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Peso em ouro: Como o preço da arroba do boi está alavancando o mercado de terras no Brasil

12 dez 2024, 12:13 - atualizado em 12 dez 2024, 12:13
boi propriedades rurais
Dos arrendamentos anunciados em todo o Brasil, 18% são específicos para pecuária e outros 20% são de dupla aptidão. (iStock.com/JesperSohof)

A alta histórica no valor da arroba do boi, registrada no segundo semestre de 2024, tem aquecido o mercado de terras, com um aumento significativo na procura por fazendas voltadas à pecuária, especialmente por meio de arrendamentos.

Entre 28 de junho e 11 de dezembro, o indicador Cepea/B3 do boi gordo acumulou uma valorização de 40,55%.

De acordo com o portal Chaozão, especializado em anúncios de propriedades rurais, muitos produtores estão em busca de fazendas para arrendamento com foco na pecuária, aproveitando o cenário favorável dos preços no mercado de carne.

Entre os arrendamentos anunciados no Brasil, 18% são exclusivamente destinados à pecuária, enquanto outros 20% são classificados como de dupla aptidão, podendo ser usados também para essa atividade.

Especialistas do setor apontam que o aumento na procura por fazendas para arrendamento se deve, sobretudo, à necessidade de terminação dos animais para abate e à reposição do plantel.

No lugar dos animais abatidos, outros são repostos em diferentes fases de desenvolvimento, sendo engordados para futuramente também serem abatidos. Esse ciclo da pecuária, que dura em média de quatro a cinco anos, é influenciado por variações no preço da arroba e na demanda, tanto interna quanto global, determinadas pela disponibilidade de animais para abate.

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Entenda o ciclo do boi

O que precede a alta da arroba do boi é a falta de matrizes para cria, com o aumento do abate das mesmas, por falta de outros animais ou por renovação de plantel.

Segundo Renata Apolinário, engenheira agrônoma e diretora operacional do Chaozão, a recente e severa seca prejudicou a qualidade e disponibilidade de forrageira (pastagem) e, consequentemente, freou a terminação dos animais para abate.

“O pasto ficou rapado e as aguadas secaram, prejudicando o ganho de peso dos animais e aumentando os custos de produção, devido à busca por outras opções nutricionais. Alguns pecuaristas precisaram ou precisam tirar o gado do pasto da fazenda para recuperar a pastagem e levar o gado para onde tem pasto bom. Uma saída oportuna para aproveitar a alta da arroba é arrendar áreas com pastagem adequada e conseguir fazer a terminação dos animais para abate, garantindo lucro maior”, diz.

O retorno dos “sojistas” para a pecuária, conforme Renata, também merece destaque, já que o preço menos atrativo do grão da soja está provocando um movimento de retomada entre muitos produtores que, agora, enxergam na agropecuária uma estratégia de diversificação das atividades, apostando na crescente do mercado da carne.

Arrendatários buscam maximizar o rebanho

Muitos produtores que atuam apenas com arrendamento diminuíram os bois por conta do preço da arroba, quando ela estava em baixa. Agora, estão voltando para o segmento, com a melhora do preço, aumentando o rebanho.

Analistas do setor levantam a bandeira de atenção do pecuarista para um bom planejamento, dentro dos ciclos na pecuária nacional, pois junto com a alta da arroba do boi, os custos de produção também aumentaram.

“As ações de recria de animais destinados ao confinamento e de animais em terminação para abate fazem parte de um planejamento estratégico do pecuarista e devem ser feitas antes da crise de animais no mercado.

Agora passa a ser uma ação imediatista, que pode não ser tão lucrativa, já que um bezerro passou de R$ 1.800 para R$ 2.400 a R$ 2.800”, destaca Manoel Assis de Freitas, consultor de pecuária. A análise considera o valor base do Vale do Araguaia (GO).

O pecuarista de boi a pasto que busca por terras para arrendamento também deve ficar atento à qualidade do capim que compõe essas áreas. “Após 6 meses de seca, as altas temperaturas e a morte súbita do capim provocaram uma escassez de áreas com pasto de boa qualidade, por isso é importante selecionar áreas em que o capim esteja bem formado e, principalmente, seja uma espécie facilmente manejável. Não observar estes pontos pode acabar onerando os custos de produção”, aponta Ludmilla Castro, engenheira agrônoma.

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo.