Como os 10% de mistura do biodiesel podem criar, definitivamente, oportunidades para criadores e agricultores
A manutenção da mistura de biodiesel ao diesel, em 10%, considerando que a soja é a principal biomassa, acendeu mais uma vez o pavio do explosivo cenário de alimentação de bovinos, suínos e aves. Por outro lado, reforça a tese de que alternativas diferentes de rações e forrageiras abrem novas janelas de oportunidades.
Registra-se que em valendo a proporção de 13% (B3), como se esperava, haveria também maior volume de farelo de soja, subproduto do óleo, considerando o grão como a principal biomassa do biodiesel. ABPA, entidade de suínos e aves, acusou o golpe, com críticas.
Ambos setores também apanharam bastante desde o segundo semestre de 2020, com a falta de milho e preços nas alturas – primeiro pela demanda internacional e depois pela quebra da safrinha 20/21 -, ocasionando maior volume de importação nem sempre coberta com o dólar a R$ 5,60.
A pecuária bovina, de corte e leiteira, igualmente acusou custos elevados nas rações, em ano de penúria do consumo interno e estiagem acentuada em combinação com geadas fortes, que detonaram as pastagens.
Nesse desbalanço, reside o potencial de oportunidades.
Muitos produtores partiram para outras fontes de energia e proteínas agrícolas e até poderiam torná-las regulares nos seus pacotes de insumos para suas criações.
E muitos agricultores poderiam incorporar de vez algumas culturas em seus planejamentos – e não apenas em janelas de oportunidades que outras culturas mais competitivas acabam deixando -, visando esse mercado.
Descontando-se questões relativas às vocações edafoclimáticas regionais e até alguns gargalos tecnológicos – bem como o equilíbrio no fornecimento já que nem todas as opções possuem valor nutritivo adequado -, a conta final poderia ser bom para todos os lados.
Os criadores teriam maior segurança no fornecimento e os agricultores garantia de compras e preços justos.
Em paralelo, a integração lavouras e pastos deveria avançar para um maior número de propriedades.
Em 2021, viu-se grande corrida para o trigo pelas granjas do Sul, o que colaborou para aumento dos preços para alimentação humana. Também aveia, cevada e centeio tiveram boa procura, mas de oferta mais acanhada ainda entre as essas três culturas de inverno.
Mas o triticale, híbrido de trigo e centeio, é uma opção com bastante valor energético e aceitação pelos animais, porém pouco explorado ainda diante do potencial.
Igual, por exemplo, ao sorgo, com boa digestibilidade e valor para bovinos, contudo de concentração produtiva reduzida a Minas e alguns lugares do Centro-Oeste. E de manejo fácil, adaptabilidade a solos pobres e, daí, custo baixo de produção.
Outros também conhecidos, como casca de arroz e bagaço de cana, foram mais adicionados, apesar do baixo valor alimentício.
Com adequado conhecimento e apoio técnico, pode-se criar um colchão de alternativas regulares, que não sejam apenas emergências como a de alguns produtores, como Juca Alves.
O pequeno confinador de Barretos (SP) teve que usar de casca de castanha do Pará até silagem de abacaxi nos cochos dos animais neste segundo semestre do ano.