Como greve no setor automobilístico dos EUA deixa Elon Musk sorrindo de ponta a ponta
Esta segunda-feira (18) marca o quarto dia seguido da greve convocada pela United Auto Workers (UAW), organização sindical que representa mais de 140 mil trabalhadores do setor automobilístico nos Estados Unidos.
É a primeira vez que uma greve consegue paralisar, simultaneamente, a produção de Ford (F), General Motors (GM) e Stellantis (STLA).
Até aqui, a paralisação dos pátios de Ford, GM e Stellantis não causaram um impacto significativo nos papéis das companhias, que caíram entre 1,0% e 2,5% desde a quinta-feira passada, quando a UAW anunciou a greve.
Porém, a ansiedade dos mercados está aumentando à medida que os dias passam e a perspectiva de um bom acordo, para as companhias, torna-se cada vez mais improvável.
Em nota, o analista do Citigroup Itay Michaeli estima que uma greve prolongada na planta de Wenzville (Missouri) da GM pode retirar US$ 140 milhões do lucro operacional da montadora. Michaeli pontua que a Ford estaria sujeita a um efeito parecido em sua planta no estado de Michigan.
Se o prolongamento da paralisação é uma má notícia para as três grandes montadoras de Detroit, a concordância com os atuais termos da UAW também não é o cenário ideal, dizem analistas.
Segundo o JP Morgan & Chase, o custo adicional com encargos trabalhistas contidos no acordo poderiam impactar de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões o EBIT das companhias.
Nesse contexto, cresce as chances de que as empresas façam repasses nos preços finais para os consumidores.
Musk ganha vantagem competitiva
Diante do cenário turbulento que se desenha para as três principais montadoras de Detroit, é a montadora do Texas que pode despontar como vencedora: a Tesla (TSLA), de Elon Musk.
Segundo analistas, a montadora de veículos mais valiosa do mundo ganha uma vantagem competitiva, que é a ausência de sindicalização dos trabalhadores.
Conhecido por sua visão otimista sobre a montadora de Elon Musk, o analista Dan Ives alega que o novo acordo com a UAW neutralizaria a vantagem dos preços subsidiados dos veículos elétricos produzidos por GM, Ford e Stellantis.
Isso poderia deslocar o interesse do consumidor para modelos de entrada da própria Tesla, como o Model 3.
Empresa | Ticker (NYSE) | Ramo | Retorno no acumulado do ano (%) |
---|---|---|---|
Stellantis | STLA | Tradicional | 29,8% |
GM | GM | Tradicional | -1,4% |
Ford | F | Tradicional | 5,65% |
Tesla | TSLA | Elétrico | 145% |
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Greve nas Big Three de Detroit: O que quer a UAW?
A greve foi anunciada última quinta-feira (14) pelo vencimento dos contratos existentes, levando os trabalhadores a exigir um reajuste de 40% nos salários na renovação dos contratos, além de outras demandas, como a diminuição da jornada.
O sindicato justifica suas demandas pontuando reajustes salariais concedidos aos CEOs das companhias em questão. O caso que vem recebendo mais crítica é o do presidente da Ford, Jim Farley, que recebeu compensações que superam os US$ 20 milhões.
Até o momento, a proposta defendida pelas montadoras é de um aumento de 20% para os salários, o que está sendo rejeitado pelas lideranças sindicais.
GM, Ford e Stellantis argumentam que as demanda do sindicato são onerosas, em um tempo em que as companhias estão gastando bilhões para substituir a produção de veículos à combustão por veículos elétricos.
No caso da Ford, as despesas para 2023 devem girar em torno de US$ 4.5 bilhões, colocando em xeque a perspectiva de lucro para o ano. A empresa anunciou o layoff de 600 funcionários em consequência da paralisação.
À CBS, Mary Barra, CEO da General Motors, diz que é preciso garantir a preservação da GM “pelos próximos 115 anos [em referência à fundação da montadora]”, adicionando que a companhia continua trabalhando para resolver as diferenças.
Fontes próximas da Stellantis disseram ao canal americano CNBC que um acordo nos termos exigidos pela UAW causaria o fechamento de 18 plantas da montadora nos Estados Unidos, afetando milhares de empregos existentes.
Ainda segundo a matéria da CNBC, caso se confirme, o acordo abriria a oportunidade para que a Stellantis colocasse em prática um plano de reformulação da produção de peças automotivas nos EUA, através de galpões descentralizados.