Coluna do Hsia Hua Sheng

Como sucesso do jogo ‘Black Myth: WuKong’ pode aumentar PIB da China em 2024

26 ago 2024, 10:53 - atualizado em 26 ago 2024, 10:53
Black Myth: Wukong
Fenômeno do jogo evidencia a determinação da China em modernizar suas indústrias com alta tecnologia. (Reprodução: Game Science)

O estrondoso sucesso de vendas do recente lançamento do jogo de RPG “Black Myth: Wukong”, da startup Game Science, mostra a revolução e inovação tecnológica na indústria de entretenimento de jogos eletrônicos na China.

Nos primeiros três dias após o lançamento, foram vendidas 10 milhões de cópias. Com um orçamento de produção de RMB 400 milhões ao longo de cinco anos, a empresa conseguiu atingir o payback em apenas dois dias. A expectativa é de um crescimento exponencial nas vendas nos próximos meses.

Esse sucesso não só atende aos amantes de jogos eletrônicos sofisticados do mundo inteiro, mas também trará um efeito de spillover (transbordamento) no crescimento econômico e no mercado financeiro. Esse fenômeno evidencia a determinação da China em modernizar suas indústrias com alta tecnologia e continuar sua abertura econômica e institucional.

Diferente dos jogos anteriores feitos por empresas chinesas, o lançamento de Wukong representa o nascimento de um moderno ecossistema de produção chinesa de jogos AAA, caracterizado por elevado orçamento, longo tempo de produção, grandes equipes, complexidade cinematográfica, realismo nos cenários e diversidade cultural. Até então, esse tipo de produção AAA era dominado por empresas americanas, europeias e japonesas, associadas a PlayStation, Xbox e Nintendo.

Este é apenas um dos quatro grandes romances clássicos da literatura chinesa, então podemos esperar novidades em jogos AAA nos próximos anos. A história do querido macaco Wukong é bem conhecida por todos os chineses de todas as idades.

Trata-se de uma mitologia baseada em “Jornada para o Oeste”, que pais e professores contavam, brincando e provocando a imaginação das crianças com elementos da natureza, cultura e costumes da China. Vou contar um segredo: mesmo que essa literatura não caísse nas provas, todas as crianças liam e se divertiam com a história… Eu mesmo devo ter lido mais de 10 versões!

Wukong também veio para contribuir com o Produto Interno Bruto (PIB) da China. Uma das preocupações dos economistas ocidentais em relação ao crescimento do PIB chinês era o consumo interno. O efeito de spillover deste jogo deve intensificar o consumo e a geração de emprego e renda na China, pelo menos nos seguintes aspectos:

  • Promoção do turismo interno: A maioria dos cenários do jogo são reais, parte dos 5000 anos de história da China. Dos 36 cenários do jogo, 27 estão na província de Shanxi, onde foram capturados antigos templos, estátuas, cavernas, deuses e montanhas rochosas. Os outros cenários são de Hangzhou e da província de Zhejiang. Vários desses monumentos são da dinastia Tang e são classificados como patrimônio histórico da humanidade pela UNESCO. Para preservar a precisão histórica da arquitetura no jogo, a equipe de produção recriou meticulosamente esses marcos renomados.
  • Modernização dos equipamentos eletrônicos: Quem não quer ter um computador de última geração para aproveitar ao máximo os recursos visuais e tecnológicos do jogo? A demanda por componentes de computadores, processadores, placas gráficas, vídeos e sons tem aumentado. Marcas de televisores (como Hisense e TCL) e de equipamentos de som e consoles de games (como o PlayStation 5) estão associando suas marcas ao jogo para aproveitar a onda de compras e demanda.
  • Promoção de chips de IA e serviços de nuvem: Para produzir tantos efeitos especiais, gráficos, sons e luzes no jogo, foram utilizados cálculos complexos com ajuda de processadores de IA. Muitos jogadores também utilizam tecnologia de nuvem para rodar o jogo, aumentando a demanda por chips de IA, que a própria indústria chinesa consegue produzir.
  • Criação de empregos e renda no ecossistema de produção de jogos AAA: Jogar Wukong é como interagir com um filme de alta definição. Todo o processo de produção cria empregos diretos e indiretos nas indústrias de entretenimento, economia digital, turismo e cinema. O maior beneficiado é a criação de empregos e renda para jovens, que são recrutados para várias funções nessa cadeia de serviços de entretenimento.

E como o Brasil será afetado com os jogos da China?

Com a expectativa de crescimento econômico chinês acima de 5% em 2024, também haverá um impacto positivo no crescimento econômico brasileiro, que pode superar 3% em 2024, com o aumento dos investimentos da China no Brasil e das importações de produtos e serviços brasileiros.

Para os amantes de videogames sofisticados, vale a pena experimentar este novo jogo AAA de altíssima qualidade. Segundo comentários de YouTubers, os jogadores brasileiros estão surpreendidos e satisfeitos com o simpático e corajoso macaco Wukong.

E para os interessados no mercado financeiro, é hora de considerar investir no mercado acionário chinês. Os preços históricos das empresas estão baixos, e ações de várias empresas chinesas relacionadas à indústria de videogames e à fabricação de eletrônicos para PCs tiveram altas expressivas nos últimos dias. Este é o efeito de spillover do querido Wukong no mercado financeiro.

  • Leia mais: Vale a pena investir na bolsa agora, mesmo com a máxima histórica do Ibovespa? Analista responde

*As análises e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam uma visão das instituições das quais o autor pertence.

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Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
hsia.sheng@moneytimes.com.br
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Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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