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Comprar dólar agora para lucrar com a alta do Fed na semana que vem vale a pena?

24 jan 2023, 19:03 - atualizado em 24 jan 2023, 19:03
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Dólar tem exibido forte oscilação no mercado local com a política, enquanto fim de alta de juros nos EUA segura avanço da moeda (Imagem: Pixabay/kalhh )

Nas primeiras semanas de 2023, com um novo governo no Brasil, o dólar à vista vem exibindo sua costumeira volatilidade. Este mês, a moeda chegou à máxima de R$ 5,48, enquanto foi à mínima perto de R$ 5,05.

A oscilação mais intensa em um curto período de tempo é, segundo analistas, atrelada aos ruídos de comunicação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que envolve falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de outras pastas ligadas à economia, autonomia do Banco Central (BC), criação de uma moeda em comum com a Argentina. Além dos riscos e receios fiscais e com as contas públicas do país.

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Dólar está acomodado?

Se a moeda anda mais agitada no mercado doméstico, no exterior, o Dollar Index (DXY) tem exibido um movimento “mais comportado”. O índice que mede a força do dólar ante uma cesta de moedas opera nos menores níveis desde junho de 2022, perto dos 102 pontos.

Para o analista de inteligência de mercado da StoneX, Leonel Mattos, não se trata de acomodação do DXY e sim, uma nova leitura em relação ao dólar no exterior e à economia dos Estados Unidos.

Segundo ele, em meio às sinalizações do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americana) de que reduzirá o ritmo de alta de juros, houve uma migração de recursos para a Europa, região que tem elevado o tom em relação a política monetária.

“O ciclo de alta de juros parece estar chegando ao fim nos Estados Unidos. Com isso, estamos acompanhando um arrefecimento do dólar. Além disso, as perspectivas econômicas para o país estão um pouco melhores e isso tirou um pouco de peso sobre a moeda. É muito mais uma mudança de leitura do que acomodação de patamar”, avalia.

Entretanto, a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, diz que há um consenso de que o dólar já tenha atingido seu pico no cenário internacional.

“A elevação de juros nos Estados Unidos [ciclo iniciado em março de 2022] resultado em alta global do dólar. Agora, com a proximidade do fim do ciclo de altas [de juros] por lá, a retomada de preços das commodities e a reabertura da economia da China, temos um arrefecimento também global da moeda americana”, comenta.

Segundo a economista, a expectativa para o encontro do Fed na próxima semana, que deverá resultar em alta de 0,25 ponto percentual (p.p.), mesmo que diretores da autoridade monetária mantenham um discurso mais duro (“hawkish”) em relação ao combate à inflação.

“O discurso diz mais sobre manter a taxas de juros elevada por um período prolongado do que no sentido do aperto monetário ser maior do que precificado pelo mercado. Após essa elevação residual de 0,25 p.p., o mercado vai entender se o Fed deixará a porta aberta para mais altas residuais”, acrescenta.

Euro fortalecido indica dólar mais fraco

O analista da StoneX chama a atenção para os atuais patamares do euro, cotado na faixa de 1,08 em relação a US$ 1. A moeda da zona do euro opera nos maiores níveis dos últimos oito meses e deixa para trás o cenário de paridade com a moeda norte-americana, alcançada entre julho e agosto do ano passado.

Com isso, Mattos observa que a expectativa econômica para a Europa mudou, com a região trilhando um caminho de mais altas de juros, sentindo os efeitos da inflação e mostrando que, em relação aos Estados Unidos, deverá levar mais tempo para recuperar-se.

“O euro e a libra, um pouco, têm mostrado essa mudança de cenário frente ao dólar. Enquanto elas se fortalecem, a moeda americana vai se arrefecendo, diluindo um pouco as apostas de recessão nos Estados Unidos”, comenta.

O que fazer até o Fed?

A economista da Veedha diz que, nas últimas semanas, o cenário internacional tem ajudado a dar fôlego para o real em relação ao dólar.

Porém, não fosse o cenário político mais sensível, a moeda brasileira poderia “estar desfrutando” de um momento mais positivo. “Poderia estar mais perto dos R$ 5. Mas a política tem sido um contrapeso para isso”, pondera.

Mattos, da StoneX, acrescenta que até a reunião do Fed e no curto prazo, a moeda norte-americana deve seguir exibindo oscilações no mercado doméstico. Porém, limitada na faixa entre R$ 5,20 e R$ 5,40.