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Como robôs das redes sociais estão distorcendo a narrativa de criptomoedas

12 nov 2019, 10:25 - atualizado em 30 maio 2020, 16:04
Há tempos, muitos na comunidade cripto suspeitam que o engajamento nas redes sociais é inundado por interações que não são orgânicas nem provenientes de atividades humanas reais (Imagem: Pixabay)

Em geral, contas não autênticas em redes sociais entram em duas categorias: contas falsas ou contas de robôs. Contas de robôs são mais fáceis de se notar porque são totalmente destinadas a uma causa específica, em que há retuíte ou repostagem incessantes de conteúdos sobre o assunto.

Geralmente, não fornecem outros dados, como uma foto de perfil, o que torna fácil notar que não são contas de pessoas reais.

No entanto, contas falsas são mais difíceis de identificar, pois são criadas para imitar ações de pessoas reais nas redes sociais. Um tipo comum de contas não autênticas é de “trolls”, que geralmente engajam para depois ofuscarem a origem não autêntica do conteúdo da conta.

Não é segredo que as redes sociais são infestadas de robôs e contas falsas. Em 2018, por exemplo, o Facebook encerrou 1,3 bilhões de contas falsas e revelou que entre 4% e 5% dos seus usuários mensais eram falsos.

Já no Twitter, alguns relatórios indicam que praticamente 40% de suas contas são falsas.

No geral, não importa muito se uma conta não é autêntica na rede social for um robô, uma conta falsa ou até mesmo um “troll” porque eles têm um objetivo parecido: espalhar notícias falsas/desinformação.

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Agora, novas pesquisas fornecem percepção sobre o quão longe vai a prática de implantação de robôs (Imagem: Pixabay)

A aplicação em cripto

As redes sociais são muito importantes para o setor dos criptoativos. Por exemplo, o Reddit é indispensável para avaliar o sentimento da comunidade em relação a um determinado projeto ou para saber se um novo empreendimento de cripto é legítimo ou não.

Por outro lado, o Twitter fornece uma visão mais generalizada sobre o setor dos criptoativos. Na plataforma de microblog, líderes de pensamento discutem questões, compartilham ideias e derrubam mitos.

Parte do motivo da importância das redes sociais é que em 2018, Google, Facebook e sua subsidiária Instagram baniram propagandas relacionadas ao setor das criptomoedas.

Facebook revelou que a proibição foi feita por conta de golpistas que estavam tomando vantagem da explosão do ICO (oferta de moeda inicial) para roubar usuários.

Enquanto o Facebook não forneceu dados reais para apoiar essa posição, falou das reclamações dos usuários. Isso foi um dos primeiros casos que as redes sociais foram invadidas para manipular o sentimento na comunidade dos criptoativos.

Recentemente, Geoff Golberg, analista de redes sociais e de marketing nova-iorquino, postou um relatório de pesquisa, que esclarece sobre grande presença de contas falsas e de robôs na espera das cripto do Twitter.

Com a ajuda de vários apoiadores ferrenhos do criptoativo ripple (XRP), Golberg apresentou que uma parte significativa da “exército de XRP” é composta de contas-robôs.

“XRP Army”, o exército do criptoativo Ripple, possui mais robôs do que pessoas reais em sua comunidade de defensores (Imagem: Facebook/Ripple)

Por meio de uma aprofundada pesquisa postada no Medium, Golberg descobriu que muitos dos seguidores de uma grande personalidade do exército de XRP eram falsas ou contas-robôs.

Ele também informou que essas contas eram utilizadas para curtir ou retuitar tuítes de grandes personalidades na comunidade para retratar apoio sólido e significativo, bem como fomentar mais engajamento com o conteúdo.

Enquanto ainda não se sabe quem está por trás dessas contas, já que pesquisas coordenadas em grande escala são necessários recursos, Golberg falou sobre a natureza imoral da campanha.

Fazendo alusão a suas descobertas e o “exército de XRP”, ele tuitou: “‘astroturfing’ = a tática enganosa de simular apoio para um produto, causa, etc., realizada por pessoas ou empresas com um interesse em moldar a opinião pública”.

Além disso, Golberg descobriu que essa prática é comum na comunidade dos criptoativos.

Utilização de bots para fomentar o interesse em um determinado criptoativo é uma tática utilizada, mas precisa ser extinta porque atrapalha o desenvolvimento e adesão do ativo (Imagem: Pixabay)

Por exemplo, um relatório da TIE informou que plataformas duvidosas estão entre as principais infratores no uso de contas falsas e de negociação para propósitos de marketing, enquanto outra comunidade é sempre acusada de usar robôs ou contas falsas para aumentar as estatísticas de interesse é o projeto “Bitcoin Satoshi Vision” (BSV).

Em resposta à pesquisa de Golberg, outro usuário do Twitter disse:

“Vi um grande aumento nos sock puppets (identidades falsas e fraudulentas) de BSV. Aposto que, agora, existem tantos quanto os de XRP. Como identificá-los? Eles estão sempre usando os mesmos argumentos e parecem estar lendo um script, palavra por palavra”, disse ele, se referindo às contas falsas criadas para a bifurcação drástica do Bitcoin Cash.

Após o relatório, Golberg disse que a liderança de Ripple deu a entender que tentariam corrigir o problema se de fato houvesse um. Entretanto, ele diz que ainda vai esperar por uma resposta deles.

“O CTO (diretor de tecnologia) da Ripple, @JoelKatz, comentou comigo que em julho, se ‘há algum problema de verdade’ com o exército de XRP e que ele estaria ‘feliz em aplicar recursos para examiná-lo. Só se ouve grilos de Schwartz desde que compartilhei os dados definindo a magnitude dos esforços de ‘astroturfind’ da XRP/Ripple.”

Aparentemente, o CTO da Ripple ignorou os bots que ajudaram na atenção gerada ao criptoativo (Imagem: Facebook/Ripple)

Enquanto as descobertas de Golberg fornecem estatísticas definitivas sobre o exército de XRP, como eles se denomina, isso é apenas uma parte da grande comunidade de criptoativos.

De fato, as redes sociais têm o seu lugar na narrativa cripto. Leve em consideração, por exemplo, redes sociais como o BitcoinTalk, o fórum com foco em bitcoins fundado por Satoshi Nakamoto, onde “ele” costumava compartilhar suas ideias e anunciar atualizações para o software nos tempos pré-históricos do criptoativo.

Hoje, esse mesmo modelo de comunicação é usado por muitos projetos baseados em blockchain em busca de compartilhar informações com o público.

Mas, ao mesmo tempo, é possível sugerir que robôs têm papel desproporcional em cripto, e as exigências dos milhões de seguidores on-line por projetos de terceira categoria precisam ser analisados com certo ceticismo.