Como financiar o desenvolvimento de protocolos do setor DeFi?
Houve um momento em que a comunidade cripto acreditou que poderia lançar protocolos de finanças descentralizadas (DeFi) sem apoio financeiro.
Essa onda de “lançamentos imparcias” (do inglês “fair launches”) deu à comunidade inúmeros projetos interessantes, como Yearn, SushiSwap e Empty Set Dollar. Porém, recentemente, a comunidade também lidou com os desafios de lançar um protocolo sem um financiamento adequado.
Esta semana, Andre Cronje, fundador do Yearn (YFI), escreveu um excelente artigo sobre os obstáculos de desenvolvimento no setor DeFi, onde compartilhou suas frustrações sobre não ter uma exposição vantajosa ao sucesso do projeto, e sim uma exposição negativa.
O foco central da publicação foi a compreensão de que contribuidores do Yearn não são bem-recompensados por suas iniciativas e detentores de token são muito beneficiados.
Isso já era de se esperar.
Em outubro, Ryan Watkins, da Messari, enviou uma proposta à comunidade Yearn para interromper dividendos e realizar recompras de YFI em vez de recompensar seus principais contribuidores.
Ficou claro que, na época, a decisão inicial da comunidade em limitar o fornecimento de YFI em 30 mil unidades e permanentemente pôr um fim à inflação, sem criar um mecanismo adequado de financiamento para seus contribuidores, seria algo problemático.
Porém, uma parte da comunidade quis brincar de investidores em ações e acharam que a remoção dos dividendos, a fim de garantir que desenvolvedores do Yearn fossem adequadamente recompensados, seria algo catastrófico para o token.
E olha que fundos de capital de risco deveriam ser a parte insustentável da história.
Há alguns dias, Watkins e alguns membros da equipe do Yearn compartilharam uma proposta revisada de recompra intitulada “Recompra e Desenvolvimento”, propondo, de forma similar, uma recompra e distribuição de YFIs aos desenvolvedores — desta vez, com mais detalhes e maior interesse coletivo na proposta, devido ao artigo mais recente de Andre.
Em menos de 24 horas após a discordância entre detentores do token e desenvolvedores principais ficou evidente a todos: surgiram propostas ainda mais agressivas para solucionar esse problema, sugerindo a emissão de novos YFI.
Então, paramos para pensar: como incentivar adequadamente os contribuidores principais desses projetos fundamentais para que estes trabalhem a longo prazo de uma forma que seja autossustentável?
Inflação
Inflação é a forma mais fácil de financiar o desenvolvimento. Força cada detentor de token a pagar pelo desenvolvimento por meio da perda de uma governança proporcional do protocolo.
Embora muitos da comunidade zombem da inflação por conta das origens intelectuais antikeynesianas à indústria, essa mentalidade faz pouco sentido no contexto dos protocolos DeFi.
Tokens DeFi não são dinheiro, então para que tentar limitar a inflação a favor de um meme sobre escassez?
Se a sustentabilidade de um protocolo depende da inflação, detentores de tokens a longo prazo não devem ter ressalvas sobre utilizar a inflação para financiar o futuro.
Existe uma opinião razoável de que apresentar uma inflação subjetiva danifica a previsibilidade de um protocolo — algo muito importante se um protocolo visa manter sua propriedade como uma infraestrutura pública, confiável e de necessidade mínima de confiança.
Porém, o que mais importa é o consenso social sobre qual seria o melhor caminho, e não memes que fazem o preço subir.
Projetos de lançamento imparcial, como Empty Set Dollar e SushiSwap, são grandes exemplos dessa estratégia, pois pagam contribuidores e financiam novas iniciativas com tokens emitidos por meio da inflação.
Pragmatismo > Dogmatismo.
Quando os fatos mudam, eu mudo o meu pensamento. O que o senhor faz? — John Mayard Keynes
Tesouraria
Caso um protocolo não tenha uma inflação, a segunda forma mais fácil de financiar o desenvolvimento é por meio de uma tesouraria.
Em projetos de lançamento imparcial, essa não foi sempre uma opção, pois não têm orçamentos de guerra, como ofertas de tokens ou arrecadações de capital. Porém, alguns têm tesourarias retidas pela comunidade que controla uma parte do fornecimento do token.
PowerPool é um dos melhores exemplos de uma comunidade que usa sua tesouraria para incentivar, de forma apropriada, seus contribuidores principais após o ocorrido. No lançamento, a equipe do PowerPool alocou, para si, 0% do fornecimento.
Porém, após cumprir com seu roteiro de desenvolvimento nos meses seguintes, a comunidade quis premiar a equipe com 5% do fornecimento total do token CVP, com um período de bloqueio de 12 meses e um cronograma de distribuição de 18 meses como um incentivo a longo prazo pelo desenvolvimento do projeto.
Uma abordagem alternativa, caso não haja uma tesouraria retida pela comunidade com uma porção pré-minerada do fornecimento do token, seria usar lucros do protocolo para criar uma tesouraria para recompensar os contribuidores.
Essa foi a filosofia por trás da recente proposta para o Yearn, que visa recomprar YFI para retribuí-los aos desenvolvedores principais e financiar novas empreitadas.
Esse mecanismo é uma forma inteligente de obter os benefícios da inflação sem apresentar, de fato, a inflação ao protocolo. Apresenta um meio adequado entre o desenvolvimento de financiamento e a garantia de um fornecimento limitado de token.
Equidade > Benefício.
Alinhamento de incentivos
Financiar contribuidores atuais não é o suficiente. Protocolos também precisam ser capazes de financiar novos contribuidores.
Sem inflação ou gastos de tesouraria, protocolos não serão capazes de atrair novos talentos no futuro e atuais detentores de tokens ficarão acomodados.
Uma parte essencial de um financiamento contínuo na forma de recompensas com tokens é a que atende o propósito duplo de também reciclar o capital de detentores antigos e passivos do token para contribuidores ativos.
Esse é um mecanismo fundamental para garantir que protocolos continuem operantes conforme amadurecem. É a diferença entre um protocolo vivo e um protocolo morto.
Protocolos vivos > protocolos mortos.
Lançamentos imparciais
Lançamentos imparciais não são perfeitos, mas não devem ser desconsiderados. Se protocolos irão se transformar em instituições governadas por comunidades, é importante que a governança seja distribuída da forma mais igualitária possível.
Uma maneira excelente de garantir isso é realizar distribuições iniciais de tokens da forma mais igualitária possível e lançamentos imparciais podem ser a melhor opção.
Dito isso, lançamentos imparciais precisam garantir que todos os stakeholders estejam satisfeitos em seus ecossistemas, e não apenas os detentores de token.
Não é sobre falar de investidores institucionais, e sim garantir o equilíbrio entre detentores de tokens e contribuidores.
Os principais desenvolvedores de um protocolo não devem colocar a si próprios em segundo plano — monetariamente falando — para satisfazer os desejos de seus investidores por protocolos populares.
Realidade > Narrativa.
Ou você usa sua tesouraria existente para financiar o desenvolvimento, ou recompra e distribui para financiar o desenvolvimento ou emite a moeda para financiar o desenvolvimento.
Mais do que apenas fazer memes, é fundamental que protocolos criem uma forma de se autofinanciar agora e no futuro.