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Como o recuo tático de Bolsonaro com o STF, agro adota cautela também tática até julgamento do marco temporal

15 set 2021, 14:42 - atualizado em 15 set 2021, 16:41
Jair Bolsonaro
Em ato durante o 7 de setembro contra STF e Congresso, Bolsonaro depois acena com distensão (Imagem: Facebook/Jair Bolsonaro)

Depois da polêmica no qual a maior parte dos ruralistas se envolveu, apoiando os atos de 7 de setembro a favor de uma agenda política bolsonorista, o aceno de “paz” do presidente da República com o Supremo e com parte do Congresso deixou produtores sem produzir novos comentários sobre o marco temporal.

Jair Bolsonaro, inclusive, já disse anteriormente que se o recurso da Funai for rejeitado, o agronegócio “acaba”, fazendo coro ao pensamento geral de que se as demarcações de terras indígenas forem liberadas a produção de grãos e pecuária não teria para onde crescer.

O Supremo Tribunal Federal (STF), marcou para estas quarta (15) e quinta o julgamento da manutenção ou fim do marco temporal, após alguns adiamentos.

Conhecidas as posições de algumas das principais entidades representativas, defendendo, como o presidente, que a demarcação das terras indígenas seja feita apenas em áreas comprovadamente ocupadas até a promulgação da Constituição de 1988, elas saíram de cena.

Money Times tentou colher opiniões com várias.

Mas todas se negaram. A Aprosoja Brasil, que teve seu presidente Antonio Galvan ameaçado de prisão ao pedir o fechamento do STF, disse, agora, através da assessoria, que o tema deveria ser abordado pela Abiove, a classista das indústrias e tradings de soja e farelo.

Contatada, esta também se recusou a “comentar sobre esse tema”. Igual a Abrapa, dos produtores de algodão, que avisou só trabalha sobre assuntos diretos à produção.

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Tática

“Como o recuo tático do presidente, o agro agora também está sob cautela tática, para evitar debates políticos e aumentar a crise com o STF e não sermos vítimas de vingança”, diz um importante produtor, até há pouco tempo líder em uma das principais entidades nacionais.

Naturalmente, ele pede sigilo do seu nome e da associação que presidiu.

Mas não muda o entendimento dele e dos demais. Com a “boiada passando na porteira”, ou seja, sem controle das demarcações, o agronegócio seria prejudicado por não poder expandir, por gerar insegurança jurídica sobre propriedades rurais hoje “legalmente” em áreas de índios e, também, porque liberaria novas demarcações, complementa o produtor do Centro-Oeste.

Mas isso não é consenso, pelo menos na opinião de outras correntes do agronegócio, especialmente aquelas que agregam também a agroindústria e não são vistas como classistas pelos produtores rurais.

A Associação Brasileira de Agronegócio (Abag) e seu presidente Marcelo Britto foram demonizados recentemente, quando lançaram documento, junto a outra seis entidades, criticando o movimento do feriado de Independência e defendendo a ordem institucional. Na mesma toada, Britto disse que o “agronegócio não precisa de terras indígenas para crescer”.

Sem ser direto a favor ou contra o marco temporal, ficou claro que há simpatia em deixar as demarcações livres, ou seja, pelo fim do marco temporal.

Nesta quarta (14), o presidente voltou a dizer que com o fim do marco temporal vai faltar alimentos e gerar inflação.

Se o recuo de Bolsonaro tem ares de déjà vu, como parece, vamos ficar sabendo logo mais.

Quanto à parcela do agronegócio que quer freios sobre os índios, ficará para depois da decisão do STF os aplausos ou a renovação das críticas.