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Como o pedido de recuperação judicial do Grupo Petrópolis pode ameaçar a Ambev (ABEV3)

31 mar 2023, 8:09 - atualizado em 31 mar 2023, 8:09
Grupo Petrópolis
Proteção judicial para a Petrópolis pode afetar negativamente a Ambev (Imagem: Reprodução/Grupo Petrópolis)

O mercado de cervejas enfrenta uma semana movimentada após o Grupo Petrópolis, terceiro maior fabricante do setor no Brasil, entrar com pedido de recuperação judicial.

Dona das marcas Itaipava e Petra, a empresa foi destaque no noticiário ao recorrer à proteção da Justiça enquanto tenta lidar com dívidas que somam R$ 4,4 bilhões. O grupo afirmou dever R$ 2 bilhões com obrigações financeiras e de mercados de capitais, enquanto as dívidas com terceiros somam R$ 2,2 bilhões.

Quem parece aproveitar a situação de crise da rival é a Ambev (ABEV3). As ações da companhia fecharam em alta de 4,74% na terça-feira (28), dia em que o pedido de recuperação judicial da Petrópolis começou a encher o noticiário.

Na avaliação do BTG Pactual, os investidores parecem pensar que a condição financeira mais fraca do que o previsto da Petrópolis levaria a um cenário competitivo ainda mais benigno.

De fato, o banco levanta que empresas em recuperação judicial podem ser forçadas a adotar uma postura de maior racionalidade sobre as operações para recuperar a lucratividade. Além disso, em muitos casos, as dificuldades de financiamento das operações obrigam essas empresas a reduzir o tamanho do negócio.

Porém, neste caso, o BTG tem motivos para acreditar que uma proteção judicial para a Petrópolis pode afetar negativamente a Ambev.

Cenário alternativo não tão promissor

Em relatório publicado nesta quinta (30), o banco avalia que o pedido de recuperação judicial da Petrópolis representa uma ameaça de médio prazo à recuperação de participação de mercado da empresa que tem Skol e Brahma no portfólio, a depender de como a recuperação judicial se desenrola.

O BTG destaca que, enquanto a Petrópolis vem lutando há anos no setor, a Ambev provavelmente tem sido a principal beneficiária em termos de market share.

“Então, até certo ponto, ter a Petrópolis sangrando pelo maior tempo possível seria, na verdade, o melhor cenário para a Ambev. A recuperação judicial, por outro lado, põe fim a isso e abre um novo leque de possibilidades”, ponderam os analistas Thiago Duarte, Henrique Brustolin e Bruno Lima.

Eles destacam que o problema da Petrópolis parece ser de liquidez, e não de balanço. Caso o pedido de recuperação judicial seja deferido pela Justiça do Rio de Janeiro, a empresa conseguiria adiar o pagamento da dívida (considerada pequena pelo BTG, dado o porte da cervejaria) e melhorar a liquidez para voltar a competir.

“Como a capacidade de produção não é uma restrição, ela poderia ser capaz de equalizar os fluxos de caixa agora que as margens da indústria devem começar a melhorar devido a custos de insumos mais normalizados”, completam.

BTG segue neutro com Ambev (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Petrópolis pode ser comprada

Como outras instituições, o BTG não descarta a possibilidade de a Petrópolis ser alvo de M&A (fusões e aquisições). Isso porque a companhia é maior que todo o mercado cervejeiro chileno e possui um “conjunto interessante de ativos”.

“Sua principal marca, Itaipava (mais de 10% de participação de mercado em algum momento) sem dúvida perdeu algum fôlego nos últimos anos, mas também é uma das únicas grandes marcas que ainda podem ser rotuladas como mainstream e não pertencem à Ambev. Além disso, possui uma plataforma logística relativamente robusta”, dizem Duarte, Brustolin e Lima.

Na avaliação dos analistas, um acordo com a Heineken “faria todo o sentido”. A Heineken passaria a ter acesso a uma nova marca dominante e aumentaria substancialmente sua distribuição e capacidade de produção.

Dessa forma, caso a recuperação judicial force a Petrópolis a fazer desinvestimentos ou seja totalmente comprada, a indústria de cerveja no Brasil mudaria a ponto de atrapalhar a Ambev, porque a concorrência ficaria mais forte, e não mais fraca.

“O cenário competitivo dos últimos anos, em que Petrópolis queima o caixa e a Heineken luta para crescer, é o que parece ter sido favorável. Se ambos forem resolvidos, não será mais favorável”, reforçam os analistas.

A recomendação do BTG segue “neutro” para a ação da Ambev, com preço-alvo de R$ 16.