Opinião

Como o pagamento pelo celular pode ajudar ‘desbancarizados’

27 out 2018, 13:15 - atualizado em 06 nov 2018, 17:26

Por Caio Davidoff, sócio fundador e CEO da Pagcom

 O acesso crescente às tecnologias inovadoras e dispositivos móveis conectados à internet vem conferindo maior eficácia, conveniência e comodidade às transferências de valores e pagamentos. Mas não é só isso: essa nova realidade também traz a oportunidade para que pessoas que não preenchem os requisitos para ter uma conta bancária, os chamados ‘desbancarizados’, consigam movimentar seus recursos, podendo pagar por produtos e serviços nas mais diversas plataformas. Embora essa facilidade não esteja impactando todas as regiões do globo com a mesma velocidade, a ampla adoção do pagamento via smartphone é uma tendência mundial, um fenômeno econômico-social, sem volta.

Um ótimo exemplo de como o pagamento pelo celular está ganhando força, impulsionado pela cultura e as necessidades da Geração Y, pode ser encontrado nos Estados Unidos. Uma pesquisa recente revelou que a porcentagem de norte-americanos sem contas no sistema bancário tradicional alcançou seu nível mais baixo desde a crise financeira de 2007-2009, de acordo com dados do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), agência responsável pelos depósitos bancários no país. Por lá, apenas 6,5% das mais de 129 milhões de pessoas não participam do sistema bancário. A China também vem mostrando a dimensão potencial do pagamento via celular: uma única plataforma de pagamento da China já responde por mais da metade do mercado de pagamentos móveis chineses, que gira US$ 5,5 trilhões por ano.

Ainda assim, a preocupação é latente: até a Fundação Bill e Melinda Gates fechou uma parceria com uma startup de blockchain com o objetivo de fornecer serviços de pagamento para os ‘desbancarizados’. A União Europeia contabiliza perto de 40 milhões de indivíduos sem acesso a serviços bancários. No Reino Unido, a perspectiva é de que o uso do cartão irá acabar antes do dinheiro, como admitiu o próprio Retail Banking Research, instituto britânico especializado em automação bancária. Um dos principais motivos apontados é justamente a disponibilidade de outras formas de transferência de valores que estão surgindo.

No Brasil, uma parcela importante das pessoas continua sem acesso a serviços bancários. Um levantamento recente feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que 60 milhões de pessoas não possuem contas em bancos, o que representa quase metade da população economicamente ativa do país. Por aqui, o uso de cartões pré-pagos que cresceu 62%, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). A modalidade é hoje uma alternativa para cerca de 50 milhões de ‘desbancarizados’ brasileiros, aponta o IBGE. Não por acaso, gigantes do setor se apressaram em lançar seus meios de pagamento usando tecnologia de aproximação, NFC (Near Field Communication), no Brasil.

Contudo, restam muitos desafios a serem vencidos antes que a solução se torne padrão no mercado. Apesar de o país ter subido sete posições no ranking de computação em nuvem da Software Alliance (BSA), que avalia desde a legislação de tecnologia até a capacidade de acesso, ainda resta muito a ser feito. Os 120 milhões de usuários com acesso à Internet no país representam somente 59% da população, abaixo da média de 67% das outras nações avaliadas no levantamento. Além do acesso à internet de alta velocidade, outro grande desafio para a popularização de tecnologias que permitem e facilitam o pagamento via celular no Brasil é a infraestrutura instalada. Afinal, embora muitas vezes o cliente já possa contar com a tecnologia de pagamento por aproximação em seu celular, muitos comerciantes ainda não oferecem a alternativa na hora de efetuar um pagamento.

Ainda assim há muito espaço para crescimento por aqui. Segundo dados de uma grande bandeira de cartões, os pagamentos por aproximação saltaram 344% no Brasil e a expectativa é que o número de transações desse segmento cresça 20 vezes ainda em 2018. A inclusão social, tema tão fundamental e sempre recorrente em campanhas eleitorais, como esta última que vivemos, certamente passa pelo celular, ao permitir que milhões de brasileiros possam pagar suas contas mesmo sendo excluídos do sistema bancário. Pena que o país ainda careça de políticas públicas a esse respeito. A boa notícia é que as empresas privadas – sejam elas as gigantes, tradicionais, mas também as startups -, cumprem muito bem esse papel.

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