Como eu sobrevivi aos mercados e o que eu aprendi, por Fernando Camargo, da Trópico
Por Fernando Camargo, gestor da Trópico Investimentos
Eu era muito mais preocupado com crises e correções de mercado do que sou hoje. Ao longo do tempo, percebi que minha preocupação poderia ser reduzida com algumas atitudes e mudanças de comportamento.
Claro que não sou arrogante ao ponto de achar que o que me ajudou, ajudará todo mundo, mas acho pertinente dividir alguns dos aprendizados que eu tive.
Ter caixa relevante no fundo foi um deles. Não temos visibilidade sobre quando as correções ocorrerão. Temos um sentimento, uma estimativa, bom senso. Mas não sabemos quando virá e nem quanto tempo durará. Ter caixa é o que garante que iremos aproveitar estes momentos.
E bons investimentos estão muito mais ligados ao preço que você paga do que quanto ele pode subir ou se valorizar no tempo. Desta forma, é factível pensar que parte relevante do nosso ganho advém de nos aproveitarmos de momentos de crise e assimetrias.
Então, o que concluí é que parte integrante do conceito de margem de segurança vem do fato de termos caixa relevante para nos aproveitarmos pesadamente quando o preço de um ativo torna-se potencialmente muito errado. Demorei anos para relacionar estas coisas e agir conforme.
Outro item foi não subestimar a incapacidade das pessoas de ler cenários, outras pessoas e situações. A leitura do mundo que nos rodeia deriva de experiência, cultura, observação e atitude. Muita coisa para se compilar.
Charlie Munger coloca este problema muito bem através da formatação e composição dos seus mapas mentais. Os mapas mentais são responsáveis pelo entendimento de como o mundo funciona e cada um tem o seu, derivado muito de experiências e emoções inclusive.
E existem pessoas que simplesmente não possuem as ferramentas necessárias para entender a dinâmica dos relacionamentos e decisões. Para estas pessoas, o mundo funciona quase como uma roleta e de fato, dão um peso para sorte maior do que o razoável.
Identificar este tipo de análise, bloquear influências que dificultam o entendimento de um investimento ou de como um negócio funciona, e os danos que podem ser causados pelas pessoas envolvidas, é um trabalho exaustivo no processo de análise. Ruídos.
Desta forma, faz parte do processo de investimento e é responsabilidade do gestor / investidor, rodear-se de gente cada vez melhor e com habilidades, visões e experiências diferentes das suas para a montagem de cenários e mapas mentais. E cortar quem só bagunça o coreto.