Coluna do Fabrício Gonçalvez

Como se comportou o Ibovespa em outros ciclos da Selic?

24 out 2023, 14:13 - atualizado em 24 out 2023, 14:18
Banco Central/Selic
A avaliação concentra-se na reunião do primeiro corte da taxa Selic até o encontro em que a taxa se estabiliza antes de uma nova elevação (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

No cenário econômico atual, marcado pela decisão recente do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, a atenção dos investidores está voltada para os próximos passos da autoridade monetária e os possíveis impactos no mercado acionário nacional.

Em busca de uma perspectiva, vale a pena recorrer ao passado para observar os ciclos anteriores de queda da taxa Selic e o desempenho do principal índice de ações brasileiro.

Análise dos ciclos passados

A avaliação concentra-se na reunião do primeiro corte da taxa Selic até o encontro em que a taxa se estabiliza antes de uma nova elevação. As cotações do Ibovespa são as do fechamento do dia.

2003-2004: Em 18/06/2003, o Banco Central reduziu a Selic de 26,50% para 26%, estabilizando a taxa em 14/04/2004 em 16%.

Os juros se mantiveram estáveis nas quatro reuniões subsequentes até o aumento em 15/09/2004 para 16,25%. O Ibovespa apresentou uma valorização significativa no período, passando de 13.510,00 pontos em 18/06/2003 para 22.311,00 pontos em 14/04/2004, o que correspondeu a uma variação positiva de 65,14%.

2005-2007: No dia 14/09/2005, o Copom levou a Selic de 19,75% para 19,50%, estabilizando a taxa em 05/09/2007 em 11,25%.

Os juros se mantiveram no mesmo patamar nas quatro reuniões seguintes até o aumento em 16/04/2008 para 11,75%. O Ibov também registrou um desempenho expressivo, subindo de 29.049,99 pontos em 14/09/2005 para 54.407,83 pontos em 05/09/2007, de +87,29%.

2009-2009: Na reunião de 21/01/2009, os membros do Copom decidiram reduzir a Selic de 13,75% para 12,75%. A taxa foi estabilizada em 22/07/2009 em 8,75%.

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Os juros se mantiveram no mesmo nível nas cinco reuniões posteriores até o aumento em 28/04/2010 para 9,50%. Com uma alta de 38.542,90 pontos em 21/01/2009 para 53.072,57 pontos em 22/07/2009, o índice registrou valorização de 37,70%.

2011-2012: Em 31/08/2011, o BC diminuiu a Selic de 12,50% para 12%, estabilizando a taxa em 10/10/2012 em 7,25%.

Os juros se mantiveram estáveis nas três reuniões seguintes até o aumento em 17/04/2013 para 7,50%. O Ibovespa apresentou uma oscilação menos representativa, na qual variou +3,47%. O índice subiu de 56.495,12 pontos em 31/08/2011 para 58.456,28 pontos em 10/10/2012.

2016-2020: Na data de 19/10/2016, o Copom reduziu a Selic de 14,25% para 14%, estabilizando os juros em 05/08/2020 em 2%. A Selic permaneceu em 2% nas 4 reuniões subsequentes até o aumento em 17/03/2021 para 2,75%.

Esse foi o ciclo mais longo de queda dos juros, sendo que a Selic ficou estável por mais de um ano em 6,5% antes dos novos cortes para a mínima histórica. Durante esse intervalo, o Ibovespa saiu de 63.505,61 pontos em 19/10/2016 para 102.801,76 pontos em 05/08/2020. A rentabilidade acumulada foi de +61,88%.

Considerações

Jeremy J. Siegel, autor do livro “investindo em ações no longo prazo”, aponta que “as taxas de juros são uma influência extremamente importante sobre os preços das ações porque elas descontam os fluxos de caixa futuros das empresas.”

O renomado professor de finanças da Wharton School da Universidade da Pensilvânia complementa: “os títulos ficam mais atraentes quando as taxas de juros sobem.

Desse modo, os investidores vendem as ações até o momento em que os retornos voltem a ser atraentes em relação aos retornos dos títulos. O oposto ocorre quando as taxas de juros caem”. Os Estados Unidos contam com centros de pesquisas que possuem bancos de dados robustos e podem servir de referência.

Cabe destacar que o desempenho dos ativos de renda variável é afetado por diversas variáveis. O mercado acionário doméstico pode ser impactado por outros fatores além dos juros, tais como: eventos globais, situação fiscal do país, decisões políticas, reformas estruturais, cotação das commodities no mercado internacional, indicadores de atividade econômica, inflação, dentre outros.

O mercado antecipa os movimentos, tanto pela precificação dos juros futuros quanto pela absorção de novas informações disponíveis aos seus participantes. As expectativas dos investidores guiam a direção da tendência.

Por fim, o declínio da taxa de desconto pode tornar o investimento em ações mais atrativo, já que reduz o custo de oportunidade.

Em um contexto de queda de juros, a menor rentabilidade prevista para a renda fixa acaba estimulando os investidores a procurarem ativos de maior risco, ou seja, tende a ocorrer um fluxo de capital para a renda variável em busca de ganhos superiores. Essa movimentação contribui para a valorização desta classe.

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