Como se proteger da volatilidade eleitoral e quais os possíveis cenários para 2019
Por Investing.com – A cada pregão que se encerra na Bovespa, o mercado se aproxima de um dos momentos mais aguardados em 2018. Em 6 de outubro, os brasileiros irão às urnas para decidir quem serão os dois candidatos irão disputar o 2º turno na corrida pelo Palácio do Planalto. Entre as muitas incertezas, os analistas têm um consenso: aguarde (muita) volatilidade.
Os investidores se protegem do risco de uma candidatura considerada pouco capaz – ou até mesmo desinteressada – em corrigir o rumo do rombo fiscal do país reduzindo suas apostas em ativos de risco, como as ações, e comprando dólar.
Somente em agosto, a moeda saltou 8,6% e tocou os R$ 4,13, maior cotação desde os momentos de incerteza política que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.
Se o cenário interno não motiva os investidores a apostar em maior risco, o exterior também não tem colaborado com os EUA sendo o principal fator desestabilizador do mercado. Enquanto os índices em Wall Street batem recorde e trazem otimismo ao investidor global, a guerra comercial travada com China, Europa, Nafta e, recentemente, Turquia elevam o risco global.
Proteção de capital
Em meio a esse ambiente, o investidor se pergunta como proteger seus investimentos e patrimônio?
Para Pedro Galdi, analista de investimentos da Mirae Asset, o investidor que possui em seu portfólio ativos de risco como ações e dólar deve estar atento à volatilidade, mas ter calma na hora de mexer em seus investimentos. Para quem já está posicionado e têm metas de longo prazo, o momento é de preservar posição, pois o mercado deverá se ajustar ao novo cenário após as eleições.
Uma alternativa para quem investe na Bolsa é reduzir sua exposição à volatilidade para preservar seu patrimônio, segundo Nicolas Takeo, analista da Socopa Corretora. Para isso, é preciso diversificar os investimentos e buscar opções ofereçam algum tipo de hedge, como Certificados de Operações Estruturados (COE). Em ações, Takeo complementa, que é a hora de apostar em empresas de qualidade – com geração de fluxo de caixa operacional resiliente, baixa alavancagem e boa gestão.
Ele destaca que, independentemente do resultado eleitoral, as preocupações dos investidores brasileiros continuarão centralizadas na saúde das contas públicas, política monetária e na agenda de reformas econômicas (privatização, tributação de dividendos, simplificação tributária, entre outras).
O olho no longo prazo também é importante para não se assustar e tomar decisões baseadas nas reações do mercado às sucessivas pesquisas eleitorais. O analista Paulo Gitz, do MotoCapitalGroup, avalia que a campanha está apenas no início e a inclusão do nome de Lula nos levantamentos está poluindo muito os resultados.
Para as próximas semanas, a ascensão natural do nome de Fernando Haddad nas pesquisas como parte da aguardada transferência de votos de Lula para o novo cabeça de chapa do PT deverá trazer muita volatilidade.
Nas pesquisas recentes, Haddad ainda permanece com baixo nível de intenção de votos, na casa de 6%, mas a apresentação de seu nome junto ao do ex-presidente dobra seus resultados. Vale ressaltar que, nesta etapa da campanha, o PT ainda não assume que Haddad será o candidato e ainda não começou o trabalho efetivo para transferir os votos de Lula para o ex-prefeito de São Paulo.
Cenário Eleitoral
O cenário eleitoral mostra que, na prática, apenas quatro candidatos disputam as duas vagas para o segundo turno: Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e o candidato do PT, provavelmente Fernando Haddad, segundo Gitz.
Para ele, somente Haddad representa um risco para a economia e, por isso, esse cenário local conturbado traz um potencial mais alto para o país dada a grande assimetria de risco em relação aos demais emergentes EEM (NYSE:EEM) no plano internacional.
Nos cálculos do MotoCapitalGroup, Haddad deve conseguir converter até 60% das intenções de voto de Lula, o que o deixaria com 24%.
No caso de Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas, tem uma base sólida de 20%, limitando a se um teto de 30% devido à sua alta rejeição. Pesa contra o deputado federal o pouco tempo de TV e os constantes ataques que deve receber durante a campanha.
O viés para o Alckmin é de alta, segundo o analista, que acha pouco provável ele consiga menos votos do que os 23% que Jose Serra teve no primeiro turno de 2002, pior desempenho de um tucano desde Mário Covas em 1989. A favor de Alckmin conta o grande tempo de exposição na TV e candidatos fortíssimos puxando votos em São Paulo (Doria) e Minas Gerais (Anastasia).
Marina Silva corre por fora e poderá dar um sprint final. Gitz lembra que ela chegou a ter 35% das intenções de voto em 2014 no pós-morte de Eduardo Campos, mas poderia ter algo entre 20 e 25%
Propostas dos candidatos para economia
Na semana passada, banco Itaú Unibanco (SA:ITUB4) divulgou levantamento consolidando as propostas para a área econômica apresentada pelos candidatos à presidência da República.
Dos cinco candidatos mais bem posicionados nas pesquisas, apenas dois defendem a manutenção do teto que limita as despesas do governo e da reforma Trabalhista. Os outros três defendem ou revogar as medidas, ou alterar a forma que foi aprovada.
Em relação à Reforma da Previdência, alguns candidatos pretendem criar uma capitalização mista, um sistema, coexistiriam com o atual sistema com o de distribuição, enquanto outros defendem uma melhoria do sistema atual.
O banco destaca o ponto que todos os candidatos defendem a simplificação fiscal, com a criação de um imposto sobre o valor agregado (IVA).
