Compulsório menor: os primeiros beneficiados devem ser os próprios bancos
Anunciado pelo Banco Central (BC) na manhã desta quinta-feira (20), o corte dos depósitos compulsórios foi bem recebido pelos analistas. Com potencial para liberar até R$ 135 bilhões, a medida foi justificada pelo BC como um incentivo ao crédito, a fim de estimular a economia.
Mas, para os analistas, os primeiros beneficiados devem ser os próprios bancos.
Isto porque, segundo os primeiros relatórios que abordam o assunto, a disponibilidade de dinheiro para emprestar (conhecida como liquidez) ainda é suficiente para atender a atual demanda dos consumidores.
Mas, como toda mercadoria, o dinheiro segue a lei da oferta e da demanda. Se a economia voltar a crescer de modo consistente, mais gente pedirá crédito.
Como a matéria-prima dos bancos é o dinheiro que captam de investidores, um eventual aumento da demanda de crédito geraria um efeito-cascata: os bancos buscariam mais dinheiro no mercado para transformar em crédito – e o preço que pagariam por ele subiria.
Logo, com o desbloqueio do dinheiro que já está depositado em seus cofres, os bancos não precisarão recorrer a outras fontes, se a demanda por empréstimos crescer. Logo, não haverá pressão sobre o “preço” do dinheiro no mercado.
“Enquanto a liquidez não tem sido um obstáculo para os empréstimos, isso [o corte do compulsório] mitigará uma potencial pressão dos custos de funding, à medida que o crédito crescer”, explica o Credit Suisse, em um breve comentário assinado por Marcelo Telles.
Ceticismo
A Guide Investimentos vai pela mesma linha. A equipe da gestora afirma que a decisão do BC aumenta “a disponibilidade de caixa para que os bancos possam exercer suas atividades. Sendo assim, é esperado que as instituições desse setor possam elevar seus níveis de atividades”.
A Ágora Investimentos é ainda mais cética, quanto aos efeitos da medida, já que ela “não deve resultar em nenhum ganho material de curto prazo para os bancos, pois a liquidez do sistema é alta e saudável”.
Victor Schabbel e Maria Clara Negrão, que assinam o relatório da Ágora, observam que a redução dos compulsórios é “estruturalmente positiva para os bancos, pois diminui os custos para operar no país”.
Mas a dupla adverte: “isso não altera nossa visão cautelosa sobre o setor [bancário], pois vemos a concorrência se intensificando e as taxas cair”.
Os investidores parecem concordar com eles. Por volta das 14h10, o Santander (SANB11) era o único que operava em alta na B3, com valorização de 0,44% e preço de R$ 41,43. O Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4) recuavam, respectivamente, 1,49%, 0,68% e 0,21%.
No mesmo instante, o Ibovespa caía 1,56% e marcava 114.698 pontos.