Como o risco fiscal (e outros) ajuda as commodities, mas desequilibra mais o mercado interno
Os exportadores de commodities não deverão reclamar da deterioração fiscal enquanto prevalecer a intenção do governo Bolsonaro furar o teto de gastos. O dólar sobe com o risco Brasil em alta e paga mais pelos produtos brasileiros que ficam mais baratos em reais.
Ontem, o câmbio foi a mais 14% e nesta sexta (22) já passa dos R$ 5,70 (mais 0,70%, às 9h40)..
O problema é que quanto mais durar essa corrida para o porto seguro da divisa americana, até por outras ameaças à economia que deverão surgir na medida das pesquisas eleitorais desfavoráveis ao presidente da República, as distorções nesses mercados agrícolas vão chegando à população.
Vão ser exportados mais grãos, soja e milho por exemplo, e os preços domésticos dos bens derivados vão subir, direta e indiretamente.
Vai ser exportado mais açúcar e a valorização do etanol anidro e hidratado vai chegar nos preços das bombas dos postos.
Em certa medida, vai se repetir o que já vem ocorrendo desde 2020: redução de matéria-prima para o mercado doméstico.
A inflação do óleo de soja do ano passado está na memória e ainda não saiu dos preços das gôndolas, pela mistura de demanda internacional da oleaginosa e câmbio favorável à exportação do produto in natura.
Na quinta, teve negócios no porto de R$ 156 a R$ 158 a saca, em algumas praças do interior, até R$ 160, considerados valores puxados pelo câmbio contra cotações de Chicago em baixa, em torno de US$ 12,20 para novembro.
Com o milho, também desde o ano passado o excesso de exportações desequilibrou a oferta do mercado interno necessitado para as rações dos animais, o que promoveu, na sequência de 2021, aumento dos custos de proteínas e várias rodadas de importações do cereal.
Importações a dólar alto, compensadas pelas exportações. Mas para o bolso do brasileiro não houve nenhum refresco.
No caso do setor sucroenergético, houve o componente drástico da quebra da safra atual, em até 70/80 milhões de toneladas de cana, reduzindo todo o mix. Porém, as usinas fixaram as exportações de açúcar o quanto puderam e, para a próxima safra, o comprometimento dos embarques cresce exponencialmente nas últimas semanas.
Quanto mais avançar esses contratos, mais açúcar precisará ser fabricado e haverá menos matéria-prima para os carburantes renováveis.
Pode estar passando de 40% do total previsto para embarques em 2022, o que já estaria em torno de 10 milhões de toneladas, segundo algumas fontes ouvidas por Money Times. O aumento das entregas do Brasil pode pressionar as cotações em Nova York, mas o que já estiver vendido com o dólar alto remunerou o produtor.
Neste ano os preços explodiram do anidro, impactando a gasolina, e do hidratado, com produção mais ainda comprometida que a do outro.
Por mais que se espere que a próxima safra de cana se recupere frente a atual, não deverá passar de 540 milhões de toneladas.