Como líderes autoritários e líderes empáticos afetam suas equipes (e quem vence, no final)
A trajetória profissional de muitos de nós é marcada por uma série de líderes: alguns inspiradores, outros desafiadores. Em minha jornada, cruzei caminho com aproximadamente uma dezena de gestores diretos. Alguns foram fundamentais no meu crescimento profissional e pessoal, enquanto outros me fizeram derramar algumas lágrimas.
Meu primeiro gestor a deixar uma impressão positiva tinha o hábito de dizer “Vá em frente!” para qualquer uma das minhas sugestões. Na época, eu era apenas uma estagiária e, como todo jovem de 18 anos, acreditava piamente na genialidade das minhas ideias. Sob a luz do encorajamento daquele chefe, sentia-me valorizada e confiante.
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Mais tarde, percebi por conta própria que algumas das minhas sugestões eram um tanto quanto incoerentes. Foi ali que comecei a aprender a discernir o que, do campo da mente, era digno de ser transformado em ações e o que deveria ser deixado no campo das ideias – uma habilidade que se aprimorou ao longo do tempo.
Por outro lado, alguns gestores rejeitavam veementemente qualquer ideia proposta. Não importava o quanto nos esforçássemos, o trabalho entregue parecia sempre insatisfatório aos olhos deles. Cheguei a ter meu trabalho desqualificado, mesmo quando os indicadores estavam alinhados ou superavam os de outras áreas. Um desses chefes chegou a dizer que falar comigo era “como falar com uma porta”. Anos mais tarde, compreendi a gravidade do assédio moral.
Líderes autoritários X líderes empáticos: Alguns números de cada um
A importância dos líderes em nossa carreira é indiscutível. Os bons nos incentivam a desenvolver e aperfeiçoar habilidades, ensinam valores fundamentais como justiça no trabalho e nos impulsionam a dar o nosso melhor. No final das contas, eles apontam quando estamos prontos para uma promoção, um aumento salarial ou para assumir um novo projeto. Por outro lado, estudos demonstram que os gestores ruins nos fazem considerar seriamente pedir demissão.
Aqui na Think Work, nossas pesquisas têm mapeado o impacto dos diferentes estilos de liderança não apenas nos aspectos profissionais, mas também na produtividade, felicidade e até mesmo na esfera familiar dos funcionários, especialmente daqueles com filhos.
Quase 60% dos profissionais que têm um chefe autoritário, por exemplo, afirmam que o nível de estresse gerado no emprego é tão excessivo que chega a prejudicar a saúde. Da mesma forma, mais da metade dos funcionários com líderes excessivamente exigentes relatam situações semelhantes.
Além disso, gestores autoritários, cobradores e burocráticos são apontados como os que mais demonstram menosprezo e questionamentos contra pessoas que têm filhos. Sete em cada dez profissionais desse grupo relatam já terem mentido para seus gestores para conseguir conciliar trabalho e vida pessoal.
De um lado, líderes autoritários podem levar cerca de 30% dos funcionários a procurar um novo emprego. Por outro lado, 40% dos profissionais com gestores desenvolvedores e empáticos planejam se aposentar na atual empresa. Os chefes com estilo mais liberal são capazes de estimular suas equipes, fazendo com que quase 40% dos participantes que trabalham com esse tipo de liderança reconheçam que o nível de estresse no serviço os estimula a realizar suas tarefas.
O impacto da liderança vai muito além dos muros da empresa. É inegável que ela é uma peça fundamental para garantir coesão, engajamento, produtividade e saúde da equipe. E os dados reforçam que alguns líderes são mais bem-sucedidos nesta missão do que outros.
Contudo, vale reforçar que ninguém se encaixa exclusivamente em um ou outro perfil; há uma mistura de características. Além disso, certos traços podem se manifestar de acordo com o ambiente. Uma cultura corporativa que estimula a competitividade, por exemplo, pode propiciar o surgimento de gestores mais autoritários. Situações de estresse, exaustão e pressão podem levar qualquer indivíduo, inclusive os líderes, a sucumbir à falta de gentileza.
Liderança humanizada: Um estilo de gestão ainda em desenvolvimento
Assim como a liderança influencia temas além da vida profissional, ser líder também é mais do que um simples cargo. Liderar é uma tarefa complexa. Requer habilidades técnicas e comportamentais que precisam ser orquestradas conforme o ritmo da música e a desenvoltura dos dançarinos.
No fim, liderar exige um delicado equilíbrio entre as habilidades e os valores do líder e a forma como são percebidos pelo time. Mais do que isso, para a dança funcionar, é preciso haver compatibilidade entre líder e liderados. Um chefe considerado ruim por alguns pode ser admirado por outros.
Mesmo hoje, quando tanto se fala em “liderança humanizada”, ainda nos falta compreender o verdadeiro significado de colocar o humano no centro da discussão. A base é conhecer como as relações são construídas e arruinadas. E ter consciência de que pessoas são feitas de emoções, logo reagem às situações conforme suas vivências e aprendizados. Isso vale tanto para o chefe quanto para os membros da equipe.
Somente tendo em mente essas complexidades é que o RH vai conseguir criar programas efetivos de desenvolvimento de líderes. É um desafio constante, mas a compreensão e a consciência desse processo podem ser o caminho para uma liderança mais eficaz e satisfatória para todos os envolvidos.