Coluna do Bankly

Como funciona o Embedded Finance na prática – Parte 3: meios de pagamento

03 abr 2023, 9:30 - atualizado em 03 abr 2023, 9:27
Embedded Finance é a possibilidade de acoplar serviços financeiros a plataformas digitais. A terceira parte da série fala do tipo de finança acoplada que mais cresce (Imagem: Freepik)

Por Marilyn Hahn*

A Coluna do Bankly traz neste início de ano uma série especial sobre os diversos modelos de Embedded Finance. O primeiro artigo da série trouxe um estudo realizado pela Deloitte, lançado no fim de 2022, com previsões para setores como varejo e telecomunicações, que podem capturar mais de R$ 24 bilhões por ano em receitas no período de cinco anos, se acoplarem serviços financeiros às suas plataformas.

no segundo, falou-se sobre o embedded lending – ou crédito acoplado, que prevê a oferta variada por meio de plataformas de produtos não necessariamente financeiros. Para fechar a série com chave de ouro, a coluna deste mês trata do tipo de finança acoplada que mais cresce: meios de pagamento.

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O que são embedded payments?

O termo refere-se à integração de pagamentos digitais a plataformas e aplicativos, como carteiras (wallets)digitais, Pix etc. Esses métodos tornam-se cada vez mais populares porque fornecem experiência mais integrada ao usuário, que pode concluir transações sem sair da plataforma ou do aplicativo.

Os pagamentos acoplados também proporcionam benefícios para comerciantes e empresas. Ao integrar o processo diretamente à plataforma ou app, podem melhorar a experiência geral do cliente, aumentar as taxas de conversão e reduzir os custos de transação.

Isso ocorre porque não há necessidade de pagar por um portal (gateway) de terceiros. Assim, o procedimento é simplificado e se torna mais rápido e eficiente.

Em 2021, os consumidores e as empresas dos EUA movimentaram US$ 2,6 trilhões por meio de transações financeiras acopladas. Porém, quando os consumidores apertam “confirmar” em um aplicativo de carona, geralmente estão muito ocupados verificando a estrada à frente para considerar as acrobacias técnicas em um piscar de olhos. Quando eles clicam em “pague agora” no carrinho de compras on-line, raramente pensam em todo o fluxo e nos processos da engenharia acontecendo para garantir a praticidade e rapidez da transação.

Segundo números levantados pelo Juniper Research, o mercado deve alcançar US$ 57 bilhões em receita até 2027. O valor representa um crescimento previsto de 84% em meio ao entusiasmo dos consumidores por métodos de pagamentos alternativos.

Outra descoberta importante do relatório é de que, no mesmo período, 35% do faturamento dos embedded payments devem vir do segmento B2B. Ou seja, empresas que vendem produtos ou serviços para outras empresas.

Assim, os números reforçam o quanto o consumidor está cada vez mais no centro e com o poder de decisão. Por isso, oferecer uma experiência completa, fluida e sem fricção por meio desse método pode ser uma estratégia para as companhias fidelizarem seus clientes.

Quebrando barreiras

O conceito de embedded payments já é uma realidade e faz parte da nova onda de inovação do setor de meios de pagamento. Além de otimizar o processo e ser um aliado para as empresas melhorarem a experiência oferecida ao usuário, os pagamentos acoplados também contribuem para a digitalização do dinheiro e para uma economia cada vez mais cashless.

Aliás, isso o que se tem observado mundialmente. A escalabilidade do embedded payment também é um diferencial, já que as empresas não precisam utilizar terceiros para a mediação do processo de pagamento. Agora, elas podem muito mais controle de toda a gestão financeira, além da redução dos custos operacionais.

Portanto, são muitas as possibilidades de aplicação, desde compras on-line até o pagamento em aquisições presenciais. Confira, a seguir, alguns casos práticos.

Embedded payments na prática

A Starbucks é um case de sucesso no que se refere aos pagamentos acoplados. A empresa criou um programa que premia seus clientes com “estrelas” que podem ser trocadas por vantagens. Entre eles, café grátis, itens de panificação e mercadorias de marca.

Não à toa, a empresa fechou o ano de 2021 com quase 25 milhões de membros. O Starbucks Rewards agora representa 53% dos gastos nas lojas, o que significa que mais da metade das vendas da são geradas diretamente de clientes no programa de recompensas.

A Starbucks começou a oferecer pagamentos móveis no aplicativo em 2011. A partir daí, incluiu o lançamento de pré-encomendas móveis em 2014 e, depois, de retirada na calçada em 2020.

Assim, a cada US$ 1 gasto por estrela surge a recompensa para clientes pré-pagos. Já duas estrelas por US$ 1 gasto permite às pessoas que pré-carregam fundos em cartões-presente ou no aplicativo. Tais incentivos tão simples aumentaram os gastos por consumidor, melhoraram as taxas de retenção e o engajamento, além da eficiência do marketing.

Os clientes da Starbucks agora têm um hub central de informações sobre cardápios, localização das lojas e horário de funcionamento. Tais informações também cobrem todas as funções principais que qualquer cliente precisaria em qualquer lugar, incluindo navegação no menu, pedidos, pagamentos, retirada e recompensas personalizadas.

Outro exemplo que parece trivial, mas não pode ser esquecido, é o da Uber. A forma como o aplicativo chegou ao mercado foi totalmente disruptiva para o setor de transporte.

Hoje, os usuários podem concluir uma transação de pagamento no mesmo app e seus detalhes são recuperados para processar a transação em questão de segundos. A indústria de táxis dependia em grande parte do dinheiro em espécie para o pagamento das viagens, muito depois de o dinheiro ter saído de moda. A Uber poderia ter digitalizado o processo de pagamento para ganhar vantagem sobre os táxis tradicionais, mas foi além. Isso revolucionou completamente a área e trouxe simplicidade aos serviços de carona, que foram amplamente adotados pelos concorrentes.

Embedded Finance funciona

De todos os desdobramentos de embedded finance abordados nesta série de artigos, os pagamentos acoplados são os que já estão mais evoluídos no mercado. Portanto, contam com inúmeras aplicações práticas.

Já em seguros, créditos ou pagamentos, fica claro que o embedded finance é algo que as empresas precisam considerar para aumentar sua proposta de valor, fidelizar a base atual de clientes e seguir crescendo e escalando suas soluções. Ainda assim, o mercado evolui tanto e tão rápido que daqui a algum tempo surgirão outros novos desdobramentos de finanças embutidas e seus impactos na economia.

*Marilyn Hahn é COO e cofundadora do Bankly. O Bankly é uma plataforma de Banking as a Service com sua própria licença bancária, com o objetivo de descentralizar a oferta de serviços financeiros permitindo que cada empresa se torne uma fintech e possa criar e escalonar suas próprias soluções financeiras.