Compras de títulos por BCs somam US$ 5,6 trilhões em meio a dúvidas
Bancos centrais globais embarcam em novas ondas de compras de títulos para combater os impactos da pandemia, apesar das crescentes avaliações de que a política está perdendo o poder de impulsionar a economia.
O Federal Reserve dos EUA, o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão e o Banco Central Europeu gastaram US$ 5,6 trilhões somente neste ano com a chamada flexibilização quantitativa, ou QE na sigla em inglês, segundo a Bloomberg Economics.
A expectativa é que o BCE aumente seus planos de compra em até 500 bilhões de euros (US$ 605 bilhões) quando se reunir na quinta-feira.
Os próprios departamentos de pesquisa dos bancos centrais produzem regularmente estudos segundo os quais o QE estabilizou os mercados, impulsionou o crescimento e acelerou a inflação.
Fora das instituições, porém, há muito menos certeza de que esses benefícios persistirão após anos de estímulo monetário na esteira da crise financeira global ocorrida há mais de uma década.
“O QE funciona particularmente bem durante períodos de turbulência do mercado, mas não será capaz de fazer muito neste momento pelo crescimento e inflação na ausência de política fiscal”, disse Peter Praet, ex-economista-chefe do BCE e arquiteto do plano de compra de títulos em grande escala da Europa, iniciado em 2015.
As compras em massa de dívida pública e privada injetam dinheiro no sistema financeiro com o objetivo de reduzir a taxa de juros sobre os ativos.
Com sua ferramenta tradicional de taxas oficiais agora perto ou abaixo de zero, o QE se tornou a principal ferramenta de estímulo para muitos bancos centrais.
Estudo recente do economista Ramin Toloui, do Stanford Institute for Economic Policy Research, argumenta que o QE tem sido eficaz na redução dos rendimentos dos títulos e “reformulou as expectativas do mercado de como o Fed se comportaria no futuro”.
Ainda assim, quanto mais caem os rendimentos dos títulos, maior o risco de consequências indesejadas. Se a política monetária agressiva dos últimos anos se esgotou, pode ser prejudicial continuar contando com ela.
Outra função central do QE, incentivar investidores a fazerem apostas mais arriscadas, perde força. Os baixos rendimentos se espalharam para ativos com vencimentos cada vez mais longos – mais adiante na curva de juros. Isso enfraquece o vínculo entre risco e recompensa.
O BOJ há muito tempo é pioneiro em QE. Mas mesmo depois de acumular ativos em escala maior do que o tamanho da economia, não conseguiu gerar a inflação estável que buscava.
Sua mudança para o controle da curva de juros em 2016 foi em parte um reconhecimento de que teve que ajustar sua abordagem para impedir que os rendimentos caíssem muito.
Esse é um problema que a Europa enfrenta agora. Joseph Gagnon, economista do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington, diz que o BCE está essencialmente “sem espaço” para o QE.
Toda a dívida soberana da Alemanha – normalmente considerada o ativo mais seguro da região – tem rendimento abaixo de zero, o que significa que investidores perdem dinheiro com os títulos na carteira.