Como Powell azedou clima dos mercados, mesmo com fim de aperto monetário no radar
A reação positiva inicial dos mercados ao comunicado do Fed não resistiu à coletiva de Jerome Powell.
Apesar de ter indicado que a política monetária se aproxima de uma zona suficientemente restritiva, o presidente do BC norte-americano não deu a Wall Street o que ela mais gostaria de ouvir: a possibilidade de corte de juros.
Pelo contrário. Powell avalia que o processo de desinflação nos Estados Unidos ocorrerá de maneira lenta, de maneira que os juros deverão permanecer mais altos por mais tempo para que a meta de 2% de inflação volte a ser cumprida.
Essa mensagem foi suficiente para azedar o clima de festa que se armava em Nova York, dada a proximidade do fim do aperto. Ao fim do pregão de hoje, Dow Jones Industrial Average (DJIA), S&P 500 (SPX) e Nasdaq Composite (US100) perderam, respectivamente, 0,70%, 0,60% e 0,46%.
No mercado de Treasuries, a mensagem de Powell sobre a pausa dos juros prolongou a queda dos rendimentos dos principais títulos da dívida americana.
As T-notes de 10 anos fecham o dia com rendimento de 3,361%, com uma queda de 0,07 pp. com relação à véspera; as T-bills de 2 anos renderam 3,873%, uma queda de 0,107 pp. com relação à negociação anterior.
Destaque inicial da fala de Powell, os bancos regionais americanos reverteram os ganhos apresentados no início da sessão e terminaram o dia no negativo. Western Alliance Group (WAC) e PacWest Corp (PACW) perderam, respectivamente, 4,40% e 1,98%.
O cenário de juros altos por mais tempo pode indicar constrições maiores para os bancos regionais, em termos de desvalorização do portfólio de ativos frente a passivos financeiros. Apesar dos sinais de estresse renovados no setor, demonstrados pela falência do First Republic Bank, Powell diz que os bancos nos EUA são “seguros e resilientes”.
Mesmo diante de pausa, mensagem de Powell é ‘hawkish’
Na opinião de economistas, analistas e estrategistas consultados pelo Money Times, a mensagem do presidente do Federal Reserve continua dura. Mesmo que esta décima pausa possa ser potencialmente a última do ciclo atual.
De acordo com Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, “a linguagem sugere que uma pausa é possível, mas não é um acordo fechado. Na minha visão [o comportamento do Fed] parece mais hawk, pois a frase diz que apertos marginais dependerão das perspectivas”.
“Apesar da sinalização da possibilidade de final de ciclo, o Fed seguiu alegando preocupação com inflação e com o mercado de trabalho”, pontua Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.
Já para Leandro Petroskas, diretor de research da Quantzed, “a decisão veio em tom duro, hawkish. Quando [os dirigentes] dizem que estão prontos a ajustar a política, caso surjam riscos que ameacem alcance da meta é uma fala bem forte. Podemos esperar alta de mais 0,25% em uma próxima reunião e depois estabilidade”.
Os dirigentes do Fed que compõem o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) voltam a se encontrar em junho. Até o momento, mais de 90% das apostas no Fed Funds apontam que a taxa-base de juros dos Estados Unidos deverá permanecer inalterada na faixa 5,00-5,25%.