Money Times Entrevista

No setor de saúde, CEO de investida da Vivo e do Goldman Sachs vê atenção primária como solução e acredita em modelo híbrido

24 mar 2025, 7:30 - atualizado em 21 mar 2025, 17:07
Guilherme-Weigert-CEO-Conexa-Saúde
Guilherme Weigert, CEO da Conexa Saúde (Foto: Divulgação)

O setor de saúde não vem tendo vida fácil nos últimos anos. O sistema sofre com excessos de desperdícios, devido à realização de exames desnecessários, fraudes, dificuldades para implementar novas tecnologias e tratamentos tardios.

A avaliação é de Guilherme Weigert, CEO da Conexa Saúde, plataforma de saúde digital investida por Goldman Sachs, General Atlantic e Pátria e Vivo (VIVT3). Segundo o executivo, um dos principais problemas do setor é a ausência de serviços efetivos de atenção primária.

“Ainda temos um grande problema de acesso no Brasil. Se você não consegue dar acesso e não chega antes, as pessoas vão envelhecendo, adoecendo e o custo por pessoa é ainda maior por conta de doenças mais graves”, afirma Weigert, em entrevista ao Money Times.

De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as operadoras de planos de saúde e administradoras de benefícios registraram prejuízo operacional entre 2021 e 2023.

O momento mais crítico dos anos de baixa foi em 2022, quando a saúde suplementar chegou a reportar R$ 9,3 bilhões de prejuízo. Após três anos no vermelho, a ANS afirmou que o setor voltou a lucrar em 2024, com resultado positivo de R$ 5,1 bilhões.

Segundo Weigert, o modelo de saúde brasileiro é focado em hospitais, com pouco oferecimento e utilização de serviços de atenção primária. Dessa forma, os pacientes tendem a buscar um atendimento que demanda mais recursos, em situações mais graves.

Foi neste cenário que a Conexa identificou que poderia, com o auxílio da tecnologia, oferecer tratamentos antes que o paciente tivesse sua condição agravada. A empresa estima que 94% dos atendimentos digitais são resolutivos.

Além da resolutividade, o CEO afirma que o paciente atendido na plataforma digital gera uma economia de cerca de 70% para os players de saúde. “A gente chega antes, prevenindo, resolvendo problemas com um custo mais acessível e melhora o resultado para o paciente”, diz Weigert.

Ecossistema de saúde integral

O executivo detalhou o modelo de negócio da Conexa, que é dividido em três frentes. A primeira delas é uma ampla rede de saúde digital, que reúne profissionais de diversas especialidades.

Médicos, psicólogos, nutricionistas e outros se conectam a plataforma da startup, onde são guiados por protocolos pré-definidos e são assistidos por sistemas de inteligência artificial (IA) e monitoramento de dados.

A segunda frente tem a prevenção como principal objetivo, atendendo demandas específicas de clientes e operadoras de saúde. Os serviços vão de atendimento psicológico a colaboradores a mapeamento populacional e campanhas educativas nas empresas parceiras.

Já a terceira frente é uma novidade para a empresa, que percebeu que a atuação exclusiva nos meios digitais, sem conexão com o presencial, não seria necessariamente suficiente em grande parte dos casos.

Com isso, a Conexa propõe um modelo híbrido de atendimento, integrando dados entre parceiros que realizam atendimentos presenciais e a plataforma da startup.

“Pensa que você vai no médico hoje, faz uma consulta presencial, um pedido de exames e eventualmente vai ter que retornar em um ou dois meses. Se não voltar, o que acontece? Nada. Ninguém te liga para saber como você ficou ou se você fez o exame”, diz Weigert.

O executivo ressalta que o objetivo é engajar o paciente em uma jornada de cuidado integral, mapeando seus exames, entendendo suas necessidades e fazendo recomendações que vão desde novos exames médicos até a realização de atividade física.

A Conexa atua em mais de 1.400 empresas clientes e mais de 150 operadoras de saúde, que são consideradas as grandes parceiras para melhorar a eficiência do setor. Hoje, a empresa realiza cerca de 600 mil atendimentos mensais.

Crise traz oportunidades para a Conexa

O crescimento da Conexa nos últimos anos impulsionou movimentos no mercado, com a realização de M&As (fusões e aquisições). Weigert cita a união com o Zenklub, player de saúde mental e a aquisição da Lina Saúde, healthtech especializada em gestão de saúde baseada em inteligência de dados.

O CEO vê a empresa em um momento de expansão, com geração de caixa após atingir o breakeven — ponto em que uma startup passa a atingir resultados financeiros positivos após altos investimentos e queima de caixa.

“Tem muita coisa para crescer. O share (fatia ocupada no mercado) dos players de saúde digital ainda não é nem 5% do que é o presencial. Com a escala que tem, esse número deveria ser 30%. Então focando no cliente, na redução de custos, acredito que podemos trazer mais resultados e atingir mais crescimento”, afirma Weigert.

A Conexa não tem planos para a realização de um IPO (processo de abertura de capital) no momento, mas o CEO afirma que a ideia é continuar realizando investimentos com o caixa que a empresa possui, especialmente nas áreas de tecnologia, inteligência de dados e IA.

Apesar do cenário macroeconômico mais apertado e a dificuldade do setor, Weigert vê os próximos passos com otimismo. “Os problemas sempre vão representar uma oportunidade, afinal o que a gente quer é resolver problema. Vamos estar cada vez mais junto do mercado, das empresas e das operadoras”, afirmou.

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Repórter estagiário no Money Times, graduando em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). Cobre empresas, mercados e agronegócio desde 2024.
gustavo.silva@moneytimes.com.br
Repórter estagiário no Money Times, graduando em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). Cobre empresas, mercados e agronegócio desde 2024.
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