Propostas | Ciro Gomes | Alckmin | Bolsonaro | Lula | Marina |
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Teto de Gastos | Revogar | Manter | Manter | Revogar | Elevar gastos na proporção inflação +50% do crescimento do PIB |
Previdência | Regime misto (capitalização e atual) | Unificar o sistema | Criar regime de capitalização para novos trabalhadores e melhorar o atual | Convergir os regimes públicos e combater privilégios | Idade mínima, período de transição e regime misto |
Outros assuntos fiscais | Aumentar gastos públicos | Encerrar o déficit em 2 anos | Orçamento base zero, pagar dívida com privatizações e encerrar déficit em 2 anos | Renegociar dívidas dos estados e municípios | Ajuste fiscal e reformular fundo eleitoral |
Impostos | Taxar dividendos e heranças | Manter impotos, trocar a composição | Garantir renda mínima | Isenção para menos de 5 salários mínimos; taxação de super ricos e dividendos | Taxação de dividendos |
Banco Central | Metas de inflação e de emprego | Meta de inflação | Meta de inflação e independência | Metas de inflação e de emprego | Meta de inflação |
Reforma tributária | IVA | IVA | IVA | IVA | IVA |
Privatização e BNDES | Aumentar participação do BNDES | Privatizar; manter atuação do BNDES | Privatizar; manter atuação do BNDES | Encerrar privatizações; aumentar participação do BNDES | BNDES focado em inovação |
Reforma trabalhista | Alterar | Manter | Manter | Revogar | Alterar |
Abertura de mercado | Aumentar exportações de industrializados; taxa de câmbio competitiva | Aumentar abertura | Aumentar abertura | Aumentar integração da América Latina e BRICs | Aumentar abertura gradualmente |
Cenário Pós-Eleitoral
– Bolsonaro eleito: Para Gitz, o mercado deverá gostar de Paulo Guedes no comando da economia. No entanto, há duvidas quanto a governabilidade. Ibovespa aos 90 mil pontos e dólar a R$ 3,50.
– Maria eleita: Apesar de contar com uma boa equipe de economistas, seria uma decepção para o mercado. Além disso, o analista também chama a atenção para a possível falta de governabilidade e as dificuldades de implementar alguma reforma. Ibovespa nos 75 mil pontos e dólar em R$ 3,80.
– Alckmin eleito: Gitz destaca que esse é o cenário dos sonhos do mercado, com reformas avançando e confiança do investidor em alta. Ibovespa nos 120 mil pontos e dólar a R$ 3,20.
– Haddad eleito – Entres os cenários plausíveis, é o pior de todos com Ibovespa em 50 mil pontos e dólar a R$ 6,00. O improvável cenário de Lula conseguir ser candidato e vencer as eleições, para Gitz, seria instaurado um clima de guerra civil, com uma grande crise institucional e a falência do Estado. Nesse contexto, o Ibovespa despencaria para os 35 mil pontos e o dólar iria a R$ 8,00.
Apesar de não confiar que Ciro Gomes consiga alcançar o segundo turno, o analista prevê que a vitória do candidato é um cenário ruim, mas com menor potencial destruidor do que uma vitória do PT. O analista destaca que Ciro tentaria ser amigo do mercado no começo do mandato para tentar criar uma base de governo. Ibovespa aos 60 mil pontos e dólar a R$ 5,00.
Comparação com 2002
Na semana passada, o Valor Econômico trouxe como reportagem principal uma entrevista com economista Armínio Fraga, que destacou que o atual cenário para os mercados representa um risco maior do que vivenciou quando comandava o Banco Central em 2002.
Na ocasião, com Lula liderando as pesquisas e sua vitória dada como certa, o dólar superou o patamar os R$ 4,00, que em valores atualizados representaria R$ 7,00 atualmente.
Armínio destacou que, ao contrário que em 2002, não basta que o vencedor conquiste a confiança do mercado. Agora, é necessário um ajuste de 6% do PIB para conseguir reduzir a relação dívida/PIB. Quando assumiu, Lula precisou fazer um ajuste de apenas 0,5%.
O ambiente externo também era mais complicado em 2002. Para Takeo, além de preocupações com questões geopolíticas após o atentado de 11 de setembro nos EUA, o contexto internacional estava caracterizado por um processo de recuperação do crescimento nas principais economias desenvolvidas ainda bastante recente.
Ele explica que a situação externa do Brasil no período também era bem mais frágil. O Brasil entrou no processo eleitoral de 2002 com um déficit em conta corrente de mais de 4% do PIB e apenas US$ 34 bilhões de reservas internacionais, que representava uma fração da dívida externa, então de US$ 210 bilhões. Hoje o déficit em conta corrente é de cerca de 0,38% do Produto Interno Bruto (PIB), o país é credor externo líquido e as reservas internacionais chegam a US$ 370 bilhões.
No frigir dos ovos
Independentemente do que acontecer até o 6 de outubro, o investidor deve ter em mente que os tempos são de incertezas. Isso quer dizer que a cada nova pesquisa, a cada palavra mal ou bem colocada por um candidato ou até mesmo o desempenho de um dos postulantes ao Planalto em um debate, pode puxar o movimento dos mercados para cima ou para baixo.
Neste período, é fundamental que o investidor tenha sua estratégia definida de acordo com seu perfil. Com a contabilidade das urnas no dia 6, e a definição dos nomes que disputarão o segundo turno, terá início uma nova disputa e, muito provavelmente, uma nova temporada de incertezas.