembrando revisões para cima em estimativas para o resultado das transações correntes, em parte pela melhora nas expectativas para a balança comercial em meio ao aumento dos termos de troca num contexto de commodities em alta.
“Isso está começando a se refletir nos preços do câmbio, e vemos isso no melhor comportamento do câmbio no Brasil em relação a seus pares.”
Questionado sobre um cronograma para a entrada em vigor da moeda digital do BC, Campos Neto respondeu que isso aconteceria nos próximos dois, três anos, “provavelmente menos”, sem dar mais detalhes.