Coluna do Hsia Hua Sheng

Competitividade americana na Era Trump 2.0: Tarifas, estratégias e impactos globais

27 jan 2025, 10:31 - atualizado em 27 jan 2025, 10:31
donald trump estados unidos eua
Na semana passada, Trump anunciou a imposição de uma tarifa sobre produtos do Canadá, México e China a partir de 1º de fevereiro. (Imagem: REUTERS/Carlos Barria)

A estratégia do presidente Donald Trump de utilizar tarifas como instrumento de negociação no comércio global gerou reações diversas. A ideia de renegociar condições comerciais com os principais parceiros dos Estados Unidos para reduzir o déficit comercial pode trazer benefícios de curto e médio prazo para a economia americana.

Na semana passada, foi anunciada a imposição de uma tarifa sobre produtos do Canadá, México e China a partir de 1º de fevereiro, caso esses países não cumpram as novas condições comerciais impostas.

No entanto, a adoção de uma estratégia punitiva de tarifas unilaterais pode desencadear um ciclo vicioso, com potenciais efeitos negativos para o dólar americano. Entre esses efeitos estão: redução nas vendas, aumento da pressão inflacionária, necessidade de elevar ou manter altos os juros, queda nos lucros das empresas americanas, desvalorização dos índices das bolsas de valores e perda de confiança dos investidores.

Esses fatores podem resultar na venda de títulos do Tesouro dos EUA, forçando novos aumentos nas taxas de juros e exacerbando a inflação.

Próximos passos econômico-financeiros de Trump

Para entender melhor essa nova estratégia de negociação comercial, é útil observar os primeiros decretos e medidas anunciados pelo governo Trump:

  1. Pressão para aumentar compras de produtos americanos
    Os países da União Europeia têm enfrentado pressões para adquirir mais petróleo e gás natural dos EUA. A China também tem sido pressionada a ampliar suas compras de produtos agrícolas americanos.
  2. Abandono de compromissos com a economia sustentável
    Os EUA, como potência no agronegócio e na energia fóssil, buscaram sair do Acordo de Paris para evitar custos e punições relacionados ao não cumprimento de metas ambientais. Essa saída permite um aumento na produção sem restrições ambientais e reduz a chamada “inflação verde”, já que empresas americanas não precisam investir em equipamentos mais caros e sustentáveis.
  3. Fortalecimento dos bancos americanos
    Com a saída do Acordo de Paris, os bancos americanos deixam de financiar projetos verdes, como os vinculados a ESG (ambiental, social e governança). Esses projetos frequentemente apresentam retornos mais baixos e maior risco, e a ausência dessa obrigatoriedade aumenta os lucros e o capital disponível dos bancos.
  4. Regulamentação de criptomoedas como ferramenta de guerra financeira
    O governo busca transformar os EUA no maior mercado global de criptomoedas, regulando a negociação e criação de ativos digitais sem lastro. Isso atrai investidores globais para esse “cassino financeiro”, apesar dos riscos especulativos.
  5. Redução de importações e aumento da competitividade industrial
    O governo Trump incentivou a produção de semicondutores nos EUA, setor considerado estratégico na economia digital e de inteligência artificial. No futuro, os EUA podem expandir sua indústria tecnológica para áreas como veículos elétricos, painéis solares e baterias.
  6. Manutenção da liderança em inteligência artificial (IA)
    Os EUA ainda lideram em aplicações de IA, como o ChatGPT. No entanto, essa posição está sendo desafiada por empresas como a DeepSeek, da China, que desenvolve soluções semelhantes com custos reduzidos e maior eficiência, mesmo enfrentando restrições no acesso a semicondutores avançados.

Impactos para o Brasil

No comércio internacional, o Brasil, também potência em agronegócio e energia, deve monitorar de perto as negociações americanas com Europa, China e países árabes, que podem afetar exportações brasileiras. É crucial que o governo brasileiro prepare um pacote de medidas para apoiar exportadores, caso os EUA “forcem” seus parceiros a priorizar produtos americanos.

No mercado financeiro, dependendo dos desdobramentos das negociações americanas, investidores brasileiros podem considerar diversificar seus portfólios, alocando parte de seus recursos em setores promissores do mercado de capitais dos EUA ou da China, como bancos, logística (transporte de gás) e tecnologia avançada, especialmente em aplicações de IA.

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Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
hsia.sheng@moneytimes.com.br
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Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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