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O que pode ser feito para evitar falhas em corretoras cripto?

19 jul 2020, 11:00 - atualizado em 16 jul 2020, 15:44
Em corretoras cripto, falhas não são uma questão de “se”, e sim de “quando”. Conforme explica Iosif Itkin, fundador da Exact Pro, há muito a se dizer quando se espera pelo pior, mas se planejar de acordo (Imagem: Pixabay/geralt)

Uma falha na Coinbase mal aparece nas manchetes hoje em dia, nem uma falha na Binance, BitMEX ou Kraken — mesmo acontecendo com muita frequência. Não passa uma semana sem haver uma grande falha em uma corretora cripto.

Então, o que dez anos de testes em plataformas de negociação regulamentadas podem ensinar corretoras cripto sobre criar com resiliência?

Para começar, esses não são eventos “cisne negro”. O estatístico Nassim Taleb, que popularizou o conceito “cisne negro” em relação ao impacto de eventos improváveis e externos, afirmou, em março, que o coronavírus não se encaixa na definição.

A pandemia, contou Taleb à Bloomberg, é um “cisne branco”: a ameaça do vírus foi prevista em seu livro de 2007. A COVID-19 abalou mercados, mas empresas que se prepararam, não apenas para resiliência, mas para testes desses planos, conseguiram lidar melhor com o impacto.

Conforme a crise aumenta o foco da indústria em impulsionar resiliência, existem cinco princípios fundamentais a se considerar quando avaliar essas estratégias a fim de assegurar que são robustas o bastante para fornecer resiliência operacional durante o próximo evento inesperado e disruptivo.

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Avaliar essas estratégias para assegurar sua robustez é necessário para fornecer resiliência operacional antes do próximo acontecimento inesperado (Imagem: Unsplash/@lucabravo)

1. Falhas em corretoras são inevitáveis

Para criar plataformas resilientes, é preciso considerar a hipótese de que as coisas darão muito errado, uma perspectiva que permite a apresentação de camas de proteção adicionais na tecnologia automatizada.

Assim como o cisne branco da COVID-19, a melhor forma de minimizar o impacto é esperar pelo pior e agir de acordo. Não é o bastante testar um sistema tecnológico para validar o que funciona nos acordos de nível de serviço (ANS) ou indicadores-chave de desempenho (KPIs).

Sistemas devem ser utilizados ao máximo para avaliar como seria seu verdadeiro colapso e sobre como o sistema reage quando — e não “se” — uma grande disrupção acontecer. Geralmente, pedem que evitem contextos “irreais” ao realizar testes.

Por exemplo, há alguns meses, a Exactpro teve de limitar um teste de carregamento para duplicar a máxima anteriormente analisada na produção — uma abordagem insuficiente por conta das recentes altas nos volumes de negociação causadas pela volatilidade de mercado relacionada à pandemia.

Essa lição é, aparentemente, uma a ser aprendida pelas corretoras cripto, já que algumas delas passaram por falhas.

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É preciso transparência no fornecimento de informações para quando houver uma falha, a equipe poder apresentar uma resposta adequada à situação (Imagem: Pixabay/carlosalbertoteixeira)

2. Criar para a observabilidade

Apesar de existirem diversos fatores contribuintes para qualquer grande falha, existe um elemento presente em grande parte do tempo: monitoramento inexistente, inadequado ou falho.

Quando as condições são afetadas e existe pouco tempo para entender o que acontece, é fácil responder de forma irresponsável, o que só piora o problema. Quando se fala em impulsionar a resiliência da tecnologia automatizada, informação sobre os próprios sistemas é essencial.

Testes aleatórios em sistemas distribuídos resultam na exploração de como inúmeros abalos refletem nos sistemas de monitoramento da tecnologia e se os dados são transparentes o suficiente para determinar uma resposta adequada.

3. Honestidade e lealdade importam

Teste de software fornece informações essenciais sobre a qualidade da plataforma e deve ser confiável pois, sem acesso a dados reais, não podemos aprender com as falhas. Esconder a verdade amplifica o impacto negativo de problemas e erros humanos.

Apesar de ser tentador confortar acionistas ao reclassificar estatísticas falhas para fornecer uma visão mais clara da capacidade de lançamento de um sistema, essa abordagem raramente resulta em plataformas resilientes.

Até problemas rejeitados são úteis porque fornecem imunidade significativa a ameaças reais ao sistema sendo testado.

É preciso focar no que precisa ser melhorado no sistema para certificar a resiliência e alta disponibilidade da plataforma (Imagem: Brave New Coin)

4. Busque por substancialidade

Para criar softwares resilientes, é importante avaliar essência sobre forma, pensando mais em como certificar a qualidade de um sistema em vez de como será na prática. Porém, frequentemente, pessoas tendem a “melhorar” relatórios para fazer com que as coisas pareçam menos assustadoras.

Por exemplo, em transformações ágeis, algumas empresas interpretam “agilidade” como colocalização em vez de colaboração ou, no teste para cumprimento à lei, listam alguns conjuntos de requisitos em vez de explorarem amplamente o sistema com foco no que precisa ser melhorado para certificar a resiliência e alta disponibilidade da plataforma.

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5. Planejamento de agilidade

Empresas entendem que se beneficiam quando conseguem se adaptar rapidamente à mudança, principalmente durante uma crise. Pesquisas comprovam que feedback mais rápidos contribuem para um software melhor.

Embora seja possível coletar informações sobre problemas de software diretamente de usuários finais em algumas indústrias, tanto as infraestruturas de mercado tradicional e de cripto não podem aplicar essa abordagem por conta da dependência e dos requisitos de qualidade, bem como restrições regulatórias.

Plataforma e ferramentas precisam ser desenvolvidas simultaneamente para que entenda como irão funcionar em épocas de colapso (Imagem: Freepik)

A complexidade de testes faz com que plataformas financeiras compitam entre si, ou seja, tanto a plataforma como as ferramentas de teste precisam ser desenvolvidas simultaneamente. Testes iniciais certificam que informações relevantes estejam disponíveis quando necessário.

Em vez de obter informações durante uma crise, é melhor realizar uma profunda análise das funções de sistemas em períodos mais calmos e, assim, aplicar essas percepções durante épocas de volatilidade.

Embora corretoras e plataformas de compensação testadas pela Exactpro estavam preparadas com “circuit breakers” que funcionavam corretamente e a capacidade de sustentar um carregamento prolongado antes do surgimento da COVID-19, muitos sistemas não se beneficiaram dos testes independentes para certificar níveis de resiliência que possam lidar com a próxima crise.

Conforme mais empresas de negociação e cripto entram para o mercado de capital global, é extremamente importante que usem aprendizados obtidos pela experiência de corretoras tradicionais regulamentadas: tanto os sucessos como os erros são lições valiosas a serem aprendidas por suas contrapartes digitais.

Apenas planejar para colapsos não é suficiente — esses planos e a tecnologia utilizada como alicerce também devem ser testados para certificar operações resilientes e contínuas durante eventos inesperados.