Como sobreviver à crise sem renunciar aos seus investimentos?
Ao lado da avalanche de informações vindas de Brasília a cada minuto, o que nos lembra que 2014 não acabou, o investidor com recursos em alguma aplicação esteve os últimos dias em um quase torpor. A dúvida mais comum na cabeça de todos era, provavelmente, esta: “Devo ir ou não com a manada”?
A resposta é que não existe uma só verdade. Um momento como este configura uma quebra estrutural tamanha que a humildade de reconhecer o imponderável deve prevalecer. Já passamos por isso algumas vezes recentemente (2002, 2008, 2016) e aqui estamos mais uma vez.
O mercado teve um dia inteiro para tentar precificar este cenário dilacerado no qual não se sabe mais em qual alicerce encostar as suas projeções. Até onde vai o dólar e o juro? Quem é ou será o presidente? E o risco-país? A nossa sorte é que o mercado financeiro brasileiro é líquido e desenvolvido o suficiente para nos trazer algumas respostas.
“Não tente adivinhar o futuro: dias como hoje mostram que isso, além de impossível, é inútil. Não caia na tentação de pensar: “Vou vender agora e voltar quando tudo estiver mais claro”. Quando tudo estiver mais claro, não haverá oportunidades”, ressalta Pedro Cerize, autor da newsletter “Gritty Investor” da Inversa.
E dólar, para onde vai?
O ajuste de cenário feito pelo mercado foi acelerado. O dólar disparou 7,9% e terminou o dia a R$ 3,38. Enquanto na semana passada o Itaú havia reduzido a projeção de R$ 3,35 para R$ 3,25 em 2017, na quinta-feira o Credit Suisse subiu a estimativa para 3 meses de R$ 3,20 a R$ 3,50 e, a para 12 meses, de R$ 3,50 a R$ 3,70.
Esta mudança é quase como um vírus para as planilhas de valuation dos analistas. Das duas uma: ou é uma oportunidade ou uma enrascada. Quem enxergou a grama mais verde para algumas ações foi o Santander. O banco lembrou do benefício que um dólar mais alto traz para as ações da Suzano, Klabin, Iochpe-Maxion, Tupy, Weg e Braskem. O Credit Suisse elevou a Fibria para compra.
Vale lembrar, contudo, que está é uma posição baseada em uma mudança de cenário de curtíssimo prazo e que pode mudar mais uma vez na semana que vem. O “overnight político” brasileiro já é tão famoso, afinal, que o próprio House of Cards reconheceu a derrota em seu Twitter público para todo mundo ver: “Tá difícil competir”. E, se você não for um Batista com informações privilegiadas, mexer com o dólar tendo uma vara curta é sempre arriscado.
O mundo acabou!
Não acabou! Chegou a hora de o investidor de longo prazo acender uma vela para Benjamin Graham e lembrar das suas crenças mais profundas. Afinal, o que é um circuit breaker para você? Em uma carta enviada a clientes nesta manhã, a Empiricus Research aproveitou a deixa e recomendou o que fazer: “nada”.
“Estamos no meio do tiroteio e, nessas situações, mexer-se é a pior das soluções. O momento é de extrema incerteza e falta de visibilidade. É muito cedo para qualquer conclusão e, sinceramente, ninguém sabe o que vai acontecer. Qualquer um que arrisque traçar um prognóstico preciso mergulha num mar de charlatanismo. O futuro é opaco e impermeável. Hoje, mais do que nunca. Quando todos os outros entrarem em pânico, você não poderá entrar também”, ressaltou o estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda, em seu relatório Daily Pro.
Esta é a mesma visão compartilhada por Victor Benndorf, da consultoria independente Benndorf Research: “Recomendamos aguardar a turbulência inicial e esperar por sinais de sustentação no curto prazo para efetuar compras (não comprem facas caindo!)”, alerta o analista “pés no chão” em seu relatório “call de mercado”.
Oportunidades
Há alguns dias, o Money Times publicou uma “carteira da recuperação” com 12 indicações de quatro analistas independentes. A surpresa foi que cada um dos consultados, Eleven Financial, Suno Research, Upside Investor e WhatsCall, trouxe indicações diferentes, o que tornou o levantamento ainda mais interessante. São empresas, segundo eles, que sobreviveram a 11 trimestres de recessão. O que muda agora?
O sócio fundador da Suno Research, Tiago Reis, lembra que em períodos de incerteza “é importante nos lembrarmos que empresas rentáveis e sólidas, continuam tendo estas características independente da sua cotação no mercado, dessa forma, uma queda no valor das ações, não necessariamente significa uma queda em seu valor”.
Enfim, apesar de o pessimismo estar crescente, as condições para a economia ainda seguram a expectativa de queda nos juros, ainda que muito menor, e de inflação controlada. Ah…já ia me esquecendo…e a política?
Cisne Negro
A consultoria Pulso Público comparou o estrago feito pela delação da JBS com a ideia do Cisne Negro, definida por Nassim Taleb como um “um evento inesperado, ao qual em geral atribuímos uma baixa probabilidade de ocorrer, mas cujo impacto é devastador, caso ocorra”. É importante lembrar, explicam os cientistas políticos, que nem todos são submetidos aos efeitos do “Cisne Negro” da mesma forma pois alguns são mais frágeis que outros.
O mais provável, aponta a Pulso Público, é a manutenção do atual grupo político, mas esvaziado de poder. “Ou, então, a ascensão de um governo caretaker até a eleição de 2018, que pouco poderá alterar o status quo. Cenários menos prováveis dizem respeito à alteração da Constituição ou a interpretação flexível da Carta Magna para permitir a realização antecipada de eleições diretas”, pontua a consultoria em uma análise enviada a clientes.
Desta forma, quem almeja ser um sobrevivente desta crise precisa descobrir o quão antifrágil é para enfrentar de frente um mercado que irá colocar à prova todas as suas fraquezas.