Petróleo

Como pequeno vizinho do Brasil está se transformando na próxima superpotência do petróleo

13 set 2023, 17:08 - atualizado em 15 set 2023, 10:14
ExxonMobil Guiana Petróleo Margem Equatorial Brasil
ExxonMobil detém a maior parcela da exploração em campo offshore da Guiana. (Imagem: Reuters)

Faz apenas quatro anos que a Guiana, pequeno país que faz fronteira ao norte do Brasil, achou o seu primeiro poço de petróleo. Com rapidez recorde, o país conseguiu tirar do papel ambiciosos projetos de exploração das reservas, atraindo o interesse de gigantes do ramo, como a americana ExxonMobil.

Agora, a ex-colônia britânica se tornou um dos principais produtores e exportadores de petróleo da América Latina, fato que tornou o pequeno país a economia do mundo com maior ritmo de crescimento. Em 2022, o PIB da Guiana teve um crescimento de 62%, segundo dados do FMI.

O número divulgado pelo governo local converge com o último levantamento da oferta de combustíveis da Opep. O cartel aponta a Guiana entre os principais países do mundo, em termos de produção da commodity energética.

Diante de abundância de reservas e da habilitação de uma estrutura operacional ativa, o governo de Georgetown e consultores da indústria petrolífera esperam que o país consiga bombear mais de 1,2 milhões de barris por dia até o fim de 2027, uma capacidade superior a de vários membros da Opep.

No entanto, para analistas do mercado de petróleo, as estimativas oficiais estão subapreciadas, diante do verdadeiro potencial de exploração, sobretudo, relacionado ao bloco Stabroek.

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Bloco de Stabroek: A galinha dos ovos de ouro da ExxonMobil

A bacia de sedimentos localizada na Margem Equatorial tem 26.800 kmde área e é onde se concentra a maior parte do petróleo da Guiana. A título de comparação, a área equivale a 1,5 vezes o tamanho do Golfo do México.

Bloco de Sabroek, no Atlântico, pode ter até 8 bilhões de barris de petróleo. (Imagem: Reprodução)

A subsidiária da ExxonMobil, que detém 45% da capacidade exploratória do bloco, tem feito investimentos pesados para aumentar a perfuração offshore desde o fim de 2020.

Desde que assumiu a liderança do consórcio de exploração na Guiana, a ExxonMobil registrou mais de 25 descobertas, que equivalem à marca de 11 bilhões de barris. Mais recentemente, a subsidiária da empresa americana obteve o sinal verde para perfurar mais 35 poços de petróleo na bacia.

O interesse estrangeiro no bloco de Stabroek vem sendo puxado por dois fatores: o inquestionável sucesso da campanha exploração até aqui e a qualidade do óleo encontrado.

Segundo o departamento de análises geológicas do governo dos EUA, o petróleo encontrado no bloco da Guiana é leve e com pouco conteúdo de enxofre. Isso reduz o custo do processamento da matéria-prima, levando a combustíveis de maior pureza.

Segundo a consultoria especializa em energia Rystad, a característica do petróleo encontrado nos campos offshore da Guiana reduz o ponto de breakeven (ponto em que o lucro excede a despesa) da exploração para uma média de US$ 28 por barril (o Brent está cotado acima dos US$ 90).

Margem equatorial no Brasil: Exploração gera atrito interno no governo

A campanha exploratória na margem equatorial do lado brasileiro continua sendo motivo de atrito dentro do governo.

O assunto voltou a estampar os noticiários, após Lula (PT) afirmar que o Brasil não deixará de estudar a viabilidade do projeto.

Seguindo a declaração do chefe do Executivo, o ministro Alexandre Silveira, das Minas e Energia, informou que o governo instauraria um “comitê de conciliação” para reanalisar a solicitação feita pelo Petrobras, que deseja perfurar um poço da margem no litoral do Amapá.

O comitê seria criado pela Advocacia Geral da União (AGU) e contaria com a participação do ministério de Minas e Energia, do ministério do Meio Ambiente e do Ibama.

A solicitação da Petrobras, referente ao bloco FZA-M-59 na foz do rio Amazonas, havia sido negada em maio pelo Ibama, sob o parecer de que o plano de contingência ambiental oferecido pela estatal era insuficiente.

Desde então, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, manifestou-se contra a perfuração do poço, pontuando que o órgão ambiental “não dá licenças políticas, mas sim técnicas”.

O programa defendido pela pasta tem o objetivo de tornar o Brasil o quarto maior produtor de petróleo do mundo até 2029, elevando a produção nacional de petróleo para 5,4 milhões de barris por dia.