Como o Banco da Tailândia continua a estudar soluções baseadas em CBDCs
Recentemente, o Banco da Tailândia (BOT) anunciou estar desenvolvendo um sistema protótipo de pagamentos que dependeria de uma moeda digital emitida por banco central (CBDC, na sigla em inglês) para facilitar pagamentos.
Esse novo projeto complementa as provas de conceito (“proof-of-concept) do banco usando Corda e Hyperledger.
O novo sistema protótipo de pagamentos em CBDC será integrado aos sistemas administrativos e financeiros da Siam Cement Public Company (SCG) e seus fornecedores. O projeto será desenvolvido pela Digital Ventures Company.
Digital Ventures é o braço de investimentos em tecnologia financeira (fintech) do Siam Commercial Bank. A empresa de investimentos possui inúmeras parcerias estratégias e investimentos em startups em toda a Ásia.
O portfólio da empresa inclui investimentos estratégicos no Golden Gate Ventures, Arbor Ventures e Ripple.
Ripple é uma startup de blockchain comercial que cria sistemas para a realização de pagamentos internacionais, câmbio de moedas e remessas. Atualmente, a moeda para realização de pagamentos XRP é o quarto maior ativo na tabela de capitalização de mercado da Brave New Coin, com US$ 8 bilhões.
O novo projeto do BOT começará em julho de 2020 e espera-se que seja finalizado até o fim do ano. Em seguida, BOT publicará o resumo do projeto e seu resultado. O escopo do projeto incluirá a realização de um estudo de aplicabilidade e o desenvolvimento de um processo para integrar uma CBDC.
O projeto complementa duas iniciativas de tecnologia de registro distribuído (DLT) do BOT lançadas em 2018: Project Inthanon e Project Scripless Bond. Ambos foram criados para catalisar uma ampla análise e avaliação de mercado das possíveis aplicações da DLT.
O Project Inthanon é uma iniciativa colaborativa do BOT junto com oito bancos comerciais. O foco principal era desenvolver e testar um sistema de liquidação por valores brutos (RTGS) baseado em DLT para emitir uma CBDC ao atacado.
O projeto foi baseado em uma plataforma descentralizada de pagamentos criada na plataforma Corda com o nó do BOT e nós de bancos participantes.
Corda é uma plataforma de registro distribuído e de código aberto criada para registrar e gerenciar contratos entre partes que, mutuamente, não precisavam confiar uma na outra.
Foi criada para atender aos requisitos impostos por reguladores de serviços financeiros, cumprir com padrões da indústria e apresentar a promessa da DLT. Corda foi escolhido pois múltiplas redes podem se unir e criar uma rede maior com ativos que possam ser transferidos entre si.
O serviço notarial da Corda serve para evitar gastos duplos (“double-spending”) na rede. Quando o serviço notarial estiver convencido de que um token digital não foi gasto antes, emite uma assinatura para indicar a finalidade da transação.
Ao avaliar Inthanon, o Asian Development Bank Institute (ADBI) concluiu que DLT pode implementar funcionalidades principais no RTGS enquanto contratos autônomos (“smart contracts”) podem lidar com casos de uso complexos que incluem eventos de vínculo de ciclos de vida, prevenção a fraudes e cumprimento com regulamentações.
A tecnologia também demonstra a capacidade de apoiar operações de pagamento 24 horas por dia/sete dias por semana e fornece realizações atômicas de entrega vs. pagamentos sem intermediários.
Além disso, o sistema fornece uma finalidade técnica de realização de pagamentos para a transferência de fundos e troca entre dinheiro e tokens de ligação. Essa finalidade descreve a forma como um sistema atinge consenso quando acontece uma troca de governança.
A privacidade em transações e na realização de pagamentos foi possível dado o design da plataforma Corda, onde informações são compartilhadas apenas quando necessário.
Enquanto isso, a resiliência da rede foi identificada como um desafio contínuo, já que a plataforma Corda requer um nó notarial para validar a transação, tornando-se em uma questão de ponto único de falha.
Outras questões identificadas como pré-requisito antes de seguir em frente com o projeto incluem:
– capacidade tecnológica: teste de desempenho e cibersegurança;
– acordo de governança: papel e responsabilidade entre partes em uma rede descentralizada; e
– consideração legal e regulatória: análise de leis relacionadas e regulamentações necessárias antes de entrar em produção.
A segunda prova de conceito (do inglês “proof-of-concept” ou PoC), Scripless Bond Project, foi criada para enfrentar conflitos no processo de venda de títulos de poupança do governo tailandês usando Hyperledger Fabric, uma estrutura blockchain de código aberto para avaliar benefícios e valores comerciais que poderiam, no futuro, melhorar a eficácia.
Como a tecnologia Hyperledger Fabric
atrai o interesse comercial para o blockchain
Segundo o ADBI, a PoC demonstrou que o Scripless Bond Project poderia, com sucesso, atender demandas principais enquanto gera valores comerciais para todas as partes relevantes.
Benefícios fundamentais incluem a possibilidade de investidores receberem títulos em menos de dois dias úteis, em vez do período atual de 15 dias úteis, além de poderem adquirir títulos com direitos completos de qualquer agente de vendas sem o limite de aquisição atual por banco.
A PoC também reduziu a complexidade e emissores de títulos poderiam monitorar e gerenciar vendas em tempo real, aumentando a competição entre agentes de vendas. Ao todo, o projeto resultou em maior eficiência, transparência, segurança e redução de custos operacionais em todo a cadeia de valor.
Após o sucesso da prova de conceito, o Scripless Bond Project entrará em produção.
Porém, são necessárias mais pesquisas para avaliar certas questões descobertas por meio da PoC como, por exemplo, a capacidade de desempenho de sistemas baseados em blockchain, principalmente a plataforma Hyperledger.
Soluções e mecanismos alternativos foram adotados para elevar o desempenho do sistema como um todo para atingir requisitos comerciais.
Além disso, cibersegurança, privacidade de dados, estrutura de governança, papéis e responsabilidades, bem como questões comerciais e técnicas, foram realizadas para a implementação do sistema de produção.