AgroTimes

Compradores da China optam por soja mais barata do Brasil antes do retorno de Trump

17 jan 2025, 11:13 - atualizado em 17 jan 2025, 11:13
china soja
(Imagem: REUTERS/Stringer)

Processadores chineses de soja têm procurado cargas brasileiras com preços competitivos em vez da oleaginosa dos EUA, em meio a temores de que Washington imponha tarifas de importação após a posse do presidente eleito Donald Trump, em 20 de janeiro.

As preocupações com o recrudescimento das tensões comerciais durante o segundo governo de Trump já desestabilizaram os fluxos comerciais para a China, o maior importador de produtos agrícolas do mundo, levando os compradores a fazer estoques e buscar fornecedores alternativos.

Processadores chineses garantiram quase todas as suas cargas do Brasil para embarque no primeiro trimestre, de acordo com três fontes comerciais.

No ano passado, o Brasil foi responsável por 54% das importações chinesas de soja no primeiro trimestre, enquanto os EUA forneceram 38%. A China consome mais de 60% da soja embarcada em todo o mundo.

“Esmagadoras chinesas já estão reservando cargas brasileiras para embarque em fevereiro e março”, disse um trader em Cingapura. “Tanto as esmagadoras estatais quanto as privadas, todas elas estão adquirindo grãos brasileiros. É uma mudança de 100% para o Brasil.”

Trump ameaçou impor tarifas de 10% a 60% sobre os produtos da China, o que provavelmente levaria a tarifas chinesas retaliatórias sobre os produtos agrícolas dos EUA.

A participação das importações chinesas de soja dos Estados Unidos caiu para 18% nos primeiros 11 meses de 2024, de 40% em todo o ano de 2016, enquanto a participação do Brasil cresceu de 46% para 74%, de acordo com dados da alfândega chinesa.

A soja sul-americana, que é colhida no início do ano, domina o comércio global até que os suprimentos dos EUA entrem no mercado a partir de agosto.

No entanto, este ano, os importadores chineses de sementes oleaginosas se voltaram para os grãos brasileiros mais rapidamente e em massa, atingindo os fornecedores dos EUA no final de sua temporada de pico de comercialização em janeiro.

É provável que isso deixe os EUA, o segundo maior exportador de soja depois do Brasil, com 10,34 milhões de toneladas de grãos até o final do ano comercial de 2024/25 em agosto, o maior volume em cinco anos, de acordo com estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA.

Grãos mais baratos

O preço competitivo da soja brasileira é um dos principais atrativos para os importadores chineses, segundo os traders.

“As preocupações com possíveis tensões comerciais, especialmente após a reeleição de Trump, levaram ao aumento das compras de soja no quarto trimestre de 2024, com os embarques chegando no final de 2024 e no primeiro trimestre de 2025”, disse Lin Guofa, analista sênior da consultoria Bric Agriculture Group.

“O clima favorável no Brasil e a desvalorização do real reduziram os custos de produção, incentivando mais importações de soja”, acrescentou Lin.

A diferença entre a soja dos EUA e a do Brasil aumentou em meio às expectativas de uma safra recorde no país sul-americano.

A soja do Brasil está sendo cotada a 420 dólares por tonelada, incluindo custo e frete, para a China em fevereiro, enquanto as cargas do noroeste do Pacífico dos EUA estão em torno de 451 dólares por tonelada.

No entanto, a ampla oferta doméstica provavelmente limitará a demanda de soja, disseram os traders.

As importações de soja da China no primeiro trimestre devem cair para 17,3 a 18,0 milhões de toneladas, em comparação com 18,58 milhões de toneladas há um ano, de acordo com a média das estimativas de quatro analistas.

“O principal motivo foi o excesso de oferta de soja importada em 2024, e agora todos estão esperando a chegada das novas safras brasileiras”, disse um analista baseado em Xangai, que não quis se identificar por não estar autorizado a falar com a imprensa.

A China importou um recorde de 105,03 milhões de toneladas de soja em 2024.

Enquanto os compradores privados se voltam para os suprimentos brasileiros, comerciantes disseram que a Sinograin, empresa estatal de estoques, ainda está no mercado para a soja dos EUA, que é preferida para estocagem devido ao maior teor de óleo.

reuters@moneytimes.com.br