Companhias aéreas temem nova crise de caixa
Com novos obstáculos para a retomada das viagens aéreas, o setor pode enfrentar uma crise de caixa.
Um segundo verão perdido para a pandemia de coronavírus poderia levar a uma onda de recuperações judiciais de companhias aéreas e pedidos de falência, juntamente com uma repetição dos resgates de 2020, demissões, adiamento de encomendas de aviões e cancelamentos, segundo a consultoria IBA Group.
O otimismo que levou o índice Bloomberg World Airlines ao maior nível desde o início da pandemia evaporou na última semana.
A TUI AG, maior operadora de turismo do mundo, reduziu a programação de verão para refletir uma alta temporada que não começará até julho, pelo menos dois meses depois do normal.
A Ryanair realizou uma coletiva de imprensa para tranquilizar os possíveis turistas de que poderão mudar os voos gratuitamente e pediu que não entrem em “pânico” com manchetes negativas.
“O terreno muda de um dia para o outro”, disse Stuart Hatcher, da IBA. Os governos estão cientes de que adiar a reabertura das viagens significará mais perdas para a indústria de aviação, mas estão preocupados com o aumento dos casos de Covid-19, mesmo com a continuidade da vacinação, disse em entrevista.
As aéreas europeias sentiram particularmente a incerteza por causa dos casos crescentes e dos novos lockdowns. Empresas voltadas para o turismo, como a TUI e a Ryanair, costumam usar os primeiros três meses do ano para receber reservas de verão, o que permite fazer caixa enquanto preparam as operações.
Qualquer margem de manobra está diminuindo rapidamente. A TUI, que atende turistas alemães e britânicos que inundam o Mediterrâneo durante os meses mais quentes, disse na quinta-feira que tem liquidez suficiente para durar “até o verão”, sem ser mais específica. A IAG, proprietária da British Airways, garantiu um novo empréstimo usando seus cobiçados slots de decolagem e pouso no aeroporto Heathrow de Londres como garantia.
Prazo de julho
As viagens precisam ser retomadas para valer até 1º de julho ou as companhias aéreas correm risco de perder os poucos meses que proporcionarão a maior parte dos ganhos anuais, disse na quinta-feira o CEO da Air France-KLM, Ben Smith.
“Julho é fundamental porque o terceiro trimestre, para a maioria das companhias aéreas europeias, é o trimestre-chave para sobreviver ao longo do ano”, disse Smith em coletiva realizada pelo grupo de lobby das Airlines for Europe. O grupo tem pressionado pela rápida adoção dos chamados passaportes da vacina e pelo fim das quarentenas que, afirma, esmagam a demanda.
Embora 45 companhias aéreas tenham pedido falência em 2020, muitas outras continuam a ter esperança de um renascimento iminente dos mercados de lazer, disse Hatcher, da IBA. Isso parece menos provável diante do cenário atual. Na quinta-feira, o Conselho Internacional de Aeroportos disse que o tráfego global de passageiros permanecerá quase 50% abaixo dos níveis normais neste ano.
As maiores áreas da América Latina, como Latam Airlines, Avianca e Grupo Aeromexico, que pediram proteção contra credores sob a lei de falência dos EUA devido à falta de resgates de seus governos, provavelmente buscarão extensões se o fluxo de caixa não se recuperar, disse Hatcher.