Como o recuo tático de Bolsonaro com o STF, agro adota cautela também tática até julgamento do marco temporal
Depois da polêmica no qual a maior parte dos ruralistas se envolveu, apoiando os atos de 7 de setembro a favor de uma agenda política bolsonorista, o aceno de “paz” do presidente da República com o Supremo e com parte do Congresso deixou produtores sem produzir novos comentários sobre o marco temporal.
Jair Bolsonaro, inclusive, já disse anteriormente que se o recurso da Funai for rejeitado, o agronegócio “acaba”, fazendo coro ao pensamento geral de que se as demarcações de terras indígenas forem liberadas a produção de grãos e pecuária não teria para onde crescer.
O Supremo Tribunal Federal (STF), marcou para estas quarta (15) e quinta o julgamento da manutenção ou fim do marco temporal, após alguns adiamentos.
Conhecidas as posições de algumas das principais entidades representativas, defendendo, como o presidente, que a demarcação das terras indígenas seja feita apenas em áreas comprovadamente ocupadas até a promulgação da Constituição de 1988, elas saíram de cena.
Money Times tentou colher opiniões com várias.
Mas todas se negaram. A Aprosoja Brasil, que teve seu presidente Antonio Galvan ameaçado de prisão ao pedir o fechamento do STF, disse, agora, através da assessoria, que o tema deveria ser abordado pela Abiove, a classista das indústrias e tradings de soja e farelo.
Contatada, esta também se recusou a “comentar sobre esse tema”. Igual a Abrapa, dos produtores de algodão, que avisou só trabalha sobre assuntos diretos à produção.
Tática
“Como o recuo tático do presidente, o agro agora também está sob cautela tática, para evitar debates políticos e aumentar a crise com o STF e não sermos vítimas de vingança”, diz um importante produtor, até há pouco tempo líder em uma das principais entidades nacionais.
Naturalmente, ele pede sigilo do seu nome e da associação que presidiu.
Mas não muda o entendimento dele e dos demais. Com a “boiada passando na porteira”, ou seja, sem controle das demarcações, o agronegócio seria prejudicado por não poder expandir, por gerar insegurança jurídica sobre propriedades rurais hoje “legalmente” em áreas de índios e, também, porque liberaria novas demarcações, complementa o produtor do Centro-Oeste.
Mas isso não é consenso, pelo menos na opinião de outras correntes do agronegócio, especialmente aquelas que agregam também a agroindústria e não são vistas como classistas pelos produtores rurais.
A Associação Brasileira de Agronegócio (Abag) e seu presidente Marcelo Britto foram demonizados recentemente, quando lançaram documento, junto a outra seis entidades, criticando o movimento do feriado de Independência e defendendo a ordem institucional. Na mesma toada, Britto disse que o “agronegócio não precisa de terras indígenas para crescer”.
Sem ser direto a favor ou contra o marco temporal, ficou claro que há simpatia em deixar as demarcações livres, ou seja, pelo fim do marco temporal.
Nesta quarta (14), o presidente voltou a dizer que com o fim do marco temporal vai faltar alimentos e gerar inflação.
Se o recuo de Bolsonaro tem ares de déjà vu, como parece, vamos ficar sabendo logo mais.
Quanto à parcela do agronegócio que quer freios sobre os índios, ficará para depois da decisão do STF os aplausos ou a renovação das críticas.