Comunidade da EOS demite empresa criadora alegando conflito de interesses
Nesta quarta-feira (8), a comunidade da rede EOS decidiu suspender os pagamentos à Block.one – a empresa que desenvolveu a rede – alegando que a companhia não está agindo de acordo com o que é melhor para a rede.
Os responsáveis pelo comando da rede pararam a emissão de 67 milhões de tokens EOS (US$ 250 milhões), que deveriam ser distribuídos durante os próximos seis a sete anos à Block.one.
A decisão também afetará Brock Pierce – cofundador da emissora de stablecoin Tether (USDT) e da Block.one – visto que a Block.one disse que Pierce receberia quase metade desses tokens.
Yves La Rose, líder da EOS Network Foundation (ENF), afirmou:
Por meio de um consenso majoritário, a rede EOS tomou seu futuro em suas próprias mãos ao votar pela demissão da Block.one e pela suspensão da atribuição de tokens a eles.
Isso dá início a uma nova era a favor da EOS e destaca o poder do blockchain de permitir que a comunidade se defenda de interesses corporativos que não estão alinhados com os dela.
O que deu errado?
Após conseguir US$ 4 bilhões em uma oferta inicial de moeda (ICO, na sigla em inglês), Block.one lançou o software para o blockchain EOS, que foi ao ar em junho de 2018.
O blockchain usa o mecanismo de consenso “Delegated Proof-of-Stake (DPoS)”, comandado pelos 21 principais produtores de blocos, os quais são escolhidos pelos detentores do token.
Esses 21 principais produtores de blocos têm, juntos, o controle de toda a rede, mas podem ser removidos caso haja conflito de poder.
Em troca pelo suporte ao blockchain EOS, Block.one deveria receber 100 milhões de EOS (US$ 376 milhões) ao longo de dez anos. Essa quantia corresponde a cerca de 10% do fornecimento total de tokens da rede.
No entanto, segundo a ENF, nos anos seguintes ao lançamento do blockchain, a comunidade EOS mostrou-se decepcionada com o compromisso da Block.one ao blockchain, em questões ligadas ao fornecimento de casos de uso para a rede.
Embora a companhia tenha divulgado uma plataforma de rede social, chamada Voice, esta não funcionava na rede EOS (e, depois, tornou-se uma plataforma de tokens não fungíveis).
A Block.one, então, anunciou planos para o desenvolvimento de uma corretora descentralizada, intitulada “Bullish” – a qual também não estava destinada a operar na EOS.
Em agosto deste ano, um grupo formado pelos atuais membros e produtores de blocos da rede contatou a ENF. O grupo indicou La Rose, que comandava anteriormente o produtor de blocos EOS Nation, como seu líder.
Em novembro, em um discurso, La Rose comunicou seus planos para a rede. Ele disse que EOS tinha sido decepcionada pela Block.one e precisava encontrar um novo caminho.
Poucos dias depois, a Block.one anunciou que doaria ou venderia 45 milhões de EOS a Helios, um novo fundo feito por Brock Pierce para atender à comunidade EOS. Oito milhões desses tokens já estavam sob o comando da Block.one, enquanto os outros 37 milhões ainda precisavam ser emitidos pela rede.
Negociações complicadas
Nos 45 dias seguintes, a ENF fez negociações com a Block.one. O objetivo principal era obter o controle sobre a propriedade intelectual da rede EOS, e o motivo principal usado pela rede foram os pagamentos contínuos à Block.one.
Porém, segundo a ENF, havia um problema fundamental, que era que os direitos sobre a propriedade intelectual da EOS dependia do balanço patrimonial da Bullish, ou seja, a Block.one precisaria comprá-los da corretora.
Isso gerou um empecilho, visto que a Block.one não se comprometia publicamente a obter de volta os direitos sobre propriedade intelectual que estavam com a Bullish.
Ao invés disso, a Block.one divulgou um comunicado de imprensa, anunciando que pretendia conceder 30 milhões de EOS dos tokens que esperava receber para a ENF. Os tokens seriam entregues à ENF ao longo do tempo, a critério da Block.one.
Porém, isso não era suficiente para EOS Network Foundation, visto que não a proposta da Block.one fornecia à comunidade os direitos sobre a propriedade intelectual.
Como resultado, os produtores de blocos da rede se uniram para interromper os pagamentos contínuos à Block.one, incluindo os tokens que estavam destinados ao fundo Helios. Ainda não se sabe se estes serão distribuídos ou se negociações futuras poderão levar à liberação dos pagamentos.