Coluna Robert Lawrence Kuhn

Como funciona o setor privado e o empreendedorismo na China

20 nov 2023, 13:41 - atualizado em 20 nov 2023, 13:41
china empresas
As empresas privadas na China somam mais de 50 milhões: a grande maioria é pequena ou média e quase todas sentiram o impacto da pandemia. (Foto: glaborde7/ Pixabay)

O setor privado na China enfrenta desafios e sente incertezas, mesmo após as palavras fortes de lideranças do Partido e as políticas específicas de apoio do governo chinês. Isso se refere apenas às empresas domésticas – as oportunidades e percepções de corporações estrangeiras que fazem negócios no país asiático serão tratadas na próxima semana.

As empresas privadas chinesas somam mais de 50 milhões. A grande maioria é pequena ou média e quase todas sentiram o impacto da pandemia. Nesse período, algumas das maiores empresas privadas – especialmente de e-commerce, incorporadoras imobiliárias e de aulas particulares – também foram afetadas por campanhas regulatórias.

A estimativa é de que a economia privada da China é responsável por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, mais de 70% dos avanços tecnológicos e mais de 80% da força de trabalho urbana. De acordo com o Instituto Peterson de Economia Internacional, a participação do setor privado na China, medida por capitalização de mercado, caiu abaixo de 40% no primeiro semestre de 2023, pela primeira vez desde o final de 2019.

Em contrapartida, a participação do setor privado no PIB chinês cresceu de 8% ao final de 2010 até o pico de 55% em meados de 2021. O economista Nicholas Lardy descobriu que a parcela do investimento anual que vai para as empresas do setor privado da China atingiu o pico em 2015.

Desde então, a participação das empresas estatais (SOEs, na sigla em inglês) aumentou acentuadamente, ano após ano. Ficou então a sensação de que as SOEs possuem vantagens injustas, já que as políticas do governo parecem favorecer as empresas públicas ao mesmo tempo em que submetem os negócios privados a escrutínio e restrições.

Estímulos privados na China

Porém, recentemente, autoridades chinesas fizeram promessas de apoio a empreendedores, reconhecendo a cautela e a preocupação do setor privado, que é essencial para gerar emprego e renda. Em julho, o Conselho de Estado da China anunciou sem rodeios a “necessidade urgente” de “impulsionar a confiança da economia privada”.

Em uma mensagem ao setor privado da China, o governo anunciou um plano de 31 pontos para apoiar o setor privado, proporcionando um ambiente favorável para o empreendedorismo, que Pequim vê agora como essencial para acelerar o crescimento econômico, criar emprego e promover a inovação tecnológica, além de mitigar os riscos na recuperação pós-pandemia.

As medidas incluem:

  • remoção de barreiras à entrada no mercado para empresas privadas (através de listas negativas);
  • abolir políticas que impedem a unificação do mercado e a justa concorrência, incluindo protecionismo local;
  • estabelecer um ambiente jurídico que proporciona igualdade de tratamento aos empresários privados e protege seus interesses e direitos legítimos;
  • melhorar e implementar incentivos fiscais e políticas de redução de impostos;
  • ouvir reclamações;
  • elevar o estatuto de empresários privados e convidando-os a aderir aos órgãos legislativos ou consultivos do país em diferentes níveis para desempenhar um papel maior nas políticas e atividades econômicas.

Palavras x ações

Os empresários e empreendedores sentem-se encorajados, mas não estão convencidos. De acordo com relatos na imprensa ocidental, enquanto o setor privado segue cético à espera de medidas específicas, alguns duvidam que o governo chinês mudou a visão profunda sobre o papel relativo das empresas do setor privado.

Contrariando diretamente o ceticismo, o primeiro-ministro Li Qiang, segundo líder da China, concentrou suas ações no setor privado, visitando empresas e ouvindo sugestões de empresários e economistas de vários segmentos. Li leva esses encontros a sério.

Já o presidente da China, Xi Jinping, enfatiza que as empresas privadas criam riqueza e aumentam o “bolo”, ajudando também a distribuir renda, dividindo “as fatias” de forma justa e colaborando para os objetivos de “prosperidade comum”.

Para enfatizar seu compromisso com os negócios privados, Xi visitou a cidade de Yiwu, na província de Zhejiang, onde está localizado o maior mercado atacadista do mundo para pequenos produtos manufaturados. O local é símbolo do empreendedorismo com cerca de 80 mil estandes, oferecendo mais de 2 milhões de produtos diferentes.

No entanto, não se pode negar que o ceticismo ainda prevalece. Como mais de um empresário chinês disse – mantendo o anonimato: “Eu aprecio as palavras das lideranças, mas só acreditarei nas ações do governo”.

